quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Neve em Paris... hoje!

Previam neve em Paris anteontem; não nevou. Previam neve em Paris ontem; não nevou. Previam neve para Paris hoje; e está a nevar.
Normalmente, isto não me chamaria especial atenção, mas desta vez sim. É que ontem e anteontem eu não tinha um voo a sair de Paris para Portugal, e hoje tenho. Ou tinha. Ou já nem sei.
Estava inicialmente previsto às 7h20, pelo que às 6h cheguei ao aeroporto. Devido às condições metereológicas, foi atrasado para as 13h15. Depois para as 13h50. Depois para as 15h, que por enquanto se mantém mas nunca se sabe. E eu aqui, pois claro, desde há quase 8 horas.

Stress pré-viagem

A partida de Abidjan foi um stress. Tanta coisa para acabar, tanta coisa para deixar preparada, tornaram o último dia na Costa do Marfim num sprint em formato de maratona.
O que é preciso trazer, o que é preciso deixar, o que é preciso antecipar... Independentemente de até ter as coisas organizadas, há sempre uma série de outras às quais é preciso prestar atenção.
Finalmente, acho que ficou tudo pronto. Os próximos dias o confirmarão, espero.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Momentos de caos

Esta noite fui jantar ao Taverne Romaine. Cheguei e tudo estava calmo, pouca gente no restaurante. Mas de repente, tudo mudou.
É que num período de talvez 20 minutos, chegaram todos os libaneses de Abidjan, passe o exagero. Em todo o caso, muitos libaneses que se conhecem, porque a cada grupo que chegava, todos se cumprimentavam, levantavam-se, cadeiras a arrastar, o caos momentâneo. Depois, uns minutos de acalmia, mas só até nova abertura da porta.

Neve em Paris

Hoje nevou em Paris! E eu que gosto de frio, e de caminhar pelas ruas das cidades (programa que conto seguir na próxima quarta-feira), já estou a pensar no que vou vestir.
É que aqui em Abidjan não tenho um guarda-roupa preparado para o frio. E menos ainda para o muito frio! Tenho um único casaco mais adaptado, mas nada mais.
De qualquer forma, eu vou. E vou caminhar, nem que tenha de parar em cada café para beber um chá.

NÃO chamem a polícia!

Um jipe da polícia a entrar para uma zona de jardim, de noite, onde não existe nada além de erva e árvores: aparentemente, toda a gente sabe do que se trata, e agora eu também.
Na mais perfeita impunidade, e com a complacência (senão mesmo a protecção) dos superiores, os polícias roubam as pessoas. Leram bem: roubam as pessoas.
Funciona assim: apanham alguém na rua, normalmente africanos estrangeiros, e levam-no para um local escondido. Uma vez aí, roubam-lhe o dinheiro e tudo o que tenha algum valor. Depois, abandonam a pessoa noutro lado qualquer.
Mais ainda, os "campeões" deste método são os elementos da unidade de combate ao banditismo, ainda que não lhes seja exclusivo. E perante isto, havendo algum problema acho que o melhor é NÃO chamar a polícia.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Guarda-chuva vermelho

Um guarda-chuva serve para várias coisas. Por definição, serve para abrigar da chuva. Mas também serve para fazer os miúdos imaginar que são um comboio quando o raspam naqueles passeios de cimento aos quadradinhos. Ou para fazer barulho nas grades. Ou para chegar a objectos que se tenham escondido debaixo de móveis. Ou como defesa. Ou como guarda-sol.
E hoje aprendi que, se for vermelho, também serve para sinalizar obras na estrada.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Polícias vs. Vendedores de rua

A dada altura do almoço de hoje, em casa, na minha mesa com vista sobre a cidade, reparei numa multidão a correr. Homens com cintos na mão, mulheres com sacos de água na cabeça, rapazes com bisnagas de insecticida, outros com máquinas de calcular...
Estes são alguns dos exemplos dos vendedores de rua de Abidjan. Há muitos outros, mas o que têm em comum é que não são permitidos. E portanto, quando se vê um tal grupo a correr numa mesma direcção, é porque a polícia está no lado oposto. E estava.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Brincadeira

Esta noite está a trovejar. Daquelas trovoadas de vários pontos, mas tão longe que nem se ouvem os trovões.
Eu gosto dos clarões, e dos reflexos que criam nas nuvens. Parece um jogo de luzes, uma brincadeira de deuses, talvez.
Enquanto eles brincam, eu vou dormir no meu quarto sem cortinas. A luz não me incomoda, mas que continuem sem fazer barulho.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Fora de serviço

Um dia tinha de acontecer, e aconteceu hoje: os três elevadores fora de serviço, e toda a gente a subir e descer escadas.
E eu passei por muitas pessoas, porque o 14º andar ainda fica longe. Umas sentadas nos degraus, outras em pequenas pausas nos patamares, outras a fumar, muitas a sorrir da situação, outras tantas chateadas.
Eu não fiquei nem contente, nem triste, nem incomodado. Simplesmente subi, e depois desci. Mas preferia que amanhã os elevadores estivessem a funcionar.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Tempo a galope

Nem parece verdade, mas já estamos a 6 de Dezembro de 2009. Lembro-me como se fosse ontem da minha partida de Portugal, da minha chegada a Abidjan pela primeira vez, de ter começado este blog, das viagens, de tanta coisa...
Tem sido um período muito intenso, pessoal e profissionalmente, e o tempo parece galopar. E entretanto já aconteceu tanta coisa; já perdi casamentos, já perdi nascimentos, já perdi momentos; já ganhei cidades, já ganhei amigos, e ganhei outros momentos.
No fundo, cresci bastante, mudei um bocado. E o tempo continua a passar, e já lá vão mais de 400 mensagens no blog.

Autocarros

É assustador ver os autocarros circular aqui. Para mim, é como ver um acidente em eminência constante.
Ora têm os eixos desalinhados e por isso andam claramente enviesados; ora não têm vidros nas janelas e nas portas, e vêem-se braços e pernas a sair pelos espaços; ora têm pneus completamente carecas; ora têm as suspensões tão más que a cada curva que fazem, inclinam duma forma pouco razoável. E quando são daqueles autocarros mais compridos (com o fole a meio), a parte central vai quase a raspar o chão.
A lógica aplicada aos camiões de carga é também aplicada aos autocarros: enquanto conseguir andar, carrega-se mais um bocado. Mas pessoas não são bananas ou sacos de cimento, o que torna o caso bem diferente.

Azar

Como já aqui tive oportunidade de contar, os filmes que passam nos canais aos quais tenho acesso, são muito repetitivos.
Mas também tenho azar. Na semana passada um amigo emprestou-me um filme, que vi na sexta-feira à noite... E agora liguei a televisão e está a começar esse mesmo filme!!
Entre tantas opções, porque haviam de ter escolhido aquele? É verdade que o mesmo se aplica a mim, mas eu escolhi primeiro!

Espera

Hoje querem fazer-me passar fome. No total, até este preciso momento já esperei praticamente 3 horas, divididas pelo almoço e o jantar.
Ao meio-dia, peguei numa revista e no iPod e fui a um hotel aqui perto comer uma "club sandwich". Como estava em ritmo relaxado e distraído pela leitura, só passado cerca de 1h15 é que me apercebi que ainda não me tinham servido.
Agora à noite, encomendei uma pizza às 18h33, e entretanto pus-me a ver um jogo de futebol, que já acabou. Voltei a ligar e, convenientemente, disseram-me que já estava a caminho. E eu à espera...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Portugal-Costa do Marfim

Quis a sorte que Portugal ficasse no mesmo grupo que a Costa do Marfim, no Mundial de futebol de 2010. E é logo o primeiro jogo da selecção.
Recentemente, assisti ao Portugal-Bósnia com um grupo de bósnios, juntamente com mais 2 portugueses. No Portugal-Costa do Marfim vai ser mais desequilibrado...
Quero que Portugal ganhe e não me sinto dividido, mas ainda assim vai ser uma sensação engraçada porque tenho algum carinho pelos Elefantes. Se para mais conseguir assistir ao jogo, será certamente com o "adversário", o que será interessante porque eles vivem o futebol tão intensamente como nós.
Está marcado para 15 de Junho. Espero não me enganar na tshirt que vou vestir.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Desprevenido

Acabaram-se os livros. Já não tenho mais nenhum para ler. É como uma morte na praia, estando eu a poucos dias de voltar a Portugal para recarregar a biblioteca. Mas tenho uma desculpa: fui enganado.
O último livro em que peguei era dos grandes com folhas finas, e pensei que ia chegar até ao final desta etapa. Mas não prestei muita atenção ao facto de ser um documentário, baseado em informações recolhidas das mais diversas fontes.
E assim, a 110 páginas do fim, acabou... porque o resto são mapas, fotografias, bibliografia, enfim, todo o suporte da investigação para a escrita do livro. Apanhou-me desprevenido...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Integridade

Na passada sexta-feira foi o festa muçulmana do tabaski. Os muçulmanos que tenham possibilidades compram um carneiro para partilhar com família, amigos e vizinhos. Os que não tenham, compram outras carnes e fazem o mesmo.
Assim, no início da semana passada, o sr. Missiri (guarda do escritório) veio pedir-me emprestado dinheiro para poder preparar o festa, coisa que eu fiz.
Pois hoje, no momento em que lhe entreguei o envelope com o salário de Novembro, ele abriu-o diante de mim e eu pensei que ele ia contar o dinheiro (coisa que nunca faz, apesar de eu lhe dizer que é sempre melhor desconfiar). O que ele fez foi pegar no dinheiro que me devia e entregou-mo.
É verdade que a dívida existia. Mas também é verdade que ele podia esperar que lhe pedisse, como decerto muitos fariam. Além do mais, a dita dívida representava uma parte substancial do seu salários, mas ele nem hesitou.
Confesso que fiquei sensibilizado com um gesto tão genuíno, e a pensar que a integridade não tem idade, nem nacionalidade, nem se ensina na escola.

sábado, 28 de novembro de 2009

Espírito de Natal

Pelo menos um dos supermercados de Abidjan já entrou no espírito de Natal, devidamente assinalado pela música escolhida.
Esta manhã, era um cd daquelas músicas de Natal mais conhecidas, cantada por um grupo de miúdos absolutamente desafinados, mas com muita vontade.
Ainda assim, o segurança dançava ao som da música. Eu fiz as compras rápido e vim embora.

Queixas

Irritam-me um bocado as pessoas para quem o trabalho delas é sempre pior que o dos outros, e que têm a tendência para virar todas as conversas para o caso delas: "tu podes ter esse problema mas ainda assim tens sorte. Olha que eu..." e discursam durante não sei quanto tempo. Quando vão na terceira palavra da segunda frase, eu por norma já desliguei.
Presumo que as doenças deles também sejam as mais complicadas, o chefe o mais tirano, e por aí adiante. Concluindo, acho que me queixo pouco, mas lá diz o ditado: "quem não chora, não mama".

Aula prática

Os episódios com a polícia são sempre uma novidade.
Desta vez, numa paragem para controlo do documentos durante o dia, a dupla de agentes decidiu aproveitar para dar uma aula a uma terceira, nova no ofício.
Então, pegaram nos documentos da viatura e ficaram ali, ao lado da minha janela aberta, a explicar o que devia verificar, onde estava o número da matrícula, as características da viatura, etc. Uma verdadeira aula prática.
Eu até estava a achar piada, e observava fixa e atentamente o procedimento. Até houve uma que me pediu desculpa pela demora. Mas a determinada altura, o tempo perdido já era demasiado, e saiu-me um "sra. Agente, vá mas é para a escola!".
Claro que elas não gostaram muito... mas lá devolveram os documentos e pudemos continuar o nosso caminho.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Berma de estrada

Todos os dias de manhã, há dois libaneses que esperam na berma da estrada, debaixo duma palmeira.
Não sei o que lá fazem; provavelmente aguardam quem os leve para o trabalho. Esperam na berma da via rápida, mas isso não é problema: os carros páram lá como se fosse uma rua de cidade.
De qualquer forma, já quase posso dizer que os conheço. Um dia destes ainda lhes pergunto para onde vão.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ordem alfabética!!

As listas eleitorais foram publicadas ontem e as queixas não se fizeram esperar.
Porque as fotografias são pequenas, porque são a preto e branco, porque os placards em alguns casos estão pousados no chão e obrigam as pessoas a baixar-se...
Um relato que o jornal recolheu foi dum jovem que estava havia uma hora e meia à procura do nome dele. Sem sucesso. Com a ajuda do jornalista, encontrou em alguns minutos.
Fiquei um bocado intrigado, com dúvidas que possa ser tão complicado assim. A justificação do jovem para não se encontrar é que não parecia ele na fotografia... mas os nomes estão por ordem alfabética!!

domingo, 22 de novembro de 2009

Ciclo de cinema espanhol

A Embaixada de Espanha começa para a semana o seu ciclo anual de cinema espanhol.
Ainda tenho de me informar melhor sobre a programação e os horários, mas à partida estou interessado. Quanto mais não seja, para fazer algo diferente e porque este tipo de acontecimentos não são muito frequentes em Abidjan.
Em conjunto com a da Alemanha e a dos Estados Unidos, julgo que a Embaixada de Espanha é das mais activas em termos de eventos culturais. Portugal não tem embaixada em Abidjan desde a crise de 2004, altura em que mudou para Dakar. Assim, tenho de frequentar as outras.

