quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Esperança, frustração, impotência...

A Costa do Marfim atravessa momento delicados, importantes e possivelmente decisivos. Eu tenho acompanhado e vivido tudo, mas sinto que me faltam as palavras para descrever o que se vai passando, provavelmente devido ao misto de frutração e impotência que sinto.
No passado domingo foi a segunda volta das eleições, que foi menos concorrida do que a primeira (cerca de 70% de participação contra 84% a 31 de Outubro) e com muito mais tensão. Apesar dos dispositivos de segurança terem sido reforçados, parece ter havido mais incidentes. As conclusões são díspares: enquanto alguns grupos de observadores dizem que não se poderão considerar eleições democráticas e transparentes, outros dizem que sim. As Nações Unidas alinham pela segunda opinião, não sem notar a ocorrência de alguns incidentes, mas que no global não colocam em causa a validade do escrutínio.
O que se tem passado desde então é quase indescritível, mas parece resumir-se ao seguinte: o actual presidente, Laurent Gbagbo, e candidato à sua sucessão, perdeu para o seu arqui-inimigo Alassane Ouattara. E não obstante as juras de que aceitaria o resultado saído das urnas, não é o que as suas acções demonstram.
A comissão eleitoral, que tinha um prazo de 72h para comunicar os resultados não conseguiu fazê-lo, aparentemente porque os representantos do actual presidente sabotaram o processo para que o assunto passasse para o conselho constitucional, reconhecidamente alinhado com Laurent Gbagbo.
Ontem à tarde, numa cena recambolesca e perante as câmaras da televisão, o porta-voz da comissão eleitoral tentou anunciar os resultados, tendo sido impedido por dois representantes de Gbagbo, que entraram em cena e lhe arrancaram os papéis da mão, garantindo que o prazo de 72h expirasse.
Agora o panorama é o seguinte: desde sábado passado e até próximo domingo pelo menos, está instalado um recolher obrigatório, entre as 19h e as 6h; a comissão eleitoral anunciou esta tarde os resultados, que foram transmitidos pela France24 e iTele, canais que foram por isso cortados; todas as fronteiras (aéreas, terrestres e marítimas) estão fechadas desde as 20h de hoje até nova ordem; a televisão pública passa continuamente apenas e só notícias pró-Gbagbo... Etc, etc, etc.
Isto são coisas que eu conheci pelo que ia lendo nas notícias: recolher obrigatório, controlo de imprensa e informação... mas vivê-lo é completamente diferente.
O que se vai passar, não sei. Mas sei que esta não é a vontade da maioria da população, que saiu massivamente para votar porque estão cansados do que vivem diariamente e querem mudar. Vontade que lhes está a ser minada por um pequeno grupo de pessoas incapaz de largar o poder.
Confesso que por momentos, após a forma como se decorreu a primeira volta e o debate televisivo entre os dois candidatos, pensei que isto pudesse correr bem, esperança que se está a revelar infundada. A minha e a de milhões destas pessoas...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Finalmente!

As eleições presidenciais na Costa do Marfim, há tanto tempo esperadas, tiveram finalmente lugar no passado domingo, dia 31 de Outubro 2010!
De várias perspectivas, tem sido um período extremamente interessante, pleno de emoções: voltarei a várias delas nas próximas crónicas.
Hoje, aquilo que quero partilhar e destacar é a enorme adesão da população costa marfinense ao escrutínio, que rondou os 80%.
Mas não é o número que mais impressiona. É a vontade das pessoas. Velhos e novos dirigiram-se para os locais de voto 2 e 3 horas antes da abertura, marcada para as 7 da manhã. Algumas pessoas dormiram à porta. Todos queriam votar, e tinham medo de não o conseguir fazer.
E era vê-los, debaixo do sol, em pé ou sentados onde podiam, deixando um espaço aberto por onde passavam as pessoas mais idosas ou grávidas que não podiam esperar. E esperaram horas, sem agressividade ou impaciência exagerada, acima de tudo felizes por poderem participar pela primeira vez numas eleições verdadeiramente livres e democráticas.
Foi assim que às 15h já não havia praticamente ninguém para votar. Por essa hora, tinham-no feito quase cinco milhões de pessoas, que provaram que querem ter liberdade de escolha, que querem paz e que merecem melhores dirigentes. Foi comovente.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Anedota?

Algumas coisas parecem anedota, mas não são. Querem um exemplo?
Hoje o dia decorreu normalmente até ao final da tarde. Por volta das 18h, um comunicado emitido na televisão nacional anunciava que os dias de amanhã e quarta-feira seriam considerados feriado. Razão: permitir à população recuperar os seus cartões de identidade e eleitor, cuja operação de distribuição ainda não está concluída, e é essencial para que as eleições de domingo possam ser feitas.
Claro que um anúncio destes, em horário pós-laboral para muitas empresas, criou um enorme rebuliço. Foi preciso reorganizar agendas, equipas, reuniões, serviços mínimos, transportes, pagamentos, entre muito mais coisas.
E isto durou cerca de hora e meia, até que em novo comunicado foi anunciado que afinal os feriados tinham sido desmarcados. E voltou o rebuliço, agora em sentido inverso.
Como não há duas sem três, passada outra hora saiu um terceiro comunicado a marcar feriado para a próxima sexta-feira. Que por enquanto se parece manter...
É certo que as eleições na Costa do Marfim são absolutamente necessárias, e tão importantes para o país e para a região que podem dar alguma perspectiva a estes episódios. Mas espero que a capacidade de decisão e reflexão de quem tem a responsabilidade de levar o país às urnas seja superior aquela que o final de tarde de hoje demonstraram.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Brio profissional

Numa das minhas recentes idas ao banco, uma senhora começou a falar inglês comigo. Comigo e com toda a gente, incluindo a gestora de conta, não respondendo a qualquer interpelação em francês.
É verdade que tinha um certo sotaque, mas não mais acentuado do que outras pessoas que tenho encontrado em África, do Gana ou da Nigéria, por exemplo.
Por isso mesmo perguntei à gestora de conta se ela era de um desses países, mas não. É costa-marfinense, mas dá umas aulas de inglês. Isto é que é brio profissional!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cartão de memória

Os senhores polícias conseguem sempre surpreender. E sem perderem a compostura!
Há um local na ida para o trabalho onde eles costumam estar a fazer dinheiro, multando as pessoas por excesso de velocidade. O radar fica no meio das plantas dum horto ao pé da estrada, e a velocidade máxima é 60 km/h.
Pois recentemente, ainda que circulassemos a cerca de 45 km/h (é sempre bom dar uma margem), fomos parados. Motivo: excesso de velocidade, claro. E que velocidade? Tivemos duas versões: uma de 73 km/h e outra de 71 km/h...
Perante o ridículo da situação, e imagino que já sem saber o que dizer, o polícia avançou com uma explicação: os velocímetros dos carros cometem erros! Uma diferença de 25 km/h!!
Eu ri-me. E ele disse que se não quisessemos pagar ali, podiamos ir no dia seguinte à esquadra ver a fotografia, confirmar e recuperar a carta de condução do condutor.
Terminado? Evidente que não. No dia seguinte, na esquadra, podia ver-se a fotografia mas não naquele momento, porque o aparelho de radar tem um cartão de memória que tinha sido levado por outro agente. Pois...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Eleições e preparativos para eleições

