domingo, 18 de abril de 2010

Episódios

Em conversa recente com um amigo, recordavamos aventuras e desventuras em alguns dos aeroportos pelos quais já passamos.
Um dos episódios comuns, embora independentes, teve lugar no Congo. A ligação interna entre Brazzaville e Pointe-Noire é bastante concorrida, e aos dois nos avisaram para nos despacharmos a entrar no avião.
A reacção a este aviso também foi comun: porque tenho de me despachar, se tenho bilhete e lugar marcado? Até parece que me podem tirar o lugar.
Mas a verdade é que podem, e por isso, mal abre a porta duma sala de embarque péssima e onde chove no interior, toda a gente se atropela, acotovela e corre pela pista fora, precipitando-se para dentro do avião.
O que acontece a quem fica fora? Não sei, eu consegui lugar. E esse meu amigo também.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Vulcão

Na minha última viagem a Portugal, fiquei "preso" em Paris praticamente 10 horas por causa da neve. Desta vez, com viagem marcada para amanhã, uma erupção dum vulcão na Islândia está a provocar o caos nos voos na Europa.
Por enquanto, o aeroporto Charles de Gaulle está fechado, até amanhã às 14h. Imagino que, se o vulcão se portar bem e as condições climatéricas ajudarem, até à madrugada de sábado deve melhorar.
Eu ando com pontaria, mas se o vulcão estava inactivo desde 1820, também podia esperar mais uns dias.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dias trocados

Eu confesso que por vezes sou um bocado distraído com os dias e as datas, mas não me lembro de em alguma ocasião me ter acontecido como hoje.
Já ao final da tarde, tinha um encontro de trabalho marcado com uma pessoa que também se tornou um amigo. E por isso, por vezes marcamos ao final da tarde, já em pós-laboral, para ficarmos um bocado à conversa.
Como combinado, pensava eu, lá apareci. Bati à porta e, como não tive resposta, liguei. Do outro lado ouvi um "mas combinamos para quinta... hoje é quarta". Confere...
Com muito humor e uma pitada de vergonha, pedi desculpa. E até amanhã.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Uma solução

Segundo dia de greve dos transportes. Segundo dia com a cidade meio paralisada. Mas hoje com um dado novo.
A partir do meio da tarde, as bombas de gasolina ficaram completamente apinhadas, o que me surpreendeu porque não estava a par da novidade.
Finalmente, fiquei a saber que o sindicato dos motoristas, que convocou a greve que se vive, decidiu e comunicou pela voz do seu presidente, que amanhã vão não somente continuar a greve, mas também obrigar a fechar as bombas de gasolina que se encontrem a funcionar. Nem que seja pela força. E as bombas comunicaram que amanhã estarão fechadas.
Este tipo de coisas deixam-me triste. Por mais agradáveis que sejam os discursos, por mais apaziguadoras que sejam as palavras, por melhor vontade que seja demonstrada, tudo se revela absolutamente superficial e cai ao primeiro obstáculo que surge. Para os problemas, uma solução: a violência. É pena.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Greve dos transportes

Quando acordei esta manhã, a cidade estava surpreendentemente calma. E foi então que me lembrei da anunciada greve dos táxis, gbakas e woro-woros.
O motivo é o preço do combustível, que subiu recentemente para 779 FCFA (cerca de 1,19€/litro) a gasolina, e 675 FCFA (cerca de 1,03€/litro) o gasóleo. Como precisão, aqui só existe uma gasolina e um gasóleo.
A piorar a situação, os países da região, e mesmo no interior da Costa do Marfim, os preços são bastante mais baixos, por vezes 40%.
E assim chegou a greve dos transportes acima mencionados, o que fez com que hoje não tenho estado em nenhum engarrafamento, coisa perfeitamente anormal num dia de semana.
Claro que, tirando esta vantagem de certa forma egoísta, as restantes são poucas: a cidade pára, os serviços funcionam pior, muitas pessoas têm imensas dificuldades em aparecer para trabalhar.
Normalmente, estas acções levam a uma redução do preço nos dias seguintes, para depois começarem a subir de novo. Foi o que aconteceu da última vez, vamos ver como corre desta.