Tanto tempo!

Há um pequeno bar perto de minha casa onde vou pontualmente tomar café após o jantar. Como em todos os locais, têm um porteiro/segurança à porta, que vai pedindo uns trocos aos clientes.
Uma vez, na primeira metade de Agosto, fui lá e ia deixar-lhe o valor normal (uma moeda de 200 FCFA), quando me apercebi que não tinha; só tinha notas e a mais pequena era de 2.000 FCFA.
Mas dei-lha, na condição de que já funcionaria como um avanço.
Ontem fui ao tal bar, e pela primeira vez desde esse encontro em Agosto encontrei o mesmo senhor. Claro que ele me veio novamente pedir dinheiro, e eu recordei-lhe o nosso acordo. "Xii, patrão, isso já foi há tanto tempo!!". Pois...

sábado, 21 de novembro de 2009

Sala de concertos

Ontem ao início da noite, após o trabalho, passei por casa antes de sair para jantar.
Enquanto me arranjava, e como habitualmente, tinha a música ligada. Estava a ouvir Maria Callas, num volume de encher o apartamento.
Mas o que achei graça foi que, ao sair da minha porta, deparei-me com a "concorrência" cerrada do Sr. Jacques, meu vizinho. Também num volume de encher o apartamento (e o dele é maior do que o meu), estava a ouvir música clássica. E assim, por momentos, o 14º andar do prédio transformou-se numa pequena sala de concertos.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Chuvadas

Sol, um dia bonito. Chuva, torrencial. Sol, um dia bonito. Não é engano: foi assim o final de manhã e início de tarde de hoje. Entre cada fase, uma passagem pelo computador.
Eu gosto de frio e gosto de calor. Mas não gosto de chuva. Incomoda-me, acho que não dá jeito nenhum. Mas estas chuvadas aqui até são engraçadas, porque de repente interrompem dias soalheiros para tornar tudo cinzento; mas é só por momentos, porque de seguida vão embora.
Deixam os jardins regados, deixam as pessoas encharcadas, deixam as inundações. Mas volta o sol, e nem parece que aconteceu.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Títulos

Portugal qualificou-se para o Mundial de futebol na África do Sul. Após tanto sofrimento, fez aquilo que muitos consideravam uma obrigação, mas que esteve complicado.
Nestes dias de jogos decisivos, os jornais tentam sempre dar o mote, com títulos a apoiar a selecção. E eis que me deparo com a seguinte pérola: "Prontos prà guerra". Assim, tal e qual, pelo que já não sei se lhe hei-de chamar "pérola", "pérla" ou "pèrla".
De qualquer forma, julgo que desde que saí de Portugal a língua não mudou assim tanto, e portanto acho que é uma vergonha e uma irresponsabilidade.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Espírito nacionalista... mas nem tanto

Em África, e ao contrário do que muita gente pode pensar, existem companhias aéreas muito boas, como por exemplo a Ethiopian Airlines.
Na Costa do Marfim, a companhia nacional é a Air Ivoire. A publicidade feita localmente é muita, e o espírito nacionalista atenua as críticas. Mas a verdade é que os problemas são vários.
Não me refiro propriamente a problemas de segurança. A esse nível, é uma companhia que respeita as normas, e voa inclusivamente para a Europa. Mas em termos de conforto e serviço ao cliente, é uma lástima.
Um pouco contra o tal espírito que atrás mencionei, um editorial recente do Fraternité Matin expunha exactamente esse problema. E terminava quase com um pedido de desculpa: "nós gostavamos de contribuir para o negócio da companhia aérea nacional; mas nestas condições não é possível".

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Abraço

Há gestos que nos fazem sorrir no momento, outros que ficam gravados e nos fazem sorrir sempre que os recordamos.
Ontem, após uma sessão de ténis e já à saída do clube, estava parado no passeio ao telefone quando um carro parou frente a mim. Mal a porta de trás se abriu, saiu de lá a correr um miúdo dos seus 3 anos que veio directo a mim e me abraçou!
Claro que abraçou as pernas, que foi ao que chegou, mas valeu por um abraço à alma.

domingo, 15 de novembro de 2009

Línguas

Os ambientes multiculturais são enriquecedores a vários níveis. Um deles, é o da língua.
Ontem, em casa do casal que aqui tive oportunidade de mencionar, achei engraçada a comunicação. É que, indiferenciadamente, entre eles e a filha de 5 anos falam português, inglês, francês ou bósnio.
Não é só uma questão de ser interessante vê-los mudar de língua de um momento para o outro; é também, e sobretudo para a criança, uma ferramenta extraordinária para o futuro. Porque para ela, qualquer uma das línguas será um dado adquirido, uma ferramente de base. Numa altura em que falar pelo menos duas línguas é fundamental, ela já leva um avanço.

Portugal-Bósnia

Ontem foi dia de jogo de selecção de futebol, Portugal-Bósnia, para decidir a qualificação para o mundial de 2010.
Para ver o jogo, fui convidado para ir a casa dum casal em que ele é português, e ela bósnia. Portugueses eramos 3, bósnios eram 10, e com um espírito muito engraçado: bandeiras, músicas, pinturas faciais, tudo para apoiar a equipa.
Portugal ganhou, mas claro que tivemos de ouvir os lamúrios sobre as 3 bolas no poste. E com razão, diria eu, que se estivesse do outro lado também estaria um bocado frustrado. Assim, fiquei só aliviado e espero que quarta-feira as coisas corram bem.

Sozinho

Na sexta-feira passada fiz algo que faço muito raramente: fui jantar fora sozinho.
Mas há dias em que nos apetece quebrar a rotina, sair de casa, jantar bem, beber um copo de bom vinho. E foi isso que fiz: fiz-me acompanhar por uma revista que já há algum tempo queria ler e lá fui, a pé, a um dos meus restaurantes preferidos em Abidjan, o Case Ébene.
Não satisfeito, ainda passei num bar que abriu recentemente perto do restaurante, onde acabei por encontrar uns amigos.
E assim se passou a minha noite, que por sinal até foi muito agradável.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Indicador de cansaço

Como é que eu sei se ando cansado? Pelo tempo que demoro a adormecer quando me encosto no sofá.
E por este indicador, devo andar de rastos. Ontem à noite sentei-me no sofá e nem me lembro de ter adormecido. No fim de semana passado, ao final da tarde de sábado, enquanto esperava um amigo para irmos sair, adormeci e nem as várias chamadas para o telemóvel que estava mesmo ao meu lado me acordaram; acordei já eram 1h30.
Julgo que o clima também ajuda a este estadode coisas. O calor e a humidade fazem com que os meus finais de dia sejam mais complicados. Mas daqui a pouco vou para o fresco.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Eleições adiadas

Apesar de ainda não haver um comunicado oficial, já é assumido por todos que as eleições na Costa do Marfim serão de novo adiadas. Resta saber para quando.
Poucos são os que acreditam que ainda poderão ter lugar até final do ano, apesar de o presidente da república ter dito que deveriam ser feitas em 2009. Outros dizem que serão em Janeiro 2010. E outros ainda, apontam para final do próximo ano.
Para todas as datas, há argumentos a favor e contra. A pressão internacional, a lista que estará pronta; o presidente que quer obrigatoriamente cumprir 2 mandatos, os interesses em manter o poder... Aguardemos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Comunidades

Independentemente do local onde se encontram, é engraçado ver como as comunidades estrangeiras presentes num país importam os seus costumes da forma mais fiel possível.
No sábado passado fui a um rodízio, evidentemente organizado por um grupo de brasileiros. No dia 31 de Outubro, um grupo de americanos organizou uma "Halloween party". E encontrei um português que tinha trabalhado no Congo, onde segundo ele se encontram muitos portugueses, e ele só me dizia que se comia lá um bacalhau tão bom como em Portugal.
É um facto que, por um lado, este comportamento ajuda a suportar as saudades dum afastamento que deixa marcas. Por outro, quando levado ao extremo, faz com que as comunidades não cheguem a integrar-se realmente.
Por mim, acho bem que organizem este tipo de encontros, que assim vou experimentando um bocado de todos, sem no entanto deixar de comer attieke.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Painéis solares

Painéis solares: hoje vi um stand de painéis solares no passeio duma avenida, e chamou-me a atenção.
A Costa do Marfim tem, indiscutivelmente, muito sol e os painéis solares podem ser bem aproveitados. Mas julgo que foi a primeira vez que os vi aqui à venda, e não me lembro de já os ter visto instalados. Além do mais, o local onde os encontrei foi um bocado estranho, no meio dum passeio duma avenida cheia de fumo de carros.
A partir de agora vou estar mais atento à presença de painéis. Se aqui funcionarem, devem ser fiáveis, porque manutenção é coisa que não existe.

domingo, 8 de novembro de 2009

Oportunidade

Mais uma chuvada, mais uma inundação. O mal-afamado carrefour de l'indiéné, onde foram gastos milhões para trabalhos de melhoramento (nomeadamente, do canal de águas pluviais que lá passa), transforma-se numa lagoa a cada vez que chove.
E ontem choveu, pelo que o canal transbordou. E com a água vem o lixo todo, que aqui é mesmo muito. Não me lembro, nem quando há uns anos tivemos em Portugal inundações em praticamente todo o país, de ver nada igual. Nem mesmo o rio Leça conseguiu criar cenário tão repugnante e nauseabundo.
Mas onde há problemas há oportunidades, e abrir caminhos no meio de tal lixeira para permitir a passagem de carros (quando a água já escoou) é o que fazem alguns trabalhadores de ocasião. Se os condutores não lhes derem uma moeda, eles não tiram os pneus e obstáculos maiores da frente, mas como ninguém se arrisca sequer a abrir a porta do carro, têm clientes garantidos.

Mão de amigos

Uma placa de madeira maior do que um carro; o carro, com uma mala onde não cabe evidentemente a placa; e a necessidade de a transportar. Como fazer?
Simplesmente, pede-se a uma mão a 3 amigos, literalmente. Cada um vai sentado junto a uma janela, com a mão de fora a segurá-la. O condutor incluído, claro, senão a placa não vai equilibrada e pode cair.
Nem uma corda tinha para ajudar à tarefa: um trabalho perfeita e totalmente manual. E aposto que o condutor ainda conseguiria atender o telemóvel.

sábado, 7 de novembro de 2009

Prevenção

Ontem foi dia de cortes de corrente. Hoje parece ser dia de cortes de água.
Qualquer uma das situações representa um impacto enorme no dia-a-dia, mas são episódios que temos de tolerar, assim como a ausência de qualquer tipo de aviso.
Mas há pessoas que estão mais preparadas que outras. Mais habituado do que eu a este tipo de eventos, o sr. Ousmane tinha de reserva umas quantas garrafas de água, que lhe permitem continuar a cozinhar e mesmo a lavar a louça! Homem prevenido vale por dois.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Emplastros

Respeitar uma fila de pessoas não é difícil: basta ficar atrás da pessoa que está à nossa frente. Mas aqui as pessoas parecem ter uma aversão a esse tipo de organização.
Assim, a cada vez que vivo uma dessas situações, há uma de duas situações que ocorrem: ou realmente alguém fica atrás de nós, mas tão próximo que quase nos faz cócegas no pescoço, ou então põe-se ao nosso lado. E mesmo quando estamos ao balcão, a ser atendidos, há pelo menos uma pessoa a seguir de perto o assunto. Deve ser para ajudar.
Confesso que isto me irrita um bocado. Até agora, fui resolvendo os meus "emplastros" com olhares recriminadores e algumas cotoveladas. Mas qualquer dia vou ter de dizer qualquer coisa.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Aparência

Ontem vi um carro com uma matrícula muito estranha. Não no conteúdo, mas na forma: pareceia um trabalho caseiro, de corta-e-cola, num plástico à côr das matrículas normais.
Mas aquilo que para mim parecia estranho, não causou qualquer estranheza a quem estava comigo, habituado à realidade local. A explicação foi simples: há muitas pessoas que, estando em certos cargos públicos, têm direito a carro de serviço, cujas matrículas são duma côr diferente. Ora, por uma questão de aparência, e para tentar fazer o carro por propriedade privada, fazem matrículas à côr das dos carros civis. Já diz o ditado que não basta ser, há que parecer.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Tema único

Eu gosto de conduzir, e enquanto conduzo, tenho sempre o rádio ligado para ouvir não só música, mas também alguns programas de debate e troca de opiniões.
Aqui, há um programa desses, mas ao contrário do que acontece em Portugal, o tema nunca muda. Num dia é sobre a infidelidade dos homens, no dia seguinte sobre a infidelidade das mulheres, e parece não sair disto.
Assim, a discussão é sempre de alto nível e parece uma novela mexicana radiofónica. Mas o pessoal ri-se disto e as audiências são grandes. Não há paciência...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Duração

A tecnologia pode pregar muitas partidas a quem não estiver preparado.
Esta noite presenciei uma discussão em que um senhor se mostrava muito surpreendido com uma chamada que tinha recebido, dum número tão esquisito que ele não conseguia saber de onde era.
Após uma longa discussão e várias outras opiniões, eis que o telemóvel chega às mãos de um homem mais jovem que diz "ah, mas isto não é número, é a duração da chamada!".
Talvez não convencido, ou apenas para para confirmar, perguntou-me o que eu achava. E confirma-se: 00:00:37. Era a duração.

domingo, 1 de novembro de 2009

Repulsa

Esta tarde fui tomar um café e, no caminho, aprendi que devo evitar passar próximo da porta do condutor dos táxis.
Já no regresso, um táxi passou por mim e parou logo à frente, para deixar sair o cliente. Eu ia pelo passeio, onde continuei, e quando ia a passar ao lado do carro, o condutor decidiu expulsar o que quer que lhe estivesse a incomodar na boca, garganta ou nariz (não sei precisar e também não quero).
Falhou por pouco, passou-me ligeiramente atrás. Não consegui deixar de demonstrar a minha repulsa, ao que recebi um "desculpe, chefe" como resposta.
Para a próxima, é melhor passar do outro lado do carro.