No final deste mês, a Costa do Marfim viverá a primeira volta das eleições presidenciais. Finalmente!
Claro que tudo pode mudar, como já aconteceu por diversas vezes (algumas deles eu já cá estava). Mas desta vez as opções parecem não ser muitas: o essencial está feito (como listas eleitorais e cartões de eleitor), a pressão internacional é enorme, e até a Guiné Conakry, com todos os seus problemas, conseguiu organizar eleições...
Assim, a generalidade da população parece estar convencida que desta é que é, embora temam algumas escaramuças. De que gravidade, ninguém pode ter a certeza, mas com as experiências passadas, a reacção é a que imaginam: fazem-se malas, reservam-se viagens, diminui o comércio, compra-se comida e água de reserva...
Apesar desses preparativos, a vida continua com aparente normalidade. Esperemos que assim continue, e que tudo se passe bem para este país poder avançar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Chuva, chuva e mais chuva

Desde que estou em Abidjan, este é o primeiro ano em que estou a passar por uma verdadeira época de chuvas. E é deprimente!
Nos outros anos, entre momentos de chuva torrencial, houve muito sol. Este ano não: chove muito, chove muitas vezes e raramente faz sol. Além do mais, a grande e a pequena época de chuvas resolveram interligar-se, e estamos nisto há uns 3 meses.
É uma chatice para andar de carro, para sair, para fazer desporto, para olhar pela janela, para acordar... E sendo certo que vai passar, não gosto enquanto dura.

domingo, 3 de outubro de 2010

Bruto

Há pessoas que são simplesmente brutas, e não há nada que as salve.
Da última vez que cheguei a Abidjan, no controlo de passaportes, um senhor estava naquela linha amarela à espera de vez, que aqui fica a uns 2 metros da cabine da polícia. E então reparou num cartão de embarque no chão, mesmo à frente dele.
Assim que o viu, assumiu que era da senhora que estava nesse momento a mostrar o passaporte, e chamou-a num género de "Ei". Logo aí começou mal... mas piorou: em vez de o apanhar e entregar, deu-lhe um pontapé, daqueles que se dão quase de sola (porque era um papel).
O papel lá se arrastou pelo chão, até que a senhora o apanhou, leu (o que ele devia ter feito) e devolveu, porque pertencia ao bruto.

domingo, 12 de setembro de 2010

Um dos bons...

Mais um fim de semana que termina, e este foi um dos bons.
Passado com um bom grupo de amigos, num fabuloso cenário de praia, com bastante sol e água quente (pelo menos pelos padrões de alguém do norte).
A juntar a tudo isso, umas raquetes de praia, uma bola de voleibol, um livro, boa música e uma mistura de gastronomias francesa, libanesa e italiana.
Baterias recarregadas, venha a semana!

sábado, 11 de setembro de 2010

Lycée Français de Abidjan

Ontem fui à festa de aniversário dum amigo francês que é professor no Lycée Français de Abidjan.
Eu não conheço o espaço, mas segundo sei o Lycée Français foi inaugurado em 2008 e tem excelentes condições. Também nunca me tinha apercebido da sua dimensão, mas o número de professores que estavam ontem na festa já dava uma pista.
E assim fiquei a saber que a escola tem actualmente cerca de 100 professores e 1.300 alunos, costa marfinenses na sua maioria, mas também franceses e libaneses. E uma piscina de 25 metros e penso que um terreno de futebol.
Fiquei curioso, tenho de lá ir ver.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Partidas a horas... chegadas nem tanto.

A minha última viagem a países africanos foi ao Togo, no início de Agosto, país para o qual a companhia aérea costa marfinense, Air Ivoire, tem ligações.
Confesso que, dadas as anteriores experiências na Air Ivoire, já ia preparado para os atrasos nos voos. Mas, para minha surpresa, desta vez todos sairam a horas! Infelizmente, o mesmo não posso dizer das chegadas...
Na ida fizemos Abidjan-Cotonou-Lomé, e quer a partida de Abidjan, quer a de Cotonou foram dentro do horário. Na volta, fizemos Lomé-Accra-Abidjan, e mais uma vez, as partidas de Lomé e Accra não tiveram atrasos.
No entanto, acho que fiquei contente por esta performance extraordinária demasiado cedo: quinze minutos após a partide de Accra, o comandante comunicou que o avião estava com um problema eléctrico (viemos a saber depois que 2 dos três geradores eléctricos deixaram de funcionar), e por isso voltamos a Accra... onde ficamos 4 horas à espera! Air Ivoire, sempre uma surpresa.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Final do Ramadão

Hoje é o final do Ramadão e, numa espécie de sondagem informal, nos últimos dias fui perguntando a diversos muçulmanos que conheço como era definida a data.
Dos várias a quem perguntei, obtive quatro respostas diferentes: ou 24 dias após o início, ou 25, ou 27, ou 30. Aí deixei de perguntar...
Salvo erro meu, o final do Ramadão é ao final de 29 ou 30 dias após o início, dependendo da lua. E por isso fiquei surpreendido com respostas tão díspares vindas de muçulmanos, e ainda para mais a começar no 24...
Num apontamento um pouco diferente, esta dependência da lua para definir o final do Ramadão faz com que se tenha de esperar até à noite da véspera para saber se no dia seguinte é feriado. Desta vez é amanhã, mas podia ter sido hoje, o que não dá jeito nenhum para organizar a agenda. Não existirá forma de prever a fase lunar com maior antecedência?

