segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Anúncio

A mensagem de hoje é também um anúncio, embora antecipado.
Como talvez tenham reparado, as crónicas dos últimos dias têm sido feitas a horas avançadas, justificadas por razões profissionais. Assim, acho mais razoável fazer hoje aquilo que tinha previsto para o próximo sábado, que é agradecer a vossa companhia e despedir-me temporariamente do blog. Não que me vá ausentar totalmente, mas passarei a uma frequência menor e sem dias previstos.
Daqui a uma semana já estarei em Portugal, portanto, até breve!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Adaptação

Julgo que há dois elementos muito importantes para uma condução sem percalços aqui. Uma é usar o carro para criar (e criar é a palavra) espaços. Vai-se fazendo "encosto de ombro" sem encostar realmente, empurra-se, força-se, espera-se que o condutor do carro ao lado seja menos teimoso que nós e está feito. A outra coisa é fazer tudo isto lentamente.
Como é evidente, um ritmo baixo tem algumas vantagens, entre elas o permitir uma adaptação de quem se encontra em redor. Quando as coisas são feitas bruscamente, é talvez uma questão de sorte não haver um acidente. Ao serem feitas muito devagar, torna-se uma questão de personalidade: "eu tenho menos medo de esmurrar o carro e sou mais insistente que tu!".

sábado, 13 de dezembro de 2008

Prazos

Mesmo quando alguém nos diz, com a maior das confianças, um prazo para algo estar pronto, há que desconfiar (para não dizer que não se deve acreditar).
Tomo como exemplo o cartão de débito da minha conta do banco. Abri-a há quase 2 meses, e na altura disseram-me que no máximo dos máximos em 3 semanas teria o cartão pronto. Prazo esse que foi protelado para "antes do Natal". E finalmente, hoje fiquei a saber simplesmente que ainda não está pronto, e não me foi dada nova previsão.
Sinceramente, antes prefiro assim, que pelo menos não há enganos: está pronto quando estiver. Não me resta muito mais senão resignar-me...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Dilúvios nocturnos

Tal como quando não temos muito para dizer, mas queremos fazer "sala", hoje vou falar do tempo. Porque quero manter, por enquanto, este ritmo diário de mensagens no blog, mas não tenho um tema mais interessante para desenvolver.
Regularmente, durante a noite, chove torrencialmente. Sei-o porque o barulho de chuva a bater nos vidros é muito característico. Mas quando digo torrencialmente, são verdadeiros dilúvios. Que foi o que aconteceu hoje. Mas a verdade é que, durante o dia, não é muito comum chover, pelo menos em tal quantidade.
Ou seja, e para finalizar esta mensagem tão desinteressante, amanhã-se espera-se bom tempo e 35º.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Rapidez

Um dia inteiro para fazer um download: foi esse o acontecimento do dia. Sendo verdade que era um grande ficheiro, tal lentidao é dificil de aguentar.
Mas a tecnologia nao tem estado a meu favor: computadores lentos e a encravar, internet que se arrasta, impressora que parece a mais lenta do mundo... Enfim, toda uma série de coisas que me consomem a paciencia.
Acho que quando chegar a Portugal, tudo me vai parecer hiper-rapido. E estou mesmo a precisar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Oficialmente mais gordo

Estou oficialmente mais gordo. Apercebi-me que tenho estado em negação, que me é permitida pela ausência duma balança em casa. No entanto, a chegada a Abidjan de alguém que me viu pela ultima vez ha 6 meses, dissipou qualquer duvida...
Agora tenho duas opções: conformar-me com a situação (presente e futura) ou trabalhar para abater. A escolha é para mim evidente, por isso convidem-me para tudo o que for actividade fisica enquanto estiver em Portugal.
Para piorar a situação, vou aterrar em casa numa época critica: rabanadas, a melhor mousse de chocolate do mundo, bacalhau cozido e os imensos jantares ja marcados... para mencionar apenas algumas das tentações. Ao que um homem chega...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Tabaski