Formas

Acentuar as formas nem sempre é bom: depende das formas. Mas há quem não esteja de acordo, evidentemente.
Ontem fui com uns amigos a um bar e, mais uma vez, confirmei que os homens gostam muito daquelas tshirts justas, e normalmente com uns desenhos em dourado, ou a marca bem estampada.
Contudo, na minha perspectiva estética, o resultado é mau pelo simples facto de que uma grande parte desses homens tem barriga. Umas mais acentuadas que outras, mas barrigas bem conspícuas e nada favorecidas pelo uso das tais tshirts.
E é vê-los desfilar, vaidosos com as costas bem direitas e os ombros puxados atrás... mas de barriga bem para fora.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Pizza

Queria jantar pizza, e não consegui. Foi uma daquelas vontades que me deu: jantar pizza frente à televisão, tranquilamente sentado no sofá.
Já vestido a rigor, com tudo pronto, liguei para a pizzaria que faz entregas ao domicílio. As primeiras chamadas não tiveram êxito. Mas nada me preparava para a desilusão que viria a seguir: hoje fecharam mais cedo para uma manutenção.
E aqui fiquei, abandonado a um jantar improvisado, e a imaginar uma pizza. Pelo menos já tenho ementa para amanhã.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Decidam-se!

Precisamente de hoje a um mês são as eleições na Costa do Marfim. Pelo menos é a data que está marcada, mas começam a aparecer cada vez mais sinais que fazem crer que serão mais uma vez adiadas. Apesar de tudo, as entidades responsáveis mantém a data e continuam os preparativos.
Pior do que serem ou não feitas, é a dúvida que se instala. Andar a preparar eleições todos os anos não serve o país. Os investimentos ficam num stand-by permanente, os espíritos constantemente alerta, a população na corda bamba.
É claro que não é assim tão simples, mas dá vontade de dizer aos senhores que se decidam. Façam as eleições, ou não façam as eleições, mas pelo menos decidam-se! Assim é que não dá.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Reencontro

Hoje fui à zona industrial de Yopougon e revivi uma sensação que já não tinha há uns tempos: o buliço típico da hora de almoço para os operários das fábricas.
É uma sensação que conheço por em pequeno a ter vivido, na fábrica do meu avô que viria a ser dos meus pais. Os trabalhadores que ao som duma campainha páram e saem em grupo para ir almoçar. Grupos que se formam, amigos que se reencontram, conversas que se põem em dia. Uma rotina de todos os dias, mas todos os dias uma história nova, novidades da família, novos projectos. E a mesma campainha para retomar o trabalho.
Em Portugal continua, evidentemente, a existir esta realidade. Fui eu que me fui distanciando dela, pelas opções que fui tomando a nível profissional. Mas reencontrei-a aqui, o que me trouxe algumas recordações de volta. Foi engraçado.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Vólei

Hoje estive na Embaixada dos Estados Unidos. Não para trabalhar ou ir à biblioteca, mas para fazer desporto.
No fim de semana passado conheci umas pessoas que me convidaram para ir jogar vólei de praia com eles. E jogam no campo da Embaixada, pelo que hoje lá estive.
Entre marines, jornalistas, e outros, passei momentos agradáveis, e sempre muda um bocado o cenário.
A segurança está lá, as câmaras também, mas o ambiente é perfeitamente relaxado. Foi bom.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Torcicolo

Ir abastecer o carro em Abidjan pode provocar um torcicolo. Esquisito? Talvez não tanto assim.
É que há muitos casos de burlas, em que os empregados dos postos de combustível simulam que estão a encher o depósito quando, na realidade, não estão. Há outros casos mais evoluídos, em que de facto alguma coisa entra para o depósito... mas é ar.
Assim, para evitar qualquer uma destas situações, é preciso ver os números da máquina a mexer, e depois confirmar a subida do ponteiro (caso funcione). Por isso mesmo, os condutores que não queiram sair do carro, têm de fazer uma ginástica e umas quantas contorções para poderem controlar o desenrolar dos acontecimentos.
Em qualquer uma das situações, desde que se peça, eles passam recibo.

domingo, 25 de outubro de 2009

Retoma

A semana que passou foi-me impossível manter o blogue actualizado, devido ao trabalho. E não é sem algum incómodo que constato que as crónicas estão atrasadas em mais do que um dia.
A partir de amanhã, vou retomar a escrita e tentar recuperar o atraso. Temas não faltam, espero que a inspiração também não. Até amanhã.

domingo, 18 de outubro de 2009

Air Ivoire

Há companhias aéres em que os atrasos não são um problema: são uma característica. Uma delas é a Air Ivoire.
Quase sempre que viajo com eles, há atrasos. E como é evidente, também nos outros voos se passa o mesmo. O que acho extraordinário é que, além dos atrasos, não tenham qualquer explicação ou previsão a dar às pessoas, e quando confrontados com o assunto, ainda parecem ficar sentidos. Mas vão ter de me aturar.

sábado, 17 de outubro de 2009

Monotonia

Tenho em Abidjan um grupo de amigos com quem estou frequentemente. Pelo menos, para os meus padrões.
É que todos os fins de semana (sem excepção) eles vão para o mesmo maquis, na mesma praia, às mesmas horas, beber e comer as mesmas coisas, jogar os mesmos jogos... Eu vou algumas vezes, mas não consigo acompanhá-los sempre.
Esta atitude não tem nada a haver com as pessoas: são divertidas e simpáticas, tanto que todos os fins de semana me convidam para ir com eles. O problema é meu, com a minha incapacidade de lidar com a monotonia. Pelo que por vezes, fico simplesmente em casa a ver um filme, a ouvir música ou a ler. O que em si também pode parecer monótono, mas numa perspectiva macro, sempre cria alguma diversidade.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Universidade

Pela primeira vez desde que aqui estou, tive a oportunidade de visitar a universidade de Abidjan. E o que encontrei, foi um bocado desolador.
O espaço é enorme e magnífico, muito ao estilo dos campus universitários em França. Faz-me lembrar o de Montpellier. Imensos edifícios dedicados a diferentes domínios, e espalhados sobre um espectacular espaço verde de jardins, pequenos bosques, e árvores isoladas no meio do relvado.
Mas está tudo muito degradado. Demasiado degradado, praticamente inoperacional, quase nada funciona. E como, ainda assim, é um local onde passam muitas pessoas, em algumas zonas existem autênticos mercados, o que não é propriamente o core business duma universidade.
É pena que assim seja, porque uma universidade funcional é importante a vários níveis, quer para uma cidade, quer para um país. Mas como tantas outras coisas aqui, parece-me que no estado a que chegou, mais vale demolir e construir outra. O que também não é evidente que aconteça.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Programa(s)

Quando as pessoas não querem trabalhar, todas as desculpas são boas.
Há uns tempos, o meu professor de ténis avançou com a ideia de fazermos um programa de treino, fixando as datas de terça e quinta-feira às 19h. Apesar de ser menos flexível, não é uma má opção: a ele, permite-lhe contar com o que lhe pago por hora; a mim, permite-me ter uma agenda mais organizada.
Só que aparentemente, a concepção de programa difere entre nós os dois. Ontem, quando lá cheguei, ele tinha ido embora porque eu não tinha telefonado a confirmar. Ora, quando se estabelece um programa, os telefonemas são normalmente para desmarcar, além de que já não era a primeira vez que iamos jogar ao abrigo do tal programa.
Depois queixam-se que têm dificuldades; e até é verdade. Mas o esforço para melhorar a situação também não é grande.

Mistério

Desde há algum tempo que uma coisa me intrigava: sempre que chegava a casa, havia uma mancha de humidade num espaço do chão que eu não compreendia. Até hoje.
De facto, bastou colocar a pergunta a um dos bombeiros do prédio para desvendar o que até aqui era um mistério. Resumidamente: o inquilino do 13º andar usa muito o sistema de ar condicionado central. E é nas áres de saída do ar que a placa fica mais fria, o que causa condensação do ar, que aqui é sempre húmido.
Realmente, comecei a notar a tal mancha desde que me habituei ao calor e deixei de usar tanto o ar condicionado no meu apartamento. Mas a utilização que eu lhe dava antes equilibrava as temperaturas, o que deixou de acontecer.
Há coisas que, mesmo quando fogem da nossa compreensão, têm uma explicação tão simples... basta pensar melhor e colocar outras possibilidades. Ou então, perguntar ao bombeiro.

Paranóia

Estes últimos dois dias fui jantar com um amigo senegalês que conheci no aeroporto Paris-CDG.
Ele, como quadro duma grande empresa internacional, e a trabalhar em França, recebe antes de se deslocar a um país um relatório sobre a situação do país e cuidados a ter durante a estadia.
Assim, estes últimos dois dias ele ficou maravilhado por poder sair do hotel, a pé e à noite, coisa que não faria sozinho (o que se compreende).
Mas, além de dizer que ninguém acreditará em Paris se ele contar que saiu assim sem problemas, também diz que que há em torno da (in)segurança alguma paranóia, o que é verdade.
Em todo o caso, o clima de medo está instalado e a maior parte das pessoas não experimenta sequer desafiar essa ideia. Eu, ao fim de algum tempo em Abidjan, comecei a sair aos poucos e poucos, e agora sei os terrenos que piso. Há algum risco, como em tantas outras cidades, mas é de certa forma controlado.
Amanhã, o meu amigo volta para Paris, e pelo menos parte com uma imagem de Abidjan que lhe permitirá voltar com uma outra perspectiva.

domingo, 11 de outubro de 2009

Serviço

Recentemente fui a um restaurante considerado como o melhor de gastronomia africana de Abidjan. E, exceptuando o facto de não ter nenhuma luz natural, é um espaço agradável, com bom atendimento e boa comida.
Sendo um restaurante com algum nível, a exigência com o serviço é também maior. Mas neste ponto, há quem exija muito.
Na mesa atrás de mim, encontrava-se um casal a almoçar. Pediram um prato de carne, que o senhor decidiu não cortar. Em vez disso, chamou o empregado para que o fizesse por ele: passou-lhe o prato, o empregado pegou noutros talheres e cortou a carne em pedaços pequenos, como se faz aos miúdos. Mas foi o senhor quem mastigou.

sábado, 10 de outubro de 2009

Entrega

Desde há duas semanas que aguardava a entrega duma encomenda no escritório, encomenda essa que já se encontrava no porto de Abidjan. E durante essas duas semanas, diariamente nos era garantido que o material seria entregue no próprio dia, o que nunca aconteceu.
Hoje, às 8h30 da manhã recebo uma chamada: "patrão, está aqui um camião para descarregar." E estava mesmo: sem nos avisarem de absolutamente nada, apareceram para a entrega. Lá fui a correr para o escritório.
Perante este tipo de episódios, a dificuldade em manter as coisas organizadas torna-se maior. Se cada pessoa pensar apenas em si e no que tem a fazer, sem qualquer consideração pelas consequências que causam e sem uma mínima coordenação com os outros intervenientes, não se pode esperar muita eficiência.
Agora a encomenda está entregue e o material armazenado. Só falta irem lá buscar o contentor, que deixaram ficar...