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sabonetes

Após uma longa ausência, em parte forçada devida a problemas técnicos e noutra nem por isso, volto para descrever um episódio num voo da Air Ivoire, companhia aérea costa marfinense.
A determinada altura da ligação a Lomé, Togo, via Accra, Gana, fui à casa de banho. Ao abrir a porta, o painel por baixo do lavatório estava aberto, e os sabonetes (aqueles que vêm em saquetas individuais, tipo hotel) estavam espalhados pelo chão... e dois dentro da sanita.
Ora, perante tal cenário avisei a hospedeira, que simpaticamente lá foi resolver o problema. Mas acabou por me criar outro.
É que quando abri a porta eu deparei-me com dois sabonetes no chão e, como já mencionei, dois DENTRO da sanita. No entanto, na hora de lavar as mãos, encontrei quatro no suporte. As contas são fáceis de fazer, e posso garantir que a hospedeira não foi buscar sabonetes novos.
Conclusão: pesados os prós e os contras, decidi arriscar lavar as mãos mais tarde, com sabonetes dos quais não conheço a origem.

domingo, 13 de junho de 2010

"France, au revoir"

A maioria das viaturas que circulam aqui são importadas, sobretudo da Europa, e chegam nos mais diversos estados de conservação.
No entanto, apesar de toda essa heterogeneidade, existe um nome que é dado informalmente ao conjunto dessas viaturas, tal como a certa altura tivemos os "K's" em Portugal: aqui chamam-se "France, au revoir". Adeus, França.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ventoinha

Ao chegar a casa à noite, vi como funciona a "lavandaria" dos seguranças do prédio.
A roupa lavam-na na zona de lavagem dos carros, recorrendo a um balde e, penso eu, sabão. Depois é preciso secar a roupa, e apesar de estar sempre calor, é sempre bom acelerar o processo.
Como? Logo ao lado da lavagem de carros, encontra-se uma ventoinha de exaustão do prédio. Não sei se dos respiros, ou da climatização central, mas em todo o caso uma ventoinha. E eis que penduram a roupa e o calçado acabado de lavar na grelha da ventoinha. Impecável.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Conduzir

Hoje conduzi! Não parece nada de especial, mas é a primeira vez que o faço em Abidjan. E soube muito bem.
Conduzir é uma das coisas que me dá muito prazer, e das quais tinha saudades. Entrar no carro, por a nossa música a tocar, e simplesmente conduzir. Não é uma questão de velocidade, embora por vezes seja bom, nem de qualquer acrobacia. Conduzir, apenas.
E soube tão bem que nem me importei com os engarrafamentos, apesar de ser uma experiência marcante conduzir naquilo que para nós, habituados à ordem do tráfico em Portugal, poderia ser classificado como caos. Acreditem, se conseguirem.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Golpe clássico II

Outro golpe clássico com que a polícia tenta "assustar" os estrangeiros prende-se com o titre de séjour (TdS), o documento que comprova que a pessoa vive e está legal na Costa do Marfim.
Esse TdS é feito por um departamento da polícia mediante a apresentação de alguns documentos, como uma factura da água ou luz e, claro, o passaporte, cujo número fica registado no próprio documento.
Ora, o TdS é válido por si só, não sendo portanto obrigatório andar com o passaporte. Mas, e é este o golpe clássico, frequentemente a polícia diz que sim, porque tem de verificar se de facto os números correspondem.
Normalmente, o assunto esclarece-se sem grandes demoras nem outras consequências. Mais uma vez, não se pode dizer que não tentaram.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Questão de fé

Confesso que hoje ia escrever sobre um outro golpe clássico da polícia nas operações stop, no seguimento da crónica anterior. Mas tenho de deixar para uma próxima, talvez amanhã.
Isto porque ao final da tarde, ao voltar para casa, ouvi na rádio a notícia de que 130 costa marfinenses, quaso todos padres, estavam retidos em Fátima, Portugal.
O que teria acontecido? Problemas com documentos? Problemas de saúde? Algum protesto? Não, falta de dinheiro para continuarem a viagem! Não pude deixar de me rir.
Como explicou um porta-voz do grupo, o plano era ir a Fátima, de seguida Santiago de Compostela, e finalmente Vaticano, onde pretendiam encontrar o Papa antes de voltarem para a Costa do Marfim.
O valor estimado dessa viagem, por pessoa, era um pouco superior a 3.000€. Encontrado cerca de 1/4 do necessário, partiram, contando que o estado costa marfinense haveria de suportar o resto! Deve ser uma questão de fé...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Golpe clássico I

Após ver o jogo amigável entre Portugal e Camarões em casa dum amigo, ele deu-me uma boleia até ao meu prédio.
Pelo caminho, quase inevitável a partir das 20h, fomos parados pela polícia. O agente, muito correctamente, informa que é um controlo de rotina e pede os documentos do carro.
Verificados estes, pede então a carta de condução, e de seguida um dos golpes clássicos: "há quanto tempo está na Costa do Marfim?", "há um ano", responde o meu amigo; "ahh, mas então esta carta não serve, só dá para 3 meses; "está enganado, essa é a carta de condução internacional"; "ok, pode seguir".
Basicamente, quando se chega aqui pode-se conduzir com a carta do país de origem durante 3 meses. Após esse período, é obrigatória a carta de condução internacional, que o meu amigo tem. Ainda assim, pode dizer que tentou.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Novos sinais, novas marmitas

Recentemente, foram feitas algumas melhorias na sinalização de trânsito vertical em Abidjan.
Foram colocados alguns semáforos, e também alguns novos sinais daqueles em metal (alumínio, penso eu).
No entanto, por muito contentes que possam ter ficado alguns condutores, é melhor não se habituarem. É que há também muitas outras pessoas muito felizes, a quem o metal dos sinais é matéria-prima que dá jeito.
Daí se ouvir dizer que "novos sinais, novas marmitas".

domingo, 30 de maio de 2010

BAD - 0000

Durante a semana passada, deu-se em Abidjan a reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). O sucesso do encontro e da sua organização eram fundamentais, visto que há desde algum tempo o governo da Costa do Marfim anda a cortejar o BAD para voltarem para a sua sede em Abidjan. Devido aos problemas na Costa do Marfim, a sede foi transferida há uns anos para Tunis.
Mais de 2.000 pessoas marcaram presença na reunião, e por isso imensos carros foram implicados no transporte das pessoas. E para identificar esses carros, uma folha plastificada com a indicação "BAD - 0000", por exemplo, foi colada em cada viatura.
Só não percebi porque foi colada por cima das matrículas... o importante é que a polícia estava avisada. Mas agora, terminada a reunião, talvez seja boa ideia voltarem ao original.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Final do mês

Esta noite fui com uns amigos jantar à pizzaria "Di Sorento" e, ao contrário do habitual, estava praticamente vazia.
Colocada a questão, a resposta sai rápida: final do mês, as carteiras estão vazias. E agora que penso no assunto, ontem também fui jantar fora, num outro restaurante, e o panorama era idêntico.
O fenómeno não é desconhecido, mas ainda assim fiquei algo surpreendido, porque se virmos os clientes habituais de qualquer um destes restaurantes noutra altura do mês, não parecem sujeitos a este problema. Mas afinal, estão.

098958CI25?