Hoje também é feriado aqui. É o tabaski, festa do sacrifício, de que já falei aqui. E para que seja respeitada a tradição, os últimos dias e nomeadamente ontem, foram de rebuliço para comprar carneiros. Foi uma versão antecipada e diferente de fazer compras de Natal no último dia...
No caminho para o aeroporto, na zona de Port Bouët, encontra-se grande parte dos comerciantes de gado. E assim o comprovei ontem, quando na ida para Bassam fiquei preso num engarrafamento devido à multidão que por ali andava a comprar, vender, prender, e atravessar a estrada com carneiros. Comecei por ver uma gbaka com dois infelizes animais em pé, em cima do tejadilho. E daí para diante, não melhorou, para a minha sensibilidade moldada (também) pelos direitos dos animais.
Todos os anos, nesta manifestação, há mortos e feridos devido aos assaltos. Porque vem muita gente de muitos sítios, com muito dinheiro vivo no bolso, para comprar os carneiros. E, em tal multidão, misturam-se os ladrões, muitos dos quais armados. Por isso, também por lá andava muita polícia, com armas a tiracolo e lança-granadas de gás lacrimogéneo. Aproveitavam também para fazer de polícia de trânsito, porque no meio de tanta espera, muitos condutores seguiam em contra-mão.
O tabaski é um dos 5 pilares fundamentais da religião muçulmana, em que todos os que tiverem posses, devem sacrificar um carneiro e distribuir a sua carne pelos mais necessitados. Até aqui, tudo bem... mas escusavam de pôr os bichos em cima do tejadilho.

Alcatrão novo

A estrada para Bassam melhorou bastante! Hoje fui lá almoçar e tive essa agradável surpresa.
Na realidade, havia um troço da estrada na direcção Abidjan-Bassam que estava destruído, julgo que desde a (e devido à) guerra civil. Nessa zona, a circulação era feita em contra-mão, o que se tornava uma boa forma de congestionar o trânsito nos dois sentidos.
Mas finalmente, e contrariamente ao hábito do "deixar estar", neste caso foram feitas obras e aquele pedaço de estrada foi repavimentado! Acho que é a primeira vez que aqui vejo uma obra deste estilo aqui, e podem por isso imaginar a minha satisfação e surpresa quando me vi a rolar sobre alcatrão novo.
A verdade é que era uma obra que se impunha, e ainda bem que a completaram. Agora, ir a Bassam é muito mais rápido e cómodo. E a polícia sempre tem mais um pedaço de rua onde pode utilizar os seus radares.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Coberturas

Ao longo da estrada em direcção a Youpougon, encontram-se aquilo que parecem coberturas para os colchões das camas, presas a dois paus e insufladas pelo vento. As cores e os padrões são vários.
Durante algum tempo não percebi o que eram realmente aquelas coisas. Pensei que fossem mesmo coberturas de colchões que estavam a secar. Mas não deixava de ser esquisito, porque surgiam em locais onde não existem cursos de água onde pudessem ser lavados...
Finalmente, e porque perguntar costuma ser uma boa solução, lá me disseram que são coberturas mas para automóveis, que se encontram assim expostas para venda. Os proprietários estão normalmente próximos, numa qualquer zona protegida do sol.
Uma única vez vi uma venda a ser feita, e tenho a certeza que é um produto de baixa rotatividade porque durante muito tempo vejo as mesmas coberturas nos mesmo sítios. E não será por haver muito stock duma cor ou padrão. Por outro lado, não sei quanto custam ou qual é a margem para o vendedor, mas não é certamente um produto caro. Por isso me surpreende que possa ser um negócio, mas é. E sempre serve de decoração para as bermas da estrada.

Aculturação

Ir a um bar aqui faz-nos sentir enferrujados mas é muito giro. Recomendo.
É engraçado ver como temos ritmos diferentes. A música tem uma batida muito característica, o que conduz a movimentos muito característicos também. A determinada altura, damos por nós a tentar imitar mas a perceber que nos falta alguma coisa... ou pelo menos é essa a minha sensação.
Imagino que seja como com as línguas e os sons. Neste caso, há movimentos que nos parecem proibidos, não estamos habituados, parece que não os temos. E eu até acho que sou razoavelmente coordenado, mas há momentos em que me sento e observo.
Ora, se quando estiver em Portugal, tiver algumas manobras um bocado esquisitas aos nossos/vossos olhos, deve ser sinal de aculturação.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Monopólio