Jogo

Que as pessoas não cumpram, na maioria das vezes, os prazos que me prometem, já estou habituado. Aliás, já faço as coisas de forma a corrigir tal "desvio".
Mas que não cumpram os prazos e ainda me digam, com toda a naturalidade, que para a semana será complicado porque estarão ocupados, não me parece muito razoável e merece da minha parte uma reacção mais enérgica. Hoje fui obrigado a dizer a um director que gerir a agenda dele não é da minha responsabilidade, e que o compromisso dele já está em causa.
No fundo, tudo isto acaba por me parecer um jogo: eles tentam, e se nos deixarmos levar, tanto melhor. Mas se confrontados, como foi o caso, reorganizam rapidamente as prioridades, e lá terminam as coisas. Pelo menos, assim espero.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Super garrafeira

Recentemente visitei uma garrafeira aqui em Abidjan, que me deixou boquiaberto. Não pelo espaço, que é normal, mas pelos valores envolvidos.
É que é uma garrafeira de vinhos caros e com milhares de garrafas em stock. Estamos a falar de 15.000 unidades e uma média de preços que deve rondar os 100€, provavelmente a julgar por baixo. A garrafa mais cara que tive oportunidade de ver (sem tocar, não fosse estragar alguma coisa) custava 3.000€.
A juntar à minha estupefacção, o proprietário disse-me que o stock era renovado a cada 3 meses, exceptuando algumas garrafas realmente mais dispendiosas. Fiquei sem palavras, e nem foi preciso beber.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Buracos famosos

Há alguns buracos nas estradas que já são famosos. Há um perto do porto de Abidjan que toda a gente conhece: é uma caixa de saneamento, no meio da via, que ficou sem tampa há já vários meses.
Toda a gente menos uma senhora que por lá passou esta manhã, ao volante de um Dacia, e que lhe acertou em cheio.
Ao contrário do que eu imaginava, que qualquer carro que não evitasse tal obstáculo ficaria imediatamente incapaz de continuar o seu caminho, este continuou serenamente.
O facto de ter sido a baixa velocidade e de ter sido uma roda traseira poderá ter ajudado, mas ainda assim fiquei surpreendido. Já a senhora não pareceu minimamente afectada, não sei se por hábito ou simplesmente porque o resultado não foi assim tão mau.

Metro em Abidjan

O director para África duma companhia francesa que opera nos domínios da energia e transporte aventou esta semana, numa entrevista publicada no jornal, a possibilidade de se vir a instalar um sistema de metro em Abidjan.
Fê-lo não de forma espontânea mas em resposta a uma pergunta do jornalista sobre se essa não seria uma solução para os problemas de transporte da cidade.
Duma forma realista, a sua resposta foi no sentido de dizer que no caso de o país estar interessado, eles têm uma fórmula adaptada para cidades desta dimensão, com 5 milhões de habitantes. Mas também disse que não basta estar interessado, é preciso estar preparado, porque estes são projectos que levam em consideração o futuro a 40 anos e muita manutenção. O caminho será longo, portanto.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Anúncios

De forma a andar informado sobre o que se vai passando à minha volta, leio o jornal diariamente, ou pelo menos leio o que me interessa e passo os olhos no resto.
E há uma coisa que me chama sempre a atenção: é que praticamente todos os dias aparecem anúncios em tamanho grande e com fotografia, de empresas a informar que uma certa pessoa já não faz parte dos seus quadros e que declina toda a responsabilidade por qualquer actividade em nome da empresa que possa ser efectuada pela pessoa em causa.
Além do mais, não são apenas os empregados da base da pirâmide o motivo destes anúncios: hoje o visado é o ex-Director Geral duma empresa de seguros, que deve continuar a fazer das suas porque já não é a primeira vez que o vejo no jornal. Qualquer dia, aparece uma lista de caloteiros.

domingo, 4 de outubro de 2009

Zouglou

Em Yopougon, há um espaço enorme onde as pessoas se juntam para beber e ouvir zouglou ao vivo.
Zouglou é um estilo de música típico de Abidjan, baseado na percussão e em letras sobre o quotidiano. E hoje fui assistir a esse espectáculo, que foi engraçado apesar de não terem estado presentes grandes grupos.
Também é engraçado ver como estava lá tanta gente, e a beber muito, num domingo ao final da tarde. Em todo o caso, eu já estou em casa para descansar que amanhã é segunda feira.

Concerto

Foi hoje o concerto de Johnny Pacheco e, tal como previsto, lá estive presente e fui pontual: o concerto estava previsto para as 18h e às 17:45h eu estava no meu lugar.
O que não foi nada boa ideia, porque o palco ainda estava a acabar de ser montado e o sistema de som a ser ligado. Os músicos, certamente mais avisados, chegaram às 19h, mas o concerto só começou passado meia hora. Isto porque o senhor Pacheco já tem alguma idade e dificuldade em andar, pelo que tiveram de encontrar uma cadeira para ele se sentar em palco. E também porque os instrumentos tiveram de ser afinados, o som ajustado...
Quando finalmente tudo estava pronto, o concerto começou, mas foi interrompido várias vezes: uma para pedir à mesa de som para aumentar o volume das colunas à frente dos músicos; outra para que o músico recebesse dois quadros pintados por um artista do Gana; outra para dizer que o concerto seria interrompido se as filmagens não contratadas não parassem.
Além destas interrupções, os ecrãs gigantes instalados pareciam ter dúvidas sobre o que devia passar, e durante metade do tempo mostraram imagens do concerto, e durante a outre metade passaram um documentário sobre a evolução da segurança automóvel.
E assim, não posso dizer que tenha sido um grande concerto, mas pelo menos serviu para fazer alguma coisa diferente.

sábado, 3 de outubro de 2009

Take away

Hoje jantei num maquis junto à lagoa, muito simpático e concorrido. Fica num local que jamais descobriria se não fosse com um amigo que conhece. Passa-se por umas ruas esquisitas, e fica por trás duns prédios, ao fundo duma viela.
Mas a comida é boa. E segundo dizem, o atiéké que lá fazem é o original. Por sua vez, o peixe também estava saboroso, e ao tempo que demorou devia ser fresco acabado de pescar.
Além de tudo isto, é um maquis com uma versão de take away, com as brasas à entrada e muita gente à espera da refeição para levar para casa. Só é pena que fique tão longe de casa...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Serão diferente

Há por aqui algumas formas de passar um serão agradável, e sobretudo diferente de ficar em casa frente à televisão a ver filmes repetidos.
Um senhor que trabalha na área da comunicação organiza no jardim da sua casa (uma bela casa, do tempo colonial) ora sessões de cinema ao ar livre, ora tertúlias para discutir um tema à escolha.
Acaba por ser um grupo muito interessante que lá vai parar, das mais diversas origens e profissões: e também é nessa diversidade que está a graça. A repetir.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Entrevista falhada

Um facto inédito nesta campanha para as eleições na Costa do Marfim é a apresentação da candidatura duma mulher. Ex-ministra da Justiça nos anos '90, tendo depois saído do partido que na altura representava, reaparece agora como candidata à presidência da república.
No início desta semana, o Fraternité Matin dedicou-lhe duas páginas inteiras, onde publicou uma entrevista. E confesso que esperava muito mais de alguém já com alguma experiência política.
Na verdade, a entrevista foi mais direccionada para a igualdade de direitos entre sexos (e mesmo aqui, sem grande profundidade), do que para a sua candidatura. É certo que as perguntas não ajudaram, mas a candidata deveria ter tido a capacidade de as contornar e apresentar ainda assim algumas das suas ideias.
O resultado foi uma entrevista sem profundidade (nem mesmo no que à igualdade de direitos dizia respeito), em que a imagem que fica é de alguém que ou não tem ideias de todo, ou é muito mau a comunicá-las. Num ou noutro caso, as perspectivas não me parecem animadoras.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Comentários

A cada jornada de futebol, seja da Liga dos Campeões ou da liga francesa, tenho de ouvir comentários que conseguem ser mais absurdos do que em Portugal, apesar de termos a tendência a pensar que é apenas aí. Mas não é verdade.
Nos casos que tenho assistido, há ainda outra característica que me incomoda, que é o facto de roçarem a xenofobia. Dizer bem dos jogadores nacionais, não acho mal. Passarem imagens apenas do seu desempenho, ainda passa. Mas a isto tudo, dizer constantemente mal dos jogadores estrangeiros e arranjar sempre um melhor substituto francês, já não posso estar de acordo.
E assim, como já faço habitualmente, lá vou acompanhando as imagens dos jogos com boa música a acompanhar.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Linhas de curta duração

Aproximam-se as eleições, há que fazer algumas obras: esta parece ser uma máxima válida para todo o lado.
E a Costa do Marfim não é excepção. Com as eleições a 2 meses de distância, há que mostrar trabalho e mandar os trabalhadores para a rua. Neste caso, pintar os traços na estrada e refazer os blocos de cimento na base dos candeeiros de rua.
Mas para aproveitar a oportunidade e criar um impacto na vida de muitas pessoas, fazem-no durante o dia, na estrada que é a artéria aorta de Abidjan. Resultado à vista: engarrafamentos enormes, pequenos acidentes, muita discussão e tempo perdido. Ainda por cima, parece-me que as linhas são de curta duração.

domingo, 27 de setembro de 2009

Trabalho

Este domingo foi dia de eleições em Portugal. Os resultados já todos conhecem, e os discursos dos vários líderes estiveram dentro do esperado.
Mas o que me deliciou, confesso, foi a possibilidade de acompanhar os resultados praticamente em tempo real, com o detalhe por freguesia.
Uma vez que de há uns anos para cá estamos habituados a ter este tipo de informação, decerto não a valorizamos devidamente. No entanto, e talvez por me encontrar fora e num país onde este tipo de organização é por enquanto inimaginável, dei por mim a pensar no trabalho imenso que está por detrás dos números que nos são apresentados tão eficazmente. E continuo maravilhado...

sábado, 26 de setembro de 2009

Oásis

De hoje a uma semana, Johnny Pacheco estará em Abidjan para dar um concerto!
Por acaso, eu até gosto de salsa, mas não é tanto o artista ou o estilo de música que estão em causa. Antes, o facto de ser um oásis no deserto de eventos culturais em que vive actualmente esta cidade, desde concertos, a teatro ou mesmo cinema.
Tal como eu, muitas outras pessoas sentem o mesmo, e por isso já tenho um grupo bastante alargado de amigos e conhecidos interessado em ir ao concerto. Nesse grupo, inclui-se a proprietária duma agência de viagens com ligação directa à venda dos bilhetes, por isso julgo que temos lugar garantido. Vai ser bom!

Estufa

A época de chuva parece ter finalmente terminado. Após alguns meses de chuvas quase constantes, e mais alguns de chuvas intermitentes, desde há três dias que o céu azul e muito calor marcam presença.
É certo que, em comparação com Portugal, aqui é sempre quente. Mas o calor a que me refiro agora é daquele tipo que nos faz evitar sair de qualquer lugar com ar condicionado. Daquele que mal se abre a porta do carro ou se sai à rua, nos parece criar uma estufa debaixo das roupas.
Felizmente, já me sinto adaptado ao clima, e nem sequer me custa vestir um fato e gravata. Em Dezembro, quando for a Portugal, a história será bem diferente, mas ao contrário do ano passado, desta vez tenho aqui um bom casaco para criar a minha própria estufa.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Fechadura

Muito estranho, foi o que me aconteceu esta manhã.
Um pouco antes das 7h, pareceu-me ouvir a porta do meu apartamento abrir. E pareceu-me de tal forma real que me questionei porque teria o empregado chegado tão cedo!
Claro que logo de seguida pensei que tivesse sido uma parte dum sonho, e não pensei mais no assunto... até sair de casa e ter confirmado que o empregado estava inocente.
Isto porque a porta tem duas fechaduras e eu, estando em casa, fechava sempre a de cima mas não a de baixo. Esta manhã, ao sair, dei conta que era a de baixo que estava fechada e a de cima aberta.
As alternativas possíveis parecem-me todas altamente estranhas, o que não significa impossíveis. E por isso, acabei o dia a mudar a fechadura. Pelo sim, pelo não...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Certidão de óbito

Esta noite estive num jantar em que todos os outros elementos eram costa marfinenses. Mais do que habituados e cheios de histórias para contar sobre a polícia, acabamos por passar um momento divertido a ouvir as histórias mais bizarras por nós vividas.
Mas houve uma que ganhou com grande vantagem, e que não resisto a reproduzir: um homem, estrangeiro dum país fronteiriço e cujo trabalho é recolher o lixo porta a porta, utilizando para tal um tipo de pequena carroça que ele próprio empurra, foi parado pela polícia que lhe pediu os documentos. Ao contrário da maior parte das pessoas na sua situação, ele tinha todos os papéis necessários e obrigatórios.
Mas o polícia estava decidido a obter o seu pagamento, e ao fim de pedir vários documentos (todos eles prontamente apresentados), teve uma ideia original: pediu a certidão de óbito!! E o rapaz, na sua simplicidade, disse que esse não tinha... e pagou.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Falta de livros

Estou novamente com o stress dos livros. Ou da possível falta deles.
Como viajo sempre (ou sempre que possível) apenas com bagagem de cabine, nunca tenho muito espaço para trazer muitos. Desta última visita a Portugal, trouxe apenas três, pelo que já imaginava que fosse pouco. Mas não pensei que ao fim de 15 dias já tivesse acabado dois...
Agora resta-me o último, que felizmente é o maior deles todos. E tem folhas fininhas, pelo que tem muito para ler. Só falta ser interessante, e durante uns tempos andarei entretido.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Dias

Desde que comecei este blog, tomei a decisão de não escrever sobre trabalho, mas apenas sobre episódios pessoais, sentimentos, impressões.
Mas nem sempre é fácil fazê-lo. Desde logo, porque não acredito na total separação dos dois domínios. E depois porque, estando cá sozinho, a minha vida está quase totalmente subjugada aos ritmos e emoções profissionais.
O meu trabalho obriga-me a lidar com uma panóplia muito alargada de pessoas, instituições e realidades. Daí que as oportunidades para que as coisas corram bem ou mal sejam mais do que muitas. Ora hoje foi um daqueles dias chatos, em que chegamos ao final com a impressão mista de cansaço e irritação. Que amanhã seja melhor.

domingo, 20 de setembro de 2009

Feriado que não é...