Aqui encontram-se várias marcas de automóveis chinesas. Existem carros, camiões, todo-o-terreno... Motorizadas também.
No entanto, sendo que o mandarim não é uma língua muito falada por estas bandas, os marketeers dessas marcas tentaram ocidentalizar um pouco os nomes dos modelos. Para ser mais fácil de os tornar conhecidos, presumo.
Resultado: 098958CI25! Ou coisa parecida, porque sem um bloco de notas não é fácil decorar. E isto é o que vem colado nos carros, naquelas letras prateadas. Estou sem palavras...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Resultados a comprovar

Comprar um carro não é o mesmo que comprar uma camisa. Escolhe-se marca, modelo, cor, jantes, e mais uma série de outros pormenores. É praticamente um ritual, e as marcas e concessionários esforçam-se por que assim seja.
Mas é possível não ser assim. É possível que o vendedor não saiba quais são as jantes, ou as cores, ou o interior... E que, como cereja no cimo do bolo, envie um email a dizer: "Olhe, afinal os carros que estão para chegar são todos a gasolina. Não se importa?". Decerto é uma nova técnica comercial... de resultados a comprovar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Rua? Qual rua?

A rua do porto de Abidjan, e que atravessa uma das grandes zonas industriais da cidade, não é bem uma rua. É um conjunto de buracos, de poças, de detritos... Enfim, chamar-lhe rua é um verdadeiro exagero.
Isto cria engarrafamentos inacreditáveis, o caos na circulação com os veículos todos a tentarem passar pelos buracos mais pequenos possíveis (mas qualquer um deles digno dum todo-o-terreno).
Entretanto, tapam-se uns buraquitos no centro da cidade, perto dos melhores hotéis, na zona das embaixadas... Mas numa zona vital para a economia do país, onde fica o porto que é fulcral para suprir as enormes necessidades das importações, ninguém faz nada.
Decerto têm razão: com a época de chuvas que agora começa, as crateras gigantescas enchem-se de água e qualquer dia os barco podem entregar a mercadoria directamente nos armazéns. Coitado de quem lá tem de ir todos os dias...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Debaixo do colchão

Abrir uma conta no banco em Abidjan, e funcionar com ela, é uma prova de esforço.
Primeiro há que entregar todos os documentos que nos pedem, que são enviados para aprovação superior. Logo aí passam 2 a 3 semanas. Depois há que preencher uma série de formulários e papéis, e fazer um pequeno depósito inicial.
Quando tudo parece encaminhado, pede-se o cartão. De crédito? Existiu durante 6 meses, mas os problemas foram tantos (roubos, fraudes, desvios, ...) que acabaram com a experiência. De débito? Existe... mas como não são produzidos aqui (abri conta num banco francês), demora 1 mês e meio a estar pronto!!!
Próximo passo: acalmar, respirar, pedir cheques. Sem problema, mas vão demorar 2 ou 3 semanas a estar prontos.
Finalmente, eis-me com uma conta aberta, cartão pedido, cheques requisitados... mas alguma liquidez debaixo do colchão!

domingo, 23 de maio de 2010

Tempo de retoma

O tempo passa rápido. Parece que foi ontem que me mudei para Abidjan, e já foi há quase dois anos. Parece que foi ontem que estive no Porto pela última vez, e já foi quase há três semanas. E entretanto, já estamos em finais de Maio.
O blog também sofreu com esta perspectiva enviesada do tempo, em que já há algum tempo não escrevia. Um dia, cansado de passar horas atrás do computador, e fica para amanhã. No outro, parecido com o anterior, e fica para amanhã também. De quando em vez, um golpe de preguiça ou falta de inspiração, idem. E assim se passam as semanas.
No entanto, os episódios continuam. Fala-se das eleições, como sempre; do campeonato do mundo que se aproxima; a época de chuvas começa e torna difícil planear os jogos de ténis; continuo a precisar de pelo menos uma hora de cada vez que vou ao banco (independentemente do assunto); alguns buracos na estrada foram tapados (nas partes por onde vão passar os representantes da cimeira do Banco de Desenvolvimento Africano agora no final do mês); outros muitos apareceram.
Assim, e como habitualmente, não faltam motivos para escrever. É tempo de retomar. Até amanhã.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"You could have decided otherwise"

O Homem é um animal muito interessante, e há situações em que essa condição (ser Homem) parece suficiente para justificar o injustificável.
Digo isto por algumas coisas a que assisto aqui, valendo o que vale a minha observação, decerto com algum vício de formatação.
A verdade é que por vezes vejo coisas e ouço comentários absolutamente primitivos, mesmo vindos de pessoas que tiveram a oportunidade de visitar, viver, estudar e aprender em países considerados desenvolvidos. Presumo que nesses países o seu comportamento fosse conforme as regras e hábitos locais, mas voltanto a uma realidade mais permissiva, parece haver uma regressão. Abusa-se porque se pode. Abusa-se de coisas mas, mais grave, abusa-se de pessoas.
No entanto, não é obrigatório abusar. Não é obrigatório regredir. Não! Num dos seus discursos, Nelson Mandela disse "Thank you that you chose to care, because you could have decided otherwise". Eu estou de acordo, e lamento cada um destes episódios a que assisto. Lamento-os sobretudo porque, nas condições certas, um destes actos ou comentários pode conduzir a acontecimentos mais graves.
Felizmente, na maioria dos casos não passam de comentários infelizes, com um grande desequilíbrio nas quantidades de reflexão e gravidade implicadas. Mas bastam para me incomodar.

domingo, 18 de abril de 2010

Episódios

Em conversa recente com um amigo, recordavamos aventuras e desventuras em alguns dos aeroportos pelos quais já passamos.
Um dos episódios comuns, embora independentes, teve lugar no Congo. A ligação interna entre Brazzaville e Pointe-Noire é bastante concorrida, e aos dois nos avisaram para nos despacharmos a entrar no avião.
A reacção a este aviso também foi comun: porque tenho de me despachar, se tenho bilhete e lugar marcado? Até parece que me podem tirar o lugar.
Mas a verdade é que podem, e por isso, mal abre a porta duma sala de embarque péssima e onde chove no interior, toda a gente se atropela, acotovela e corre pela pista fora, precipitando-se para dentro do avião.
O que acontece a quem fica fora? Não sei, eu consegui lugar. E esse meu amigo também.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Vulcão

Na minha última viagem a Portugal, fiquei "preso" em Paris praticamente 10 horas por causa da neve. Desta vez, com viagem marcada para amanhã, uma erupção dum vulcão na Islândia está a provocar o caos nos voos na Europa.
Por enquanto, o aeroporto Charles de Gaulle está fechado, até amanhã às 14h. Imagino que, se o vulcão se portar bem e as condições climatéricas ajudarem, até à madrugada de sábado deve melhorar.
Eu ando com pontaria, mas se o vulcão estava inactivo desde 1820, também podia esperar mais uns dias.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dias trocados