Já aqui tive oportunidade de escrever sobre as pinturas nos táxis, e sobretudo os escritos nos pára-choques traseiros. Mas só recentemente me apercebi do monopólio que ali existe!
A caligrafia é algo muito próprio, com características que até revelam traços de personalidade. Não sei quais serão os deste pintor, mas a verdade é que a maior parte daqueles pára-choques passaram pela mesma mão, porque a letra é a mesma. Parece que fica em Treichville...
Não deixa de ter piada: existem milhares e milhares de táxis, e escrever num pára-choques nem parece ser muito difícil, pelo que a concorrência deveria ser maior. Assim, fico curioso para saber qual é o segredo deste pintor, que parece atrair todos os que querem personalizar os carros. Um dia ainda lá vou.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Horários

Quase todos os dias, cedo pela manhã quando vou para o trabalho, passo por um sem-abrigo em movimento. Infelizmente, não é o único sem abrigo, mas é a parte do movimento que me leva a escrever.
Aparentemente, todos os dias ele percorre aquele caminho, no sentido II Plateaux-Marcory pela manhã, e vice-versa pela tarde. Sempre de frente para o movimento dos carros (e não há sinais que sugiram tal comportamento), lá anda de um lado para o outro.
Não sei para onde se dirige, não sei o que vai fazer, ou se respeita simplesmente um hábito. Mas a verdade é que não lhe deve ser indiferente estar num ou noutro lado, e por isso todos os dias segue o seu ritmo circadiano.
Acreditem ou não, sinto algum carinho por aquele sem-abrigo. Não o conheço, nunca falei com ele, não sei as razões da sua condição. Mas, sinceramente, acabo por respeitar o que ele faz. Pelo menos cumpre horários, que é mais do que muitas outras pessoas.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Transplante

Toda a gente me diz que em Portugal está muito frio. E eu acredito, não só porque ainda não me esqueci que isso é possível, mas também porque nos últimos dias tenho visto as notícias dos nevões.
Pois eu confesso que isto de estar sempre calor, até me confunde um bocado. Porque eu sei que o Natal está a chegar... mas não parece! Além de não ter o frio para confirmar a época, também não tenho as luzes na baixa nem a música dos Wham nos elevadores.
Por isso, aterrar em Portugal em plena quadra festiva será um verdadeiro transplante. Até vai ser giro, desde que me levem um casaco quente ao aeroporto...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

2128

Ao sair do trabalho, hoje, tinha um presente à minha espera. Num céu absolutamente limpo, a lua em quarto crescente encontrava-se acompanhada de dois planetas, Júpiter e Vénus. Ainda que distem milhões de quilómetros uns dos outros, hoje estavam na mesma tela, no mesmo plano. Uma questão de perspectiva, dirão os mais pessimistas. Ou a prova de que há aproximações impossíveis que acontecem, argumentarão os optimistas.
Eu não percebo praticamente nada de astronomia, e talvez seja essa ignorância que alimenta o meu fascínio. Nos arredores de Montpellier, em locais pouco iluminados, passava muito tempo a observar as estrelas, os planetas e até os satélites em trajectórias cruzadas em torno da Terra (perdoem-me o abuso de incluir satélites na astronomia). Na altura até aprendi a identificar algumas constelações. Hoje, esse fascínio voltou, e seria capaz de ficar a observar aquele espectáculo durante muito tempo.
Agora, só em 2052 se voltará a dar tal conjugação de astros. Esta é outra coisa a que sempre achei piada: quando acontece um fenómeno destes, e nos dizem que só daqui a dezenas de anos se repetirá, mesmo aquele que nunca olha para cima sai à rua para ver o que se passa. Temos sede de coisas únicas e temos, sobretudo, medo de as perder. Eu não sou diferente, apesar de olhar muito para cima e de apontar às estrelas sem que me tenham alguma vez aparecido cravos nas mãos. Mas a partir de agora vou tentar dar esta perspectiva a outras coisas: por exemplo, quando fizer uma viagem que será difícil de repetir, vou escrever no bilhete do avião "Nunca mais" (ou 2128, que o efeito será idêntico mas é mais fácil de imaginar). E ainda por cima, vou tirar fotografias!