Este domingo marca o final do Ramadão. Se fosse dia de semana, teria sido feriado e como aqui tive oportunidade de escrever, ao calhar num domingo por lei seria gozado amanhã.
No entanto, e talvez ao constatarem o excesso se feriados tão concentrados (quinta feira passada também o foi), devem tê-lo anulado.
Claro que isto originou uma grande confusão. Uns diziam que era feriado, outros que não. A edição do jornal nacional de ontem, que passa na televisão estatal, foi o método que encontraram para difundir a notícia e esclarecer a população. Assim, e logo à abertura, foi anunciado que por decreto de lei amanhã seria feriado. Mas no fecho do telejornal, anunciaram que afinal não é. Ainda bem que não há dúvidas.

Acidentes

Ontem foi dia de assistir a acidentes de viação. O primeiro com uma gbaka, o outro com um todo o terreno.
Quando ao final da tarde me dirigia para o ténis, uma gbaka que desfazia uma curva à direita para entrar na estrada mesmo à minha frente, fê-lo duma forma muito pouco convencional: bateu em alguma coisa que se encontrava na berma, ficou apoiada nas duas rodas da esquerda, saltou para as da direita, depois para cima da roda dianteira da frente e virou.
Mais tarde, já de noite e quando voltava para casa, um todo o terreno decidiu ultrapassar-nos a alta velocidade, e fazer uma curva à esquerda sem abrandar. A traseira fugiu-lhe no processo, entrou em pião e foi meter a dianteira na mato da berma.
As consequências deste último acidente não foram mais do que umas eventuais arranhadelas na pintura. Já do primeiro não tenho a certeza, porque a gbaka ia cheia e ninguém usa cinto de segurança. Espero que tudo tenha acabado bem.

sábado, 19 de setembro de 2009

Lomé

Lomé, capital do Togo: as primeiras impressões são escassas, ainda não tive tempo para apreciar a cidade ou a sua vida. Parece-me, no entanto, uma cidade tranquila, de pessoas simpáticas. Em comparação com Abidjan, a atmosfera é menos tensa.
A ausência de prédios faz com que a cidade se espalhe, e acabamos por ter a sensação de estar permanentemente numa grande vila, mas ainda não tive aquela impressão de estar numa capital (ainda que africana).
Um pouco à semelhança de Cotonou, no Benim, há muitas motorizadas. O fenómeno, aliás, foi importado de lá, e as queixas são as mesmas: falta de civismo a conduzir, imensos acidentes, o caos sobre duas rodas. E sem capacete, claro.
O hotel, a realidade que melhor conheço porque foi onde passei mais tempo até agora, não é má: é praticamente um resort, com acesso directo à praia, uma piscina olímpica aquecida e courts de ténis. Parece-me que há aqui uma série de pessoas de férias, muitos europeus.
Quanto a mim, temo que as impressões sejam sempre limitadas porque cheguei hoje e parto amanhã ao início da tarde. Mas espero ter a oportunidade de ver e sentir um pouco mais.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Chuva

Não gosto muito de chuva. Exceptuando aquela imagem romântica dum dia passado à lareira, enquanto chove lá fora, no resto do tempo não sou grande apreciador.
Se queremos sair, temos de levar guarda-chuva. Se levarmos um livro, uma revista, um documento, fica tudo molhado. Para circular de carro, é mais complicado. E por aí adiante.
Aqui, durante a época de chuvas, chove forte durante dias seguidos. Aos problemas mencionados, juntam-se também as inundações. E claro, para fazer desporto ao ar livre, também não ajuda.
Eu esperava que o tempo já estivesse mais seco, mas este ano não parece haver um intervalo entre a grande e a pequena época de chuvas. Por isso, frequentemente tem chovido, o que além de me incomodar, não me permite ir ao ténis quando quero, e preciso.
Mas é mais um esforço e vai passar. A seguir será o calor, e o sol permanente durante alguns meses seguidos.

Feriados por lei

Esta quinta-feira é feriado aqui. É um feriado muçulmano, que respeita a fase da lua e portanto não é fixo: só se sabe quando ocorre uns dias antes.
Mas do que eu quero falar não é deste feriado em específico mas a apetência aqui para aproveitarem todos os feriados, e sobretudo não estarem dispostos a abdicar de nenhum.
Assim, todos os feriados são válidos, sejam políticos, católicos ou muçulmanos. E quando ocorrem, o dia útil anterior é meio dia de trabalho, pois termina ao meio dia. Finalmente, e desta eu gosto particularmente, no caso do feriado calhar num domingo, é gozado na segunda-feira seguinte. E não é opção: é lei e aprovada. Mas acho que ainda não há feriados importados.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lixo

Hoje deve ter sido o dia municipal do lixo no Plateau e ninguém me avisou. Espero ser esclarecido no jornal de amanhã.
O Plateau, uma zona bastante asseada de Abidjan em comparação com o resto, estava esta manhã "mascarado" de Adjamé ou Abobo: lixo espalhado por todo o lado, nas ruas, nos passeios, em todo o lado, muito.
O primeiro amontoado vi-o da minha janela mal acordei. Pensei que tivesse sido um camião que tivesse descarregado involuntariamente naquela cruzamento. Mas depois de sair, verifiquei que era mais generalizado, e fiquei sem perceber o que se passou. No entanto, não consigo imaginar como terá acontecido sem ter sido uma acção voluntária. O que não é apenas bizarro, mas também um bocado nojento.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Confirmação

aqui tive oportunidade de partilhar que no meu regresso a Abidjan após as férias, tive várias surpresas ao nível da programação televisiva.
O CSI já era uma presença assídua no ecrã, mas agora passa também o Dr. House (primeira época), a "24" (julgo que a quinta época) e agora acabo de apanhar um programa do qual já tinha ouvido falar mas nunca tinha visto: um homem "caído" no meio da selva na Costa Rica e que deve sobreviver com muito poucos meios.
As novidades parecem confirmar-se. E sendo assim, apesar de não ver muita televisão, acaba por ser mais interessante, porque mesmo dobrado em francês, um episódio de Dr. House é sempre engraçado.

domingo, 13 de setembro de 2009

Taxista

Quando ando de táxi aqui em Abidjan, começo sempre por fazer um bocado de conversa com o motorista. Na minha cabeça, é uma forma de perceber se ele é dos bons ou dos maus, sendo maus aqueles que são criminosos e roubam os clientes.
Hoje apanhei um togolês simpático. Como todos, queixou-se da falta de clientes, piorada ainda mais com este período do Ramadão. E claro que ele me perguntou de onde eu era.
Ao saber que era português (mas poderia ter sido de qualquer outro país europeu), disse que "lá é que é bom, não é como aqui." E depois fez-me uma pergunta que achei curiosa: "porque é que vocês gostam tanto de África?".
Claro que subentendido vinha que eles tentam a todo o custo, e quantas vezes ilegalmente, sair daqui, e por isso têm dificuldade em perceber a nossa vontade de vir para cá. E apesar da minha resposta, politicamente correcta, não acho que tenha ficado convencido.

sábado, 12 de setembro de 2009

Atitude

Durante a manhã de hoje, e enquanto não começou a chover, assisti a um torneio de ténis local, para amadores. Foi tempo suficiente para ver uma cena que não é nova, mas que não deixa de me incomodar.
Quando cheguei, estava a jogar um francês, e a atitude dele durante o jogo deixava adivinhar alguns traços de carácter. Mas foi com ele já cá fora que tudo se confirmou.
Acabado de sair do court, vieram logo atrás dele 3 homens, não sei se costa marfinenses ou da região. E foi vê-lo num festim de "vai-me buscar a garrafa de água", "não consigo jogar melhor porque não preparaste bem a raquete", "arranja maneira de me secar isto" (apesar de não haver sol nenhum), e finalmente foi embora com um a carregar o saco, outro levava duas raquetes e o terceiro a garrafa de água.
Eu não conheço o passado dele. Também não conheço o futuro, mas parece-me que com alguma dificuldade será fora de países como este, dada a atitude. E se ainda ao menos lhes pagasse bem...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

8 anos depois...

O tempo passa tão rápido! Hoje é dia 11 de Setembro, data incontornavelmente ligada aos ataques às torres de Nova Iorque.
Lembro-me perfeitamente do dia de 2001. Devido a uma pequena lesão do futebol, estava em casa de perna esticada em cima dum puff quando o zapping me levou à CNN. E eis que assisti àquilo que é por demais conhecido.
Na altura estava a começar o meu segundo ano da faculdade; tinha um carro novo; jogava no Desportivo de Vilar; tinha 19 anos; não gostava de economia; tinha uma relação de meses; não comia tomate; não falava francês; já tinha o mesmo número de telemóvel; usava o mIRC (acho eu); e mais uma série de coisas.
Quando vejo o que me aconteceu desde essa altura, até custa a acreditar. É que parece que foi ontem, e um dia não dava tempo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Derrapagem orçamental?

O Hotel Ivoire é um ícone de Abidjan. Há quem o considere, em termos de significado, a Torre Eiffel daqui. No entanto, a negligência a que foi votado fez com que se degradasse de tal forma que acabou por ter de ser encerrado.
Agora, para o congresso anual do BAD (Banco Africano para o Desenvolvimento) que decorrerá em Abidjan, decidiram que seria no Ivoire... pelo que é preciso, em tempo recorde, refazer o hotel.
O plano inicial era começar pelo centro de congressos, depois passar ao edifício secundário e finalmente à torre, num total de 750 quartos. O centro de congressos parece realmente avançado, e dizem que abrirá em Dezembro deste ano. Mas o resto está com bastante atraso, e por isso foi decidido fazer tudo ao mesmo tempo. Tempo previsto para os trabalhos: 8 meses.
É possível? Decerto sim. Tem custos extra? De certeza que tem. Sabe-se quanto? Devia pelo menos ter-se uma ideia, mas não. Perante a pergunta, o presidente da empresa que gere o hotel e que está a dirigir as obras declarou ao jornal que não tem ideia. Digam-me se não é uma forma honesta de evitar derrapagens orçamentais.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Atravessar

Nos últimos dias, as pessoas por cá parecem estar a arriscar mais a atravessar a rua. Não me parece que seja um novo desporto, mas quase todos os dias vejo alguns casos arriscados... alguns deles frente ao meu carro.
Havia um jogo de computador que consistia em atravessar ruas, ou rios, sem ser atropelado por carros ou barcos. Claro que à medida que os níveis avançavam, os veículos andavam mais rápido. Aqui, parece-me que o pessoal chegou a um nível elevado. Espero que a seguir não venha o game over...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Novidades

Depois do regressar das férias, as emissões da televisão de que tenho subscripção parecem ter melhorado. Não sei se é da disposição (umas férias ajudam sempre), e vou esperar mais uns tempos para não me precipitar. Mas pelo menos durante uns dias, parece melhor e com algumas novidades.
Entre alguns filmes recentes (ainda não me apercebi se repetidos à exaustão, mas presumo que sim), a maior das novidades julgo ser o Dr. House. Embora dobrado em francês, sempre é uma melhoria (do ponto de vista de um fã, claro).
E agora vou desligar a televisão... para não esgotar já as novidades todas.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Dinâmica das línguas

Meiway: é este o nome artístico dum cantor/dançarino costa marfinense. É um nome artístico como outro qualquer, mas achei piada.
Não me parece preciso perguntar qual foi a influência para o nome. Muito me surpreenderia se não fosse o tema de Sinatra, apesar de a influência na música ser bem menor. E também acho que a sonoridade do nome, dito em francês, deve ser engraçada.
Finalmente, acho curiosa a facilidade com que aqui se apropriam e adaptam outras coisas, outros nomes, sem lhes deixar apenso qualquer tipo de identidade anterior. E deve contribuir para a dinâmica das línguas.

domingo, 6 de setembro de 2009

Eventos

O clube de ténis que frequento também faz eventos, como casamentos, baptizados, aniversários. São sempre momentos em que se junta muita gente, e também bastante álcool.
De todas as vezes que lá coincidi com um destes acontecimentos, sendo acontecimento de adultos, houve sempre confusão. De todas as vezes também, eram libaneses os envolvidos.
Não tenho qualquer tipo de preconceito em relação a libaneses, mas é uma constatação que faço. Juntando álcool e mulheres, que me parece ter sido sempre o motivo da discussão, há uma marcação de território agressiva, e que por sua vez é ainda mais alimentada pelos factores já mencionados.
Quem lá trabalha e já deve ter assistido a tantas destas situações, normalmente não presta muita atenção e encolhe os ombros, deixando que os envolvidos se entendam.