Eu confesso que por vezes sou um bocado distraído com os dias e as datas, mas não me lembro de em alguma ocasião me ter acontecido como hoje.
Já ao final da tarde, tinha um encontro de trabalho marcado com uma pessoa que também se tornou um amigo. E por isso, por vezes marcamos ao final da tarde, já em pós-laboral, para ficarmos um bocado à conversa.
Como combinado, pensava eu, lá apareci. Bati à porta e, como não tive resposta, liguei. Do outro lado ouvi um "mas combinamos para quinta... hoje é quarta". Confere...
Com muito humor e uma pitada de vergonha, pedi desculpa. E até amanhã.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Uma solução

Segundo dia de greve dos transportes. Segundo dia com a cidade meio paralisada. Mas hoje com um dado novo.
A partir do meio da tarde, as bombas de gasolina ficaram completamente apinhadas, o que me surpreendeu porque não estava a par da novidade.
Finalmente, fiquei a saber que o sindicato dos motoristas, que convocou a greve que se vive, decidiu e comunicou pela voz do seu presidente, que amanhã vão não somente continuar a greve, mas também obrigar a fechar as bombas de gasolina que se encontrem a funcionar. Nem que seja pela força. E as bombas comunicaram que amanhã estarão fechadas.
Este tipo de coisas deixam-me triste. Por mais agradáveis que sejam os discursos, por mais apaziguadoras que sejam as palavras, por melhor vontade que seja demonstrada, tudo se revela absolutamente superficial e cai ao primeiro obstáculo que surge. Para os problemas, uma solução: a violência. É pena.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Greve dos transportes

Quando acordei esta manhã, a cidade estava surpreendentemente calma. E foi então que me lembrei da anunciada greve dos táxis, gbakas e woro-woros.
O motivo é o preço do combustível, que subiu recentemente para 779 FCFA (cerca de 1,19€/litro) a gasolina, e 675 FCFA (cerca de 1,03€/litro) o gasóleo. Como precisão, aqui só existe uma gasolina e um gasóleo.
A piorar a situação, os países da região, e mesmo no interior da Costa do Marfim, os preços são bastante mais baixos, por vezes 40%.
E assim chegou a greve dos transportes acima mencionados, o que fez com que hoje não tenho estado em nenhum engarrafamento, coisa perfeitamente anormal num dia de semana.
Claro que, tirando esta vantagem de certa forma egoísta, as restantes são poucas: a cidade pára, os serviços funcionam pior, muitas pessoas têm imensas dificuldades em aparecer para trabalhar.
Normalmente, estas acções levam a uma redução do preço nos dias seguintes, para depois começarem a subir de novo. Foi o que aconteceu da última vez, vamos ver como corre desta.

domingo, 11 de abril de 2010

Semana da ansiedade

Correndo tudo normal, no próximo fim de semana estarei em Portugal. Partida de Abidjan na sexta-feira à noite, chegada ao Porto ao meio-dia de sábado.
Por isso, esta é a semana daquela ligeira ansiedade antes do regresso, e que comigo acaba quando entro no avião.
Depois, é o normal: jantar servido, vejo um filme. Depois, levanto-me e vou tomar um café. A seguir, volto para o lugar e leio.
Ao chegar a Paris, caminhando devagar, mudo de terminal, ouço a minha música e espero o próximo embarque.
Entre Paris e Lisboa, faço uma sesta de meia hora, leio o jornal e aprecio a bonita perspectiva aérea de Lisboa. Lá chegado, mudo de terminal e vou tomar um (finalmente!) bom café.
Mais uma espera, normalmente um atraso, finalmente um voo de 45 minutos e chegada ao Porto. Encontrar família, conduzir até casa (sempre com saudades de conduzir!), rever pessoas, reencontrar sabores, retomar hábitos.
Falta uma semana, e até a segunda-feira custa menos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Desconto

Há uns tempos saí com uns amigos, e claro, fomos parados pela polícia.
Eu ia atrás, confesso que sem cinto de segurança, que apenas é obrigatório nos lugares dianteiros. Mas claro que um carro com quatro brancos dentro era uma oportunidade a explorar.
E então, o polícia disse-me que tinha de pagar multa, ao que eu lhe respondi que me desse a multa e eu iria pagar ao Tesouro. Evidentemente, não era isso que ele queria, e informou-me que não tinha multas ali: elas estavam em Yopougon (longe) e que se quisesse esperar, seria demorado. Esperamos, então.
Contrariado, foi dar uma volta (com o meu documento de identificação, para garantir que não saíamos dali), e quando voltou passou-me o telemóvel. O chefe queria falar comigo.
O chefe lá me explicou a situação, numa voz pausada e calma, para ter mais credibilidade. Acabada a conversa, devolvi o aparelho. O polícia lá falou com o chefe mais um pouco e, após desligar, disse-me: "o chefe faz um desconto à multa; pagas 2.000 em vez de 5.000".
Não paguei. Mas perdemos uns bons 20 minutos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Meco

Com o aproximar das comemorações do cinquentenário da independência da Costa do Marfim, Abidjan começa a engalanar-se: pintam-se passadeiras, colocam-se caixotes do lixo e semáforos, recolhe-se lixo e a limpam-se canais de escoamento de águas pluviais.
Um desses canais, que estava completamente cheio de areia, acompanha a via rápida, pelo que colocaram os sinalizadores vermelhos (vulgo mecos) a indicar a presença dos trabalhadores.
E, à imagem do que via frequentemente em França, em que o último dos mecos é posto deitado para indicar que é o último, o grupo de funcionários que ontem efectuavam o trabalho aqui, arranjou um marcador bem mais original: uma lata de Coca-Cola. Nem mais, nem menos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Esclarecido

O bar onde por vezes vou tomar café, perto de minha casa, tinha duas empregadas, Stéphanie e Tina.
Não sei as idades, não conheços os passados, não sei há quanto tempo trabalham ali. No fundo, não tenho informação para avaliar se era um bom ou mau trabalho.
Recentemente, a Stéphanie disse-me que se tinha despedido. Porquê? Porque estava cansada de trabalhar. O que está a fazer agora? Nada. Está à procura de quê? Não está à procura. Esclarecido.

Transitário

Num dia da semana passada, encontrei o meu novo vizinho no banco.
Após os cumprimentos e as perguntas obrigatórias ("Então como se está a dar?", "A instalação está a correr bem?",...), ele desabafou que estava muito incomodado porque não conseguia tirar uma encomenda do transitário.
Ele é professor, e enviou de França uma encomenda com os seus livros todos. Mas para os retirar aqui, o transitário está a exigir-lhe um pagamento que não estava previsto. E é normal que não estivesse, porque é inventado. No caso do meu vizinho, é basicamente o valor declarado dos livros, pelo que equivale a "recomprá-los".
Infelizmente, esta é uma prática corrente: os transitários aproveitam o poder temporário que lhes é dado pela detenção dos bens das pessoas, que precisam deles. E depois, arranjam todos os argumentos para retardar a entrega do material, até que vencem pela fadiga. Mesmo que não recebam o que pedem de início, frequentemente acabam por receber alguma coisa.
Por mais frequente que seja o meu contacto com esta forma de "gerir" os negócios, acho que nunca me vou habituar. O que se torna verdadeiramente cansativo.

Serviços... secretos

Aos domingos, o clube de ténis onde vou costuma estar cheio. Grupos de amigos, famílias inteiras, jovens e menos jovens, aproveitam o jardim, a piscina e o bar para descontrair.
Ontem, após o meu jogo e como faço normalmente, fiquei no jardim a fazer uns alongamentos. No terreno de ténis ao lado, tinha entrado já um grupo de alemães com quem me cruzo frequentemente.
E de repente, vejo um dos apanha-bolas do clube, que estava com os alemães, a chamar uma miúda dos seus 14 anos e a entregar-lhe o cartão de visita de um dos elementos do grupo, o mais velho deles todos, dos seus 65 anos.
Eu fiquei tão incrédulo que até perguntei a um outro dos empregados do clube se eu tinha visto bem. Justificação: ele é dos serviços secretos alemães e as miúdas são boas fontes de informação. Pois, secretos...
Faço de conta que acredito, mas não consigo deixar de pensar que é também por estas coisas que as minhas relações com outros expatriados aqui são relativamente limitadas.

terça-feira, 30 de março de 2010

Avaria

De repente, no meio do nada, nas bermas da via-rápida, estavam umas dezenas de pessoas a pé, a caminharem todas no mesmo sentido.
Razão? O autocarro onde seguiam avariou, e a sequência é simples: desçam todos e safem-se!
Não há autocarro de substituição, e não sei se há reembolso do bilhete. Sei que é também preciso ter alguma sorte no local da avaria. Neste caso, não existiam outras paragens próximas, daí a necessidade de ir procurar outra mais longe.
Assim, andar de autocarro aqui é uma aventura: sabe-se quando a viagem começa, mas não se tem a certeza quando, ou onde, vai acabar.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Desporto

Há mais de uma semana que não ia jogar ténis. Hoje fui, e joguei duas horas.
Após uma semana com uma agenda de trabalho complicada, a ausência de desporto já se fazia sentir em demasia. Tinha de ser.
E aproveitei para, como diz o ditado, tirar a barriga de misérias. Primeiro dois sets em pares. Depois, dois sets em singles. Agora estou cansado, mas melhor.

domingo, 28 de março de 2010

Roubo

A hora mudou na Europa, mudou em Portugal. Aqui, não.
O que significa que agora estou com uma hora de "atraso" em relação a Portugal. A diferença não é muita, mas já obriga a fazer algumas contas.
Quando as horas são iguais, tudo fica mais igual: os momentos de chegar ou sair de casa, as refeições, tudo. Mas basta uma hora de diferença para "falhar" as chamadas telefónicas no horário de almoço, e o tempo fica mais curto para falar via Skype à noite.
E assim, duma forma bastante distinta, volto a ter aquela sensação de criança, de que me roubaram uma hora este fim-de-semana.

Roteiro

Che, Havana, Bodeguita, Life Star: é este o roteiro actualmente, comum às sextas-feiras dum grupo significativo de expatriados de Abidjan.
E assim, mesmo que se esteja há pouco tempo na cidade, fica-se a conhecer os mesmos sítios, e as mesmas pessoas.
Não me entendam mal: gosto dos sítios, e gosto das pessoas. Só não gosto da rigidez do roteiro. De qualquer modo, até uma qualquer sexta-feira.

Saída de emergência

Se alguém vier a correr atrás de nós, muito zangado e com uma catana na mão, o que fazemos?
Esta terá sido uma dúvida que ocorreu a um jovem que vi, e que tinha de facto um perseguidor de catana na mão.
Não sei qual foi a origem do problema, nem sei qual foi o resultado. Mas sei que ao passar por uma camioneta daquelas antigas, que só tem uma porta à frente e que estava aberta, o tal jovem entrou lá para dentro. Evidentemente, o senhor da catana também.
Como já mencionei, não sei como acabou a perseguição, mas entrar na camioneta não pareceu uma decisão muito acertada. Espero que se tenham entendido, ou que pelo menos tenha usado a saída de emergência.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Abidjan Café

Abidjan Café. Horário de encerramento: 20h30. Quer dizer, mais ou menos...
Este é um café/restaurante no centro do Plateau, com bom ambiente, bom menu e bons preços, que conheço sobretudo pelo pequeno-almoço.
Mas hoje fui lá à hora de jantar, e apesar de ter chegado bem dentro do horário que indiquei no início, ao pedir a ementa a empregada não teve dúvidas. Olhou para o relógio (eram 19h30) e disse peremptoriamente: bife com batatas fritas. Opções? Ou come, ou não come. Comi.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Novos odores

Novo vizinho, novos hábitos. E também novos odores.
Até agora, o hall dos elevadores do meu andar cheirava a um hall de elevadores de um prédio. Talvez um bocadinho pior, confesso, mas nada de assinalável.
Agora tem um cheiro permanente a tabaco. Aquele cheiro que, misturado com o normal dum hall de elevadores dum prédio e com a humidade daqui, resulta num odor pesado, desagradável, que parece entranhar-se.
Evidentemente, esta não é uma situação que eu possa controlar. Mas pelo menos, que fique fora da porta.

terça-feira, 23 de março de 2010

Perspectivas

Acho piada à diferença que pode existir entre perspectivas, dependendo da nossa posição.
Recentemente, em conversa com um amigo francês, ele dizia-me que havia dois povos com os quais ele não simpatizava. E claro, um deles era o inglês.
Até aqui, nenhuma surpresa, que estava guardada para a razão desse sentimento (uma das...): segundo ele, os ingleses são incapazes de fazer um esforço para falar outra língua que não a deles, incluindo o francês!
Mas... não é isso que também apontamos aos franceses? No fundo, ninguém deve ter razão.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Primavera

A Primavera começou. Gosto muito, é a minha época preferida do ano.
Aqui as diferenças não se fazem sentir. Continua calor, como sempre, e por enquanto continuamos na época mais seca. Ainda que chova, por vezes, à noite.
Faltam os cheiros, as cores, os raios frios de sol, as camisolas mais leves, os dias a crescer. Brevemente, um pouco de tudo isso.

domingo, 21 de março de 2010

Terceiro número

Nem sempre é simples encomendar uma pizza, e por isso é sempre preciso ter mais do que um fornecedor na lista de contactos.
No final do ano passado, uma vez disseram-me que tinham fechado mais cedo para arrumar a loja. Hoje liguei e a reacção foi a seguinte: "xii, mas fechamos daqui a bocado!". E os dois episódios passaram-se com o mesmo estabelecimento. Está na hora de arranjar um terceiro número.