Cozinha libanesa

O jantar desta noite era para ser de cozinha libanesa, com alguns amigos. Fomos, de facto, a um restaurante libanês mas que estava fechado mas encontramos uma alternativa que permitiu manter o programa. Ou quase.
O local era simpático, na margem da lagoa (que felizmente hoje não emanava nenhum cheiro em particular). E perante um menú que nos era desconhecido, pedimos sugestões ao empregado com a menção de que "queriamos libanês", coisa que ele fez simpática e diligentemente.
Quando o jantar foi servido, vimo-nos perante algumas coisas tipicamente libanesas, mas outras que nada tinham de libanês. Ou assim pensamos...
Colocada a questão ao empregado, ele sem qualquer tipo de hesitação respondeu que tudo era fabricado no Líbano, excepto a coca-cola. É para aprendermos.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Patientez

A ideia que eu sempre tive das idas ao banco é que normalmente não são das coisas mais agradáveis ou interessantes, e que demoram sempre mais do que gostariamos.
Aqui, essa percepção tem sido ainda mais acentuada. Sempre que lá vou, seja qual for o motivo e quase independentemente da importância do assunto, demoro sempre para lá de 45 minutos. O que é desesperante, mas pelo menos dá sentido a uma palavra: é que no momento de dizerem "aguarde", dizem "patientez". Não podia estar mais de acordo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

"Farmosaria"

Há uma farmácia no Plateau (que originalmente se chama "Pharmacie du Plateau") que esteve uns tempos em obras. Agora reabriu e tive uma surpresa.
É que a decoração que fizeram alude mais a uma retrosaria do que a uma farmácia: tem uns panos às cores (amarelo, vermelho, verde, azul), pendurados do tecto em dois pontos e pregados ao chão noutro, pelo que formam triângulo que permitem ver para o interior. Mas ainda tenho de lá ir comprovar que não vendem tecido ao metro...
Este episódio faz-me pensar. Não que concorde com a decoração, porque se é uma farmácia e parece uma retrosaria, algo não está bem. Presumindo, claro, que os proprietários não pretendem esconder o negócio. Mas fico a pensar que dar as coisas por adquirido é redutor, é limitar-mo-nos ao quadrado. Afinal, duma farmácia eu espero um certo aspecto por hábito, mas não é necessariamente o único possível. Mas uma hipótese já está eliminada.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Férias

As férias acabaram. Foi o primeiro verdadeiro período de férias que tive desde que me encontro nesta situação de expatriado, e o objectivo era estar o máximo de tempo possível com as “minhas” pessoas. Isso foi conseguido, e ainda aliado a muita praia, bastantes passeios e bons jantares. Fiquei contente.
De regresso a Abidjan, até venho moreno, o que confirma a minha tendência para andar em contra-ciclo. Afinal, parece mais lógico (como muitas pessoas me relembram frequentemente) que à saída de Abidjan estivesse mais moreno do que à entrada, mas não é essa a minha realidade.
Como sempre nos regressos, já sinto a crescer em mim aquela luta interior mais intensa que durará alguns dias: apesar de me sentir revitalizado pelos momentos recentes no meu habitat, e que ajudam a aguentar com maior serenidade os meses de distância que tenho pela frente, queria mais. São as minhas overdoses de saudade.
Num exercício de distanciamento, estes momentos são muito interessantes, porque me obrigam a crescer: eu não nego que sempre que estou longe tenho um sentimento de falta praticamente constante. Por outro lado, não posso e recuso-me a substituir esse sentimento por uma depressão ou tristeza profundas.
Assim, o mais razoável sempre me pareceu “negociar” um equilíbrio, encontrando formas, escapes e pontos de contacto que permitem melhor lidar com a ausência. E uma parte importante desse processo, para mim, é olhar para diante, para a frente, para o futuro… e correr atrás dele.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Números bonitos

Há uns tempos, relatei aqui a minha surpresa quando descobri um mercado em que se trocam notas velhas por novas, cobrando uma taxa, apesar do valor facial ser igual. Pois hoje fiquei a conhecer um outro mercado que desconhecia: o dos números de telemóvel "bonitos".
Quando compramos um cartão de telemóvel, podemos tentar escolher entre os números disponíveis, tentando encontrar um que nos agrade mais ou tenhamos mais facilidade em decorar. Aqui, existem pessoas que os vendem.
É o que eles chamam os "números bonitos", e quem quiser um deles (tipo 07700707), só tem que se dirigir ao vendedor de rua que faz disso negócio. Em vez de 1.000 FCFA (cerca de 1,5€), paga-se 6.000 FCFA (cerca de 9€), mas fica-se satisfeito por ter um jolie numéro.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Moeda

Nos cruzamentos com semáforos há sempre pessoas a pedir dinheiro. Como é típico também, a confusão é bastante, com os carros que ocupam todo o espaço disponível.
Ontem estava parado num desses cruzamentos quando ouvi um forte estalido no carro. Após olhar em volta a tentar perceber o que se tinha passado, lá percebi: um senhor que seguia numa gbaka, tinha atirado da janela uma moeda a uma senhora pedinte. Como a pontaria (ou a força) não foi muita, a moeda fez escala no tejadilho do meu carro.
Claro que ele não pareceu minimamente incomodado com o assunto, pelo que simplesmente me sorriu. E eu sorri de volta.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Respeito... ou a falta dele

Os momentos em que o francês (ou a falta dele) mais me incomoda é quando me sobe o sangue à cabeça. Porque quero protestar mas não o sei fazer conveniente e fluidamente em francês, como ficou hoje provado.
Esta manhã tive de me dirigir a um guichet no banco, o que pressupõe uma fila e uma ordem. Já lá estava há uns bons 10 minutos quando chegou um senhor, que cumprimentou a senhora à minha frente. E cumprimentou como se já não a visse há imenso tempo, de tal forma que engataram uma conversa-de-pôr-em-dia. E nisto, ele foi-se chegando à frente, olhando-me de lado de vez em quando, mas finalmente tomou o "seu" lugar.
Eu já estava a antecipar o filme, mas deixei-o continuar na conversa até ao momento de chegar ao balcão, por haver ainda a hipótese de ele então deixar tudo seguir a ordem certa. Como é evidente não deixou, e como é evidente eu interpelei-o.
Nem o senhor nem a senhora ficaram muito contentes, e tentaram justificar-se com uma série de argumentos: que já estavam juntos antes, e não estavam porque eu ouvi o início da conversa; que na Europa os brancos fazem igual (e os racistas são os outros!), o que não me interessa para nada porque eu falo onde quer que me façam isto; e que eu devia respeitar os mais velhos porque ele podia ser meu pai, ao que respondi que então tinha de deixar passar pelo menos mais 6 pessoas atrás de mim por serem mais velhas.
Apesar do meu francês limitado para estas ocasiões, foi bem suficiente para lhe dizer que achava aquilo uma verdadeira falta de respeito e educação. Ele lá continuou a tentar justificar-se, até que num tom paternalista me disse "meu jovem, não fiques frustrado, deixa lá" e estendeu-me a mão para me cumprimentar. E eu aí não tenho problemas de expressão, pelo que ainda deve estar à espera do aperto de mão.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Manipulação?

Após o episódio dos detritos tóxicos que em 2006 foram autenticamente espalhados pela Costa do Marfim, tendo causado umas grande quantidade de vítimas, foi criada uma associação em sua defesa. Um dos objectivos era também conseguir as indemnizações.
As indemnizações foram conseguidas, e surpreendentemente hoje vem no jornal o presidente da associação a dizer que as vítimas estão satisfeitas com este resultado.
Eu não acompanhei o processo todo. Se a notícia for "autêntica", apesar de estranho, fico contente pelas pessoas e por a associação ter uma posição correcta; afinal, conseguiu o que queria. Se a notícia for manipulada, e ainda para mais numa conveniente altura pré-eleições, então já não fico tão satisfeito. Tenho dúvidas.

domingo, 9 de agosto de 2009

Domingo de praia

Este domingo fui almoçar e passar a tarde na praia, no maquis dum amigo. É um programa que sigo em alguns domingos, e que permite relaxar um pouco.
O tempo é passado entre jogos de ténis de praia ou de petanque, que permitem fazer um bocado de exercício misturados com muita diversão, mas também de uns refrescantes banhos de mar.
Além disso, o menu é bom (aconselho a lagosta), e a companhia também.
A parte pior é o regresso, com pelo menos 3 controlos da polícia para passar e que uma vez ou outra incomodam um bocado. Mas vale a pena.

Ora chuva, ora sol

Querer fazer desporto e não poder, é uma chatice. Mas é o que me tem acontecido de há uma semana para cá.
A época de chuvas parece estar com dificuldades em acabar. Ora chove, ora faz sol, o que torna difícil programar actividades ao ar livre, como é o caso do ténis.
Assim, e apesar de ter tentado várias vezes esta semana, todas foram canceladas por ter começado a chover. Hoje passou-se a mesma coisa. A ver como será amanhã.

sábado, 8 de agosto de 2009

Aperitivos e Cª

7 de Agosto, dia da independência da Costa do Marfim, feriado. Simpaticamente, fui convidado por um amigo para a refeição, em família, que correu muito bem. Pessoas de áreas distintas, com interesses e perspectivas diferentes tornam o convívio um prazer.
Mas foi preciso algum cuidado no que à bebida diz respeito, porque o ritmo foi bastante elevado. Entre aperitivos generosos, 3 garrafas de (bom) vinho tinto e digestivos, seria fácil perder o norte. Felizmente, foi tudo bastante alongado no tempo, o que não impediu de ver um padre que bebe armagnac como quem bebe água.
Após tudo isto, apeteceu-me beber um café, pelo que me dirigi a um simpático bar perto de minha casa... onde encontrei um outro grupo de amigos, com quem acabei por partilhar um copo de vinho do Porto. Ainda bem que amanhã é sábado.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Engarrafamento

A final de taça de futebol foi hoje, às três da tarde. Foi no estádio de Abidjan, que fica à face de uma das estradas mais movimentadas da cidade, essencial para que tudo funcione.
Ora, talvez recordados do drama do jogo de selecções de há uns meses, as medidas de segurança foram mais apertadas, e incluiram limitar a circulação na estrada mencionada.
Escusado será dizer que isso paralisou a cidade durante umas horas. Engarrafamentos infernais em todo o lado, daqueles em que nem as motos conseguem passar de tão compactados estão os carros. E eu ali, que mais valia ir a pé. Mas também não era fácil abrir a porta...
De repente, depois de uma hora com alguns metros percorridos, os carros começaram a avançar, e não vi nenhuma medida que justificasse tal engarrafamento. Será que os engarrafamentos também podem ser psicológicos?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Brigada do ambiente

Na zona do Plateau, coração económico de Abidjan, o movimento durante os dias da semana é imenso. Por conseguinte, também é imensa a poluição, a vários níveis.
No que diz respeito aos detritos, no entanto, há agora um novo grupo para os combater. Na realidade, o responsável político desta zona demonstra alguma preocupação com o ambiente, e com a limpeza. Presumo portanto que tenha sido ele que idealizou este grupo de delegados que têm como objectivo (segundo o entendo pelo que têm escrito nas tshirts) sensibilizar as pessoas para o assunto e para as vantagens de manterem o espaço limpo.
Não sei qual a eficácia ou o alcance da medida, mas a ideia de começar pela educação parece-me boa. Com a propaganda certa, os meios adequados e o tempo necessário, julgo que pode dar bons resultados. Assim o desejo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Meia página

Acho imensa piada às notícias do jornal de maior tiragem da Costa do Marfim, que será comparável ao Jornal de Notícias.
Uma notícia é a transmissão da informação sobre um facto, e normalmente não se quer adornada de opinião. Mas aqui elas tornam-se bem mais coloridas: algumas são autênticas crónicas de opinião, e outras autênticas telenovelas. O jornalista faz juízos de valor, coloca perguntas e responde, cria um argumentário que conduz a ideia de quem lê.
E é assim que algumas notícias que podiam ser resumidas a meia dúzia de linhas tomam forma em meia página. O que sempre dá espaço para condenações, condecorações, para bestas e bestiais. E frequentemente, para rir um bocado.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Frio

Tshirt e calções: eis a minha indumentária habitual para o ténis (o que não tem nada de extraordinário) e eis como me apresentei hoje para jogar. E de repente, uma pergunta que me surpreendeu: não tens frio?
Actualmente não é a época mais quente nesta região, mas para nós continua a ser calor. É verdade que à noite, se estiver vento, pode tornar-se mais desagradável, mas estamos sempre acima dos 20ºC (hoje estão 24ºC, por exemplo), o que para mim é óptimo mas para os locais, é quase frio glacial.
Eu rio-me mas percebo, sobretudo quando penso nos alemães, ingleses, suecos e afins que passeiam de tshirt em Portugal no Inverno. Bem há quem diga que o frio é psicológico.

domingo, 2 de agosto de 2009

Obsessão

Dizia-me recentemente uma francesa que está em Abidjan há 3 meses, que tinha a impressão que toda a gente aqui não pensava senão em dinheiro.
É verdade que é algo em que, directa ou indirectamente, e com maior ou menor frequência, todos pensamos. Mas essa frequência aqui parece ser muito elevada.
Apresentem um contrato a alguém e a cláusula sobre a qual farão perguntas é a da remuneração. É bem possível até que seja a primeira que procuram para ler. Tragam um produto para vender, e a discussão vai centrar-se quase exclusivamente no preço. Sejam simpáticos com alguém, e é muito possível que vos peça dinheiro. Adiantem a possibilidade de dar mais alguma responsabilidade a alguém, e a primeira pergunta é quanto isso vai acrescentar ao salário. Mesmo a brincar, as "bocas" são frequentemente sobre dinheiro.
Para nós, menos habituados a esta obsessão, torna-se cansativo. Por outro lado, também facilita as coisas, porque reduz a imprevisibilidade. E, duma forma ou de outra, acabamos por nos adaptar.

sábado, 1 de agosto de 2009

Extintores

Recentemente encontrei um dos bombeiros do prédio a verificar os extintores no hall do meu piso. Mas quando falo em verificar os extintores, não significa ver a validade para garantir que funcionarão quando necessário. Falo em verificar se os extintores estão lá.
Antes de saber o que ele ali estava a fazer, reparei que não parecia muito satisfeito com a tarefa, e por isso o interpelei e perguntei se tudo estava bem. E foi então que ele me disse que sim, mas que tinha de verificar se os extintores ali estavam porque são roubados frequentemente.
E então percebi a má-disposição: provavelmente tem de fazer a inspecção todos os dias, e o prédio tem 17 andares.