Novo vizinho

Já tenho um novo vizinho, no apartamento ao lado.
Após ter sido ocupado durante uns meses por uma pequena empresa de serviços informáticos, ficou há duas semanas vazio, mas não por muito tempo.
As obras que estavam a ser feitas já denunciavam a chegada de alguém, que se confirmou esta semana.
O novo inquilino já veio apresentar-se, e se não me engano chama-se Alain (sou mau a decorar nomes à primeira...). Hoje, já chegaram os móveis. E assim fica completo o andar.

sábado, 20 de março de 2010

Despertador

A semana foi longa, o trabalho foi muito. E a cada dia, o despertador a tocar, de manhã, à mesma hora, cedo. Confesso que não é o meu momento preferido do dia.
Mas aos sábados, exceptuando algum compromisso que a isso obrigue, o despertador toca mais tarde. Ou não toca.
E mesmo que o hábito me acorde cedo, é sem despertador, é bom. Por falar nisso, vou já desligá-lo.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Controlo

Esta manhã tive uma nova experiência aqui em Abidjan: pela primeira vez desde que cá estou, um polícia na rua controlou os meus documentos, estando eu a pé.
Desta vez tinha os documentos comigo, mas confesso que por vezes quando ando a pé, não os levo. Pelo visto, é melhor que faça disso um hábito.
Segundo ele, este tipo de controlos tem aumentado "devido a ameaças de terrorismo". E, simpaticamente, avisou que se passar por ali frequentemente, serei controlado mais vezes. Não vá mudar de ideias...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Alívio

Mais uma crónica, mais uma história de elevador. Não é que eu tenha nenhum fascínio especial, mas a verdade é que acontecem as coisas mais engraçadas nos, ou relacionado com os elevadores.
Hoje, ao sair de casa com um colega após o almoço, tive de voltar ao apartamento, tendo ele ficado perto do elevador, onde assistiu a uma cena caricata.
Dois jovens, ao ver a porta do elevador abrir, entraram mas não carregaram em nenhum botão. E o elevador ficou ali, e abriu a porta. Uma vez, duas vezes, três vezes... até que um deles resolveu sair para ver o que se passava, e ficou muito perturbado quando a porta fechou atrás dele e não voltou a abrir. O elevador tinha sido chamado de um outro andar.
Entretanto eu cheguei e o meu colega explicou-me o que se tinha passado. Para nosso grande espanto, quando a porta voltou a abrir, o jovem que tinha ido da primeira vez ainda lá estava, braços cruzados, encostado ao fundo do elevador. Pareceu feliz por ver o colega, mas não parecia ter percebido o que se tinha passado. Claro que o que tinha ficado apeado entrou a correr, antes que a porta fechasse de novo. Nenhum carregou em qualquer botão; carregamos nós para o rés-do-chão.
Chegados ao destino, ambos se precipitaram para fora do elevador,e mesmo que não tenham percebido o que lhes havia acontecido, a expressão foi de um enorme alívio.

terça-feira, 16 de março de 2010

Propulsão

Uma scooter sem gasolina pode andar, desde que puxada ou empurrada.
Pois um destes dias, a circular em plena via rápida, ia uma scooter e o seu passageiro a ser empurrado por uma outra dupla. Como? O de trás levava um pé no cano de escape da outra, e lá servia de propulsão.
Ainda para mais, a condução não era propriamente defensiva, chegaram até a fazer uma ultrapassagem. Pareciam habituados.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Decoração?

Um dia da semana passada, fiquei quase intoxicado dentro do elevador, ao ter de subir 14 andares com as respectivas paragens envolto num cheiro a cola fresca.
Isto porque, briosamente, um senhor colou numa das laterais uma daquelas molduras em que se podem colocar anúncios, ou comunicados, ou qualquer outro papel. Claro que o fez a olho, e por isso também a olho dá para ver que não está perfeitamente nivelada. Mas é detalhe.
Uma das pessoas que subia comigo, talvez aturdida pelo cheiro da cola, pensou que aquilo era um objecto de decoração, e partilhou com os restantes que ficava muito bem ali...
Por enquanto, ainda não foi usada mas estou à espera do próximo comunicado que seja distribuído. Para confirmar se afinal é mesmo decoração.

domingo, 14 de março de 2010

Até amanhã

Há praticamente um mês que não actualizava o blog. Foi um mês cheio de trabalho, muito tempo passado ao computador durante o dia, pouca inspiração e alguma preguiça.
Mas os episódios acumulam-se, o blog já me faz falta e algumas pessoas perguntam por ele. É por isso altura de voltar a partilhar histórias.
Hoje é apenas o anúncio. Até amanhã.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Situation oblige"

Ao contrário do habitual, hoje não resisto a aflorar ligeiramente o trabalho.
Pois uma das pessoas que trabalha para a minha empresa escreveu-me uma carta. São cartas que eu já conheço, que começam todas da mesma forma, e terminam invariavelmente com um qualquer pedido, quase sempre de dinheiro.
O de hoje era um aumento, do qual não discuto a oportunidade ou justiça. Mas, numa nota de preocupação, o rapaz pede-me imensas desculpas no caso de este seu pedido me ferir o coração... e logo de seguida justifca-se com um singelo "situation oblige". Delicioso.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cortes de electricidade

Apagada: é assim Abidjan de há umas noites para cá.
Uma das principais centrais eléctricas que abastece a cidade há já muito tempo precisava de uma intervenção profunda, porque não estava desenhada para as necessidades actuais.
Isto conduzia frequentemente a cortes no abastecimento de electricidade, que se faziam sentir em algumas zonas mais periféricas da cidade.
Mas agora que decidiram intervir na central, os cortes são diários, duram horas e atingem todas as zonas. No Plateau sente-se menos porque uma boa parte dos edifícios está equipada com geradores, e é isso que me permite estar na internet.
Senão, da janela, tudo bem mais escuro do que habitualmente, e segundo anunciaram, a intervenção vai durar meses.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Qual papel?