Lista

Ontem à noite passei com uns amigos numa padaria/confeitaria onde se pode comer qualquer coisa a horas tardias.
O plano não foi mau, e a acreditar pela enumeração inicial do empregado, até parecia haver muita escolha. Decidimo-nos por duas pizzas diferentes. O problema foi que da mesma forma que nos tinha dito o que tinha, também começou a dizer que não tinha. E mesmo as pizzas, quando a encomenda já estava passada, teve de ser alterada e acabaram por vir duas iguais.
Afinal, a lista não era assim tão generosa...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Curandeiro

A semana passada, o meu empregado contou-me que o seu irmão estava no sofá a ver televisão e, quando se quiz levantar não conseguiu. Ficou sem andar e com o braço esquerdo paralisado.
Levado para uma clínica, foi submetido a uma série de exames, que ele não me soube dizer quais, bem como não me soube dizer qual o diagnóstico.
O caso deve ter alguma gravidade: ficar de repente sem acção nas pernas e num braço não parece um bom sinal. É provavelmente algo que não se cura de um dia para o outro.
Ontem perguntei-lhe pelo irmão, ao que ele me disse que tinha deixado a clínica e ia agora a um curandeiro. Fiquei sem saber o que dizer: por um lado, para a minha mente ocidentalizada e científica, acho que é um erro. Mas ele (o irmão) parece acreditar, e não ia mudar de ideias devido à minha opinião. Assim, se vai ao curandeiro, pelo menos que leve a fé.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Livros de almoço

Durante a semana, normalmente almoço em casa, e torna-se um momento do dia que gosto particularmente.
Gosto porque me permite fazer uma pausa muito agradável, em que ponho a tocar a música que me apetece e acompanho com um livro. E livros e música são para mim uma combinação excelente.
Assim, do mesmo modo que há quem tenha livros de casa de banho, eu tenho livros de almoço. E que bem que me sabe!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Diferenças culturais?

Há coisas que nos apanham de surpresa, e que não são fáceis de justificar com diferenças culturais. Mas é possível que assim seja.
Hoje recebi a visita de uma pessoa no meu local de trabalho. Uma pessoas que é fumadora, mas até aí não tenho muito contra. Já tenho contra o facto de começar a fumar dentro do meu gabinete, e de o ter de mandar para a varanda. E finalmente mas não menos importante, incomoda-me o facto de ter atirado a beata para o meu chão da minha varanda, e de o ter de obrigar a apanhá-la para a deitar na sanita, visto que não tenho cinzeiros.
Volto a dizer que podem ser diferenças culturais, mas confesso que tenho alguma dificuldade.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tanto faz

A data das eleições aproxima-se. Entre uns que dizem que vão ser feitas, e muitos que duvidam, a verdade é que a própria classe política não parece inteiramente convencida. Ou interessada.
Hoje, uma das gordas do jornal trazia a declaração duma das figuras políticas da praça: diz ele que o mais importante não é a data, que mais mês, menos mês, tanto dá. E remata com um "o mais importante é que se realizem".
Eu já estive mais certo de que as eleições serão feitas. Pensei que por aqui já estavam cansados dos problemas, e que a pressão da comunidade internacional ia ajudar. Mas o tempo passa e vejo demasiadas oscilações. Além disso, dizia-me um amigo na semana passada: "há 7 anos que cá estou e desde sempre ouvi falar das eleições. Acho que mais 7 também não fazem grande diferença". O que só dá razão ao outro: tanto faz.

domingo, 26 de julho de 2009

Cor

Recentemente conheci um francês aqui em Abidjan, com quem tenho estado algumas vezes e tem sido bastante interessante, com algumas discussões sobre temas vários e frequentemente com pontos de vista muito distintos.
Ele é chefe de cozinha. É de Lyon, viveu alguns anos em Dakar, trabalhou em Londres, Colónia e Paris. E recentemente veio para Abidjan.
Apresentei o percurso dele porque acho que não é alheio ao interesse das discussões. Não quero com isto dizer que quem não viaje ou não tenha trabalhado em vários sítios não seja interessante. Mas quem o fez acaba por ganhar mundo, ter perspectivas diferentes, sofrer influências que disputam as próprias ideias. E assim, a partilha ganha mais cor.

sábado, 25 de julho de 2009

Dois pares de meias

Dois pares de meias finais, foi o meu programa televisivo desta tarde, num sábado passado tranquilamente em casa.
Eu adoro desporto, e gosto de assistir ao vivo ou na televisão. E hoje tive a sorte de apanhar as duas meias finais do torneio de ténis de Hamburgo, e as duas meias finais do mundial de voleibol, a decorrer na Sérbia.
Assim, comecei por uma meia final de ténis, a seguir passei pela meia de vólei, voltei ao ténis e terminei com o vólei. Ufa, quase deu para ficar cansado de tanto ver correr.

Assédio

A homossexualidade não é, sinceramente, algo que me incomode. Nem é, sequer, algo sobre que faça juízos de valor. Mas confesso que fiquei surpreendido por, pela primeira vez na minha vida, ter sido abordado abertamente por um homossexual, e ter sido aqui em Abidjan.
Assédio de raparigas existe em praticamente em todo o lado, seja em bares, discotecas, hotéis ou na rua. Quando se sai à noite, onde quer que se vá, há sempre em maior ou menor quantidade. Entre homens é bem mais raro, mas aconteceu.
Foi no Mix, uma discoteca muito simpática na Zone 4. Entre umas músicas bastante dançaveis, aproximou-se um jovem que a determinada altura já estava demasiado perto. E eis que, disfarçadamente, me pegou na mão!!
Ainda pensei que fosse a rapariga que estava ao lado, mas após breve confirmação, era mesmo ele. O esclarecimento foi rápido, e nada mais se passou, mas a surpresa ficou.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

CD riscado

A vida "moderna" é feita a correr. O tempo escasseia, é preciso encontrar soluções. E eis que aparecem as saladas pré-preparadas. Mas há mais consequências, que também se notam na televisão.
Há um canal de notícias chamado "i Tele" que não se consegue ver durante mais de 15 minutos, porque por essa altura já deu o mesmo telejornal 2 a 3 vezes. É basicamente um concentrado de notícias, e presumo que este modelo seja a pensar na malta das saladas.
Recentemente, aventurei-me a ver o tal canal durante 30 minutos, e também cheguei à conclusão que os repórteres dos directos devem pensar que são papagaios, de tantas vezes têm de repetir a mesma coisa em tão pouco ! Não deixou também de ser giro ouvir o apresentador dizer "nova edição já de seguida"... e era mesmo de seguida, e o mesmo apresentador, e as mesmas notícias e os mesmo directos. Se fosse um CD, diria que estava riscado.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Documentário

Parece que há relativamente pouco tempo passou na televisão portuguesa um documentário sobre Abidjan. E diz quem viu que os três temas escolhidos para retratar a cidade não foram muito favoráveis. A saber: o lixo, o trânsito e a prostituição.
O denominador comum aos três é a quantidade. Muito lixo, muito trânsito, muita prostituição. E o pior é que é verdade.
Infelizmente, não são características raras em muitas outras cidades, africanas mas não só. E assim não admira que eu não tenha muitas visitas.

Síndrome do credor

A notícia é clara a condenar Guardiola, treinador do Barcelona: como se atreve ele a não estar interessado em Eto'o?
Independentemente do valor do jogador, há já muito tempo que ele demonstra ter uma personalidade complicada, difícil de gerir no seio dum grupo de trabalho. Aliás, não foi nem é o valor futebolístico de Eto'o que está a ser posto em causa, e com certeza que nenhum clube toma de ânimo leve uma decisão de se separar do melhor marcador da equipa da época passada.
A mim, tanto me dá se as pessoas são brancas, negras ou amarelas. Até podem ter pintas. E irrita-me a descriminação (negativa e positiva), praticada por quem quer que seja, assim como este "síndrome de credor" que conduz qualquer acção para a esfera do racismo e do colonialismo. Irra!

Mensagens de fugida...

Talvez tenham notado que há dois dias que não actualizo o blog: estou com problemas na internet em casa, o que me está a causar problemas para publicar esta mensagem número 300.
Assim, e enquanto não resolver os tais problemas, as mensagens vão ser de fugida, em horas de intervalo ou de final do trabalho. São as condições actuais, há que encontrar soluções. Mas espero que passe rápido, porque o blog já me faz falta.

domingo, 19 de julho de 2009

Georomantismo

Apenas hoje me apercebi da influência da geografia nos símbolos do romantismo.
A maioria da costa portuguesa está virada a Poente, pelo que o sol se deita sob a linha do horizonte. Além duma vista desimpedida, o reflexo na água completa o cenário, e uma passagem pela praia é sempre inspiradora.
Mas aqui, a praia está virada a Sul. E por isso, o por do sol fica alinhado pela praia, escondendo-se por detrás dumas árvores e dumas palhotas. Não é a mesma coisa...

sábado, 18 de julho de 2009

Sesta

Barriga cheia e uma temperatura agradável são boa condições para fazer uma sesta. Foi o que fiz esta tarde, e soube-me muito bem.
De manhã fui trabalhar, mas após almoçar estendi-me a ver televisão. Escusado será dizer que televisão foi o que menos vi: adormeci e acordei duas horas depois. Falta agora ver se não me vai afectar o sono da noite, mas foi tão bom que voltaria certamente a fazê-lo.