A minha recente viagem por África Central acrescentou algumas unidades à carteira dos episódios "blogáveis".
Hoje gostaria de partilhar um que me faz pensar na (semi)célebre rábula do "Papel. Qual papel?" dos Gato Fedorento.
Uma noite fui jantar a um dos maiores e mais conhecidos maquis de Brazzaville. Como habitualmente nestes locais, os talheres vinham embrulhados no papel do guardanapo. E é aqui que entra o "Papel. Qual papel?", já que para grande espanto meu e de quem estava comigo, era papel higiénico.
A pergunta marota que passa neste momento pela cabeça de alguns que me lêem é se estava limpo, à qual a resposta óbvia é que sim. Mas não deixou de ser uma surpresa, e ainda por cima era folha simples.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Regresso ao "normal"

De volta a Abidjan após duas semanas de viagem por África Central, Camarões, Gabão e Congo Brazzaville.
Em cinco voos apanhados, cinco atrasos significativos. Não que seja algo de inesperado, mas como não existe padrão, torna complicado fazer planos, marcar encontros, respeitar horários.
Além do mais, a certeza que naquela zona se come pior, e mais caro, do que em Abidjan. E os hotéis são de pior qualidade, sobretudo no Congo e exceptuando Yaoundé, Camarões.
No regresso, uma cidade calma, apesar da dissolução do governo e da comissão eleitoral independente na passada sexta-feira. Eu ia dizer tudo normal, mas fiquei a pensar como o "normal" se torna tão relativo...

domingo, 31 de janeiro de 2010

Brisa

As últimas noites têm sido bem agradáveis, aqui em Abidjan: apesar do calor que é uma presença assídua, tem estado uma brisa que acrescenta algum prazer às caminhadas.
Aliás, faz-me recordar um pouco aquelas caminhadas pós-jantar, durante as férias em Portugal, quando estão aquelas noites abafadas.
Claro que a humidade aqui é muito maior, e por isso quando a brisa abranda ou se pára de caminhar, a semelhança com Portugal termina de imediato. Mas é bom enquanto dura.

Rodízio com limites

Ontem fui jantar a um restaurante que abriu há pouco tempo no Plateau, e que se chama Brazil. Propuseram-me o menú de rodízio, e disseram-me que era comer até se decidir que já chegava.
Eu não sei que medida é a deles, mas não foi bem assim. A comida não estava má, e não posso dizer que tenha ficado com fome. Mas ainda comia mais um pedacinho de carne, mas já não mo deram. Portanto, é um rodízio "à vontade"... mas pouco.

Confiança pós-choque

Hoje disputa-se a final da CAN, entre o Gana e o Egipto.
O Gana bateu na meia-final a Nigéria, e chega ao último jogo da competição contra todas as expectativas, por não ter podido contar com as suas grandes estrelas.
Já o Egipto, vencedor das últimas duas edições, volta a chegar à final, e felizmente com os seus jogadores disponíveis. Digo isto porque, na meia-final com a Argélia, os jogadores argelinos quando sentiram que o jogo estava perdido, passaram a tentar abater os egípcios. Com alguma sorte à mistura, não houve lesões graves.
Quanto à Costa do Marfim, que se (auto)intitulava como a grande favorita, não conseguiu ir longe, mas após o choque inicial, já parecem ter recuperado a confiança e dizem que podem ganhar ao Brasil no Mundial. Os jogos com Coreia do Norte e Portugal estão ganhos, dizem.

Óleo na estrada...

...mas devidamente acondicionado, foi o que se viu ontem na via rápida.
Sem que se tenha apercebido, terá havido alguma carrinha que transportava caixas com garrafas de óleo para motor de automóvel que deixou cair uma em plena via.
Não se apercebeu ela, mas aperceberam-se vários outros condutores, que de imediato pararam para aproveitar a promoção inesperada. E rapidamente, a estrada ficou limpa.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Preparar terreno?

Não havendo uma data definida, as eleições estão novamente marcadas, para o final de Fevereiro, início de Março.
O que significa que já não falta muito, e desta vez mais pessoas parecem convencidas que se farão.
Eu, após ter lido o jornal de hoje, já estive mais convencido. Tudo estava a decorrer calmamente, mas hoje foram feitas acusações muito graves ao presidente da comissão eleitoral independente.
Em causa a manipulação das listas eleitorais, dizem uns em favor de um dos candidatos.
E assim, apesar de quem ataca também vá dizendo que quer manter a data das eleições, eu acho que estão a preparar terreno. Talvez me engane.

Honestidade

Eram 21h05 quando voltava para casa. Num semáforo no Plateau, já perto do destino, polícias faziam sinal a todos os carros para pararem. Todos os acessos estavam a ser controlados, polícias e guarda republicana por todo o lado.
Estas são as medidas de segurança para criar um corredor securizado para a passagem da comitiva das personalidades políticas, ministros, primeiro-ministro, primeira-dama, presidente...
Mas presumo que nas medidas de segurança também esteja incluída a gestão da informação, e nisso o polícia que parou o meu carro deve ter reprovado. É que quando fez sinal para parar, aproximou-se e disse "espere um pouco que vem aí o presidente". Pelo menos, foi honesto.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Futebol

Em Abidjan havia festa preparada para festejar a passagem às meias-finais da CAN. As expectativas eram muito altas, os prognósticos de 3-0 para cima.
Mas a Costa do Marfim perdeu contra a Argélia. E não só perdeu, como perdeu de forma dramática: marcaram cedo, e sofreram o empate perto do intervalo. Depois marcaram quase aos 90 minutos, e sofreram novo empate um minuto depois. Finalmente, no prolongamento sofreram o golo da derrota. Foi um bocado cruel, mas é futebol.

Condensado

Numa das extremidades da ponte Houphouet Boigny existe uma rua que dá acesso a uma zona de fábricas e armazéns. O problema é que essa rua é de sentido proibido: na realidade, é para vir dos armazéns para a ponte, e não o contrário.
Tal não impede os camiões que lá querem chegar de a utilizar em sentido contrário, tendo antes de passar por uma linha dupla contínua, cenário que se repete todos os dias e por isso já não surpreende ninguém.
No entanto, a última vez que por lá passei e assisti a este condensado de transgressões, não pude deixar de reparar que, parada na dianteira dos carros que esperavam a passagem dos camiões, estava uma moto da polícia com dois agentes. Sem capacete, claro.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Bolores

Está provado que uma casa pouco utilizada durante um mês, num ambiente quente e húmido como o daqui, não dá grande resultado. Ficou provado ontem, quando cheguei.
É que esse é um ambiente que os bolores gostam muito, e num mês têm tempo para trabalhar bastante, que foi o que fizeram.
Cobriram diversas superfícies, em diversas extensões, um pouco por todo o lado. E por isso, limpeza geral, máquina a lavar, algumas coisas a caminho da lavandaria.
Pelo menos não se pode dizer que a casa ficou sozinha.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Regresso

De volta a Abidjan, de volta ao blog. Não porque escreva melhor, ou tenha mais inspiração, mas já sei que estando em Portugal raramente ligo o computador fora do trabalho. Prefiro estar com as pessoas, com os sítios, com as coisas.
E foi o que fiz. E assim passou praticamente um mês. Claro que há sempre mais coisas que gostaria de ter feito, mas já foi muito bom.
Agora, cá estou para mais uma temporada em África, com a biblioteca preenchida. Como recepção, 30º e a humidade habitual. Voltei aos calções e tshirt dentro de casa. E a um apartamento vazio, mas sempre com esta ligação a casa.