Sinais de luzes

Lembram-se quando um sinal de máximos significava que a polícia estava próxima? Decerto não, porque é uma prática em vias de extinção... Mas não em todos os sítios.
Aqui, logo que uma operação stop é vista, tenta-se avisar tantos condutores quanto possível, com sinais de máximos insistentes. É em parte uma reação quase natural, aos polícias com radares escondidos no meio das plantas dum horto, atrás duma bananeira ou no meio das ervas. É sobretudo uma reacção contra os crimes de extorsão praticados pelos agentes da autoridade.
Estou, assim, convencido que um aumento da confiança na polícia e nas suas intenções será acompanhada por uma diminuição dos sinais de luzes. Mas vai ser um processo longo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Chuva e camiões

Chuva juntamente com camiões, é uma óptima combinação para destruir estradas. E onde houver muito dos dois, mais ainda.
Chuva é certo que há aqui com fartura, sobretudo nesta época. E na zona do porto de Abidjan, camiões são o que não falta. Logo, se a estrada lá já estava em más condições dada a intensa utilização, agora está quase impraticável. Tem várias piscinas (quando não está a chover), que se transformam em rios (quando volta a chuva), e buracos que apenas os todo-o-terreno e os camiões conseguem ultrapassar. Mas não os carros de passageiros, que ficam apoiados no chão, ou então com algumas peças espalhadas em caso de má pontaria.
Consequência: engarrafamentos infernais, impaciência, impossibilidade de respeitar horários. Talvez fosse boa ideia arranjar a estrada, antes que os buracos dum lado e outro se liguem e ela fique verdadeiramente cortada.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Surpresa

Aconteceu-me algo que pensei ser impossível aqui, e que passo a partilhar.
Precisei de ir à esquadra da polícia para obter o certificado de residência. Traduzindo, precisei de me dirigir a um organismo público, em que as pessoas andam de uniforme, para obter um documento assinado por alguém que manda.
Consciente do que acontece na estrada, e um pouco por todo o lado sempre que há uma "necessidade", ia preparado para resistir o melhor possível (ou direi antes negociar?) às condições extra que me pedissem. Surpreendentemente, nada se passou. Ninguém se insinuou, ninguém me pediu nada, e entregaram-me o certificado poucas horas depois. Com esta não contava.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Rue 12

Notícia do dia: na Rue 12, em Treichville, um homem não gostou do trabalho dum outro, e deu-lhe um tiro. Entre a morte e um ferimento grave, ainda não sei qual foi o resultado ao certo.
O que é certo é que este episódio descambou numa pequena guerra. O agressor é um libanês, o agredido um costa marfinense. E aqui, entre libaneses e costa marfinenses, o clima é sempre de tensão e as consequências não foram insignificantes: um grupo de jovens costa marfinenses, não necessariamente amigos do agredido mas simpatizantes da causa, destruiram e saquearam uma série de lojas na referida rua. Veio a polícia de intervenção, o gás lacrimogéneo e presumo que as coisas tenham acalmado.
No entanto, o episódio não é desprezável e demonstra como é possível despoletar algo de grave, de dimensões maiores. Espero que fique por aqui.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Anne Marie

Anne Marie: é esse o nome da empregada de limpeza sobre quem vou escrever esta crónica.
Quando cá cheguei e falei com ela para firmar o nosso acordo de trabalho, timidamente ela disse-me que duas tardes por semana tinha aulas. Pareceu-me que ela pensava que isso impediria a sua contratação.
Não só não impediu como uma das condições para ser contratada foi não abandonar a escola. Porque ao final de tantos anos sem saber ler nem escrever (ela está na casa dos 40 anos), pareceu-me apropriado apoiar a sua vontade de aprender.
Durante este ano, por várias vezes me mostrou os seus cadernos, os seus trabalhos de casa, os seus exames. Há uns meses percebi que a sua maior dificuldade estava no francês, pelo que a aconselhei a ler bastante e, passados uns dias, ofereci-lhe o "Principezinho" de Saint Éxupery.
Hoje, a Anne Marie veio ter comigo para me dizer que tinha acabado de o ler. Além disso, tinha gostado muito. E melhor ainda, percebeu no essencial a mensagem.
Confesso que fiquei muito contente, a raiar o emocionado, tal como ela: julgo que foi o primeiro livro que leu, e penso que há uns meses ela não se imaginava sequer capaz de o fazer. A sua vontade de aprender é um exemplo para muita gente, e não apenas em África.

domingo, 12 de julho de 2009

Equilíbrio

Este fim de semana foi agradável, tendo contado com descanso, leitura, desporto e até algum sol. Mas não deixou de ser um fim de semana solitário, incompleto.
Na realidade, ainda que não tenha estado sempre sozinho, também não estive com aqueles de quem mais gosto, e isso faz com os fins de semana nunca sejam excepcionais.
Já perceberam, certamente, que são as saudades a falar. Saudades com as quais, com algumas pontuais excepções, acho que lido bem: sinto que é um exercício mental constante, mas não as deixo, nem posso deixar, chegar a ser dramáticas. E de fim de semana em fim de semana, aqui ando neste equilíbrio.

Zigue zague

Quando regressei a Abidjan desta vez, a minha rua parecia ter sido bombardeada, de tantas crateras que tinha.
Após alguns dias a fazer zigue zague para escapar a buracos capazes de partir suspensões e rebentar pneus, eis que os trabalhadores apareceram para corrigir o problema. Trabalharam um dia inteiro (incluindo parte da noite) e os buracos desapareceram. Momentaneamente, pelo menos.
É que logo no dia seguinte, choveu. E como devem ter usado uma "cola" de má qualidade, lá se foi o alcatrão que utilizaram. Voltaram as crateras, voltou o zigue zague.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Serão

Antes de jantar apetecia-me ir tomar um café fora após a refeição. Mas lá fora está muito escuro: esta parte da cidade está sem iluminação pública desde há uns dias. Além disso, hoje foi um dia de chuva torrencial, pelo que a noite pode ser igual. E finalmente, o sofá convenceu-me.
Assim, vou ficar por aqui, a ver filmes aos bocados e a ler as memórias de Che Guevara sobre a guerra da revolução cubana. Não é um mau programa.

Férias escolares

As férias escolares começaram aqui em Abidjan. O que significa um aumento dos vendedores de rua.
Em Portugal, uma boa parte dos miúdos não podem sequer atravessar a rua sem serem acompanhados duma mão adulta, mesmo que no verde e numa passadeira. Aqui, vão para o meio do trânsito vender pastilhas elásticas. É uma forma das famílias terem uns rendimentos extra, mas não deixa de ser impressionante ver crianças de 8, 9, 10 anos a fazer slalom entre carros, motos e autocarros, correndo atrás das janelas abertas a oferecer o que têm para vender.
Só uma vez vi um deles atropelado, mas julgo que deve ser mais frequente do que isso. Porque eles são muitos, e os veículos ainda mais. E apesar de uma maturidade forçada, não deixam de ser crianças. E assim vão ser os próximos 3 meses.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Conhecimentos

Hoje fui jantar com um amigo senegalês. Chamar-lhe amigo será um pouco exagerado: conheci-o ontem na pré-viagem e viagem entre Paris e Abidjan.
Eu tenho uma simpatia especial pelos senegaleses. Penso que têm uma forma de estar que encaixa na nossa, e acho-os afáveis e simpáticos. E julgo que quando se viaja mais frequentemente, acaba-se por ter mais tendência para conhecer pessoas nos aeroportos e aviões. Ocasionalmente, encontram-se pessoas muito interessantes, e a pouco e pouco cria-se uma rede de amigos e conhecidos espalhada pelo mundo.
E assim, tenho agora casa em Paris e Dakar. Em troca, ofereço casa no Porto e Abidjan. Não me parece nada mal.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Expansão

Regressei hoje a Abidjan. Olhando para o calendário, já faz mais de um ano desde que aqui cheguei pela primeira vez, a 28 de Junho do ano passado.
Ao contrário dessa ocasião, em que o céu estava limpo, desta vez fui recebido por um tempo chuvoso. O calor mantém-se, mas não deixa de ser engraçado como já não noto, ou pelo menos como já sinto menos as mudanças de condições.
Num ano tanta coisa muda! Mudam as condições, muda a cidade, muda a nossa relação com ela. É evidente que me sinto hoje muito mais ágil, muito mais à vontade em Abidjanm apesar de continuar a ser uma relação, atrevo-me a dizer, profissional. Toda a emoção está a muitos quilómetros daqui, tal como acontecia há um ano. Mas a expansão continua, e o balanço é muito positivo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

20 horas

Até já, Abidjan; olá, Portugal.
Por uns dias, estarei em Portugal e como já é hábito, isso significa uma provável ausência do blog. Compreender-me-ão, certamente.
Chego no dia de São João, já com os churrascos frios e os balões lançados, mas ainda com o cheiro a manjerico. Só me faltam 20 horas de aeroportos e aviões.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Confiança

Todos os negócios, de grandes a pequenos, se baseiam na confiança. Mesmo quando vamos comer uma torrada, estamos a confiar que ela não só é bem feita como não terá nenhum produto que nos vá prejudicar.
Pois uma lavandaria não escapa à regra. Quando lá deixamos a roupa, confiamos que não a vão estragar, e que a vão entregar, e até que a vão entregar num determinado prazo.
Mas esta última parte tem-se revelado muito difícil por cá. Uma vez foi com as camisas, que demoraram uma semana. Agora foi um fato, que lá deixei no sábado com a promessa de estar pronto hoje. Não estava. Ainda bem que tenho outros.

domingo, 21 de junho de 2009

Paella

Paella em Abidjan: é possível, comprovei-o hoje e estava muito boa.
O restaurante do qual já aqui tive oportunidade de falar é um verdadeiro mimo, e vai-me surpreendendo pela variedade e qualidade dos pratos. Ao domingo têm paella, mas é preciso marcar para garantir que se consegue provar, tal é o sucesso.
Estava de facto cheio, e mais uma vez não desiludiu. Acompanhada dum bom vinho branco bem fresco, a paella estava deliciosa.
Curiosamente, os pratos onde acho o restaurante mais fraco são aqueles onde deveria ser mais forte, visto que é originalmente um restaurante italiano: pizzas e pastas vou comer a outro lado. Mas o resto compensa largamente, e até se esquecem as raízes.

sábado, 20 de junho de 2009

Televisão à chuva

Quando chove muito, a televisão deixa de dar. Não preciso nem de olhar para a janela: basta ter a televisão ligada.
Por isso, está condenada à partida aquela ideia dum confortável domingo de chuva diante da televisão, até porque aqui quando chove é sempre muito, e portanto é certo que a televisão vai falhar. Haja internet.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Destino

Um lagarto na piscina não é muito comum. Não consta que eles tenham muito calor, ou que tomem banho por prazer. A conclusão é que deve ser acidente, e as perspectivas não são boas.
Pois hoje salvei um de afogamento. Cheguei já ele estava de barriga para cima, mas ainda vivo. Tirei-o da água e ele correu uns metros pelo jardim até se imobilizar, porventura para se recompor do choque.
Fiquei contente com este pequeno gesto, e mais ainda quando verifiquei que ele já não estava no mesmo local. Recuperado, julguei eu.
Mas logo de seguida, vi na rua uma pega com uma presa. E quem era a presa? Um lagarto, ao qual ela deu uma série de bicadas até o levar para longe.
Não tenho a certeza que fosse o lagarto que salvei de afogamento. Mas acho que as probabilidades são grandes. Quem me manda interferir com o destino?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Contas à vida

Existem trabalhos arriscados. Ser vendedor de peças avulso na estrada, no meio do trânsito, é um deles.
É o que acontece aqui em grande escala: vendedores com os mais variados artigos espalham-se pela cidade, serpenteando pelo meio dos carros, a mostrar às janelas o que têm para oferecer.
Mas fazem-no, normalmente, em zonas de engarrafamento, onde a velocidade das viaturas é baixa, reduzindo por isso os riscos. Hoje, no entanto, vi uns vendedores com um novo modelo de negócio, desenvolvido em plena via rápida onde os carros circulam... como numa via rápida.
Ora, à minha frente, um carro não se apercebeu da presença de um dos vendedores (eram dois) e fez uma manobra que obrigou o outro carro, na faixa à esquerda, a desviar-se indo direito ao segundo vendedor. Este acabou por conseguir dar dois passos rápidos e atirar-se para o separador central. Sim, atirar-se como se vê nos filmes.
Talvez seja altura de fazerem contas à vida.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Greve

A greve é um direito. É um direito que deve ser exercido em determinadas condições, mas é também um instrumento delicado, pois facilmente se perde a razão.
Actualmente em Abidjan há dois pólos de greve claramente identificados: um é ao nível dos trabalhadores do porto de Abidjan, e outro ao nível dos médicos do serviço público.
A dos médicos começou mais recentemente, apesar de já pairar a ameaça no ar havia algum tempo. A dos trabalhadores do porto é mais antiga, e pelos vistos esgotaram-se as ideias.
Não é que este início de semana, talvez impelidos pelo tédio, resolveram parar dois autocarros da empresa de transportes públicos e incendiá-los? Qual a ligação com as reivindicações? Nenhuma. Talvez a seguir os médicos destruam uma loja de electrodomésticos.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Acordo

O meu primeiro dia em Cotonou (domingo passado) foi logo marcado por um episódio que até tenho dificuldade em catalogar. Vou adoptar o hilariante.
Quando cheguei ao hotel depois de jantar, reparei que não tinha nem champô nem gel de banho, pelo que me dirigi à recepção. Simpaticamente, o sr. Barthélemy disse-me que não podia acudir à minha necessidade naquele instante, visto que a pessoa que tem a chave do economato já tinha saído... e levado a dita cuja.
Então, ainda mais simpaticamente, prontificou-se a levar-me os produtos às 7h, para eu ainda ter tempo de me preparar. Simultaneamente, pedi a wake up call para as 6:45h. Até aqui, tudo perfeito.
O problema é que entre as palavras e os actos vai uma longa distância. Às 6:45h acordei... com o despertador, porque da wake up call, nem sinal. Esperei até às 7h. Esperei até às 7:05h. Liguei para a recepção.
Felizmente, tinha-lhe perguntado o nome já para me precaver, e após uma interjeição de quem se esqueceu completamente, lá veio a correr.
A parte hilariante ainda vem a seguir. Mal abro a porta, e talvez numa tentativa de me apanhar estremunhado e pronto a dar-lhe alguma coisa pelo bom serviço, ele atira um surpreendente "Eu cumpri a minha parte!!". Azar: eu já estava acordado há bastante, e já tinha praguejado um bocado sobre a sua pessoa, pelo que lhe recordei ponto por ponto o que tinha sido acordado e fechei a porta.
Porta batida, não pude deixar de me rir sozinho. E tomar um belo dum banho para começar o dia.