domingo, 11 de abril de 2010

Semana da ansiedade

Correndo tudo normal, no próximo fim de semana estarei em Portugal. Partida de Abidjan na sexta-feira à noite, chegada ao Porto ao meio-dia de sábado.
Por isso, esta é a semana daquela ligeira ansiedade antes do regresso, e que comigo acaba quando entro no avião.
Depois, é o normal: jantar servido, vejo um filme. Depois, levanto-me e vou tomar um café. A seguir, volto para o lugar e leio.
Ao chegar a Paris, caminhando devagar, mudo de terminal, ouço a minha música e espero o próximo embarque.
Entre Paris e Lisboa, faço uma sesta de meia hora, leio o jornal e aprecio a bonita perspectiva aérea de Lisboa. Lá chegado, mudo de terminal e vou tomar um (finalmente!) bom café.
Mais uma espera, normalmente um atraso, finalmente um voo de 45 minutos e chegada ao Porto. Encontrar família, conduzir até casa (sempre com saudades de conduzir!), rever pessoas, reencontrar sabores, retomar hábitos.
Falta uma semana, e até a segunda-feira custa menos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Desconto

Há uns tempos saí com uns amigos, e claro, fomos parados pela polícia.
Eu ia atrás, confesso que sem cinto de segurança, que apenas é obrigatório nos lugares dianteiros. Mas claro que um carro com quatro brancos dentro era uma oportunidade a explorar.
E então, o polícia disse-me que tinha de pagar multa, ao que eu lhe respondi que me desse a multa e eu iria pagar ao Tesouro. Evidentemente, não era isso que ele queria, e informou-me que não tinha multas ali: elas estavam em Yopougon (longe) e que se quisesse esperar, seria demorado. Esperamos, então.
Contrariado, foi dar uma volta (com o meu documento de identificação, para garantir que não saíamos dali), e quando voltou passou-me o telemóvel. O chefe queria falar comigo.
O chefe lá me explicou a situação, numa voz pausada e calma, para ter mais credibilidade. Acabada a conversa, devolvi o aparelho. O polícia lá falou com o chefe mais um pouco e, após desligar, disse-me: "o chefe faz um desconto à multa; pagas 2.000 em vez de 5.000".
Não paguei. Mas perdemos uns bons 20 minutos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Meco

Com o aproximar das comemorações do cinquentenário da independência da Costa do Marfim, Abidjan começa a engalanar-se: pintam-se passadeiras, colocam-se caixotes do lixo e semáforos, recolhe-se lixo e a limpam-se canais de escoamento de águas pluviais.
Um desses canais, que estava completamente cheio de areia, acompanha a via rápida, pelo que colocaram os sinalizadores vermelhos (vulgo mecos) a indicar a presença dos trabalhadores.
E, à imagem do que via frequentemente em França, em que o último dos mecos é posto deitado para indicar que é o último, o grupo de funcionários que ontem efectuavam o trabalho aqui, arranjou um marcador bem mais original: uma lata de Coca-Cola. Nem mais, nem menos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Esclarecido

O bar onde por vezes vou tomar café, perto de minha casa, tinha duas empregadas, Stéphanie e Tina.
Não sei as idades, não conheços os passados, não sei há quanto tempo trabalham ali. No fundo, não tenho informação para avaliar se era um bom ou mau trabalho.
Recentemente, a Stéphanie disse-me que se tinha despedido. Porquê? Porque estava cansada de trabalhar. O que está a fazer agora? Nada. Está à procura de quê? Não está à procura. Esclarecido.

Transitário

Num dia da semana passada, encontrei o meu novo vizinho no banco.
Após os cumprimentos e as perguntas obrigatórias ("Então como se está a dar?", "A instalação está a correr bem?",...), ele desabafou que estava muito incomodado porque não conseguia tirar uma encomenda do transitário.
Ele é professor, e enviou de França uma encomenda com os seus livros todos. Mas para os retirar aqui, o transitário está a exigir-lhe um pagamento que não estava previsto. E é normal que não estivesse, porque é inventado. No caso do meu vizinho, é basicamente o valor declarado dos livros, pelo que equivale a "recomprá-los".
Infelizmente, esta é uma prática corrente: os transitários aproveitam o poder temporário que lhes é dado pela detenção dos bens das pessoas, que precisam deles. E depois, arranjam todos os argumentos para retardar a entrega do material, até que vencem pela fadiga. Mesmo que não recebam o que pedem de início, frequentemente acabam por receber alguma coisa.
Por mais frequente que seja o meu contacto com esta forma de "gerir" os negócios, acho que nunca me vou habituar. O que se torna verdadeiramente cansativo.

Serviços... secretos

Aos domingos, o clube de ténis onde vou costuma estar cheio. Grupos de amigos, famílias inteiras, jovens e menos jovens, aproveitam o jardim, a piscina e o bar para descontrair.
Ontem, após o meu jogo e como faço normalmente, fiquei no jardim a fazer uns alongamentos. No terreno de ténis ao lado, tinha entrado já um grupo de alemães com quem me cruzo frequentemente.
E de repente, vejo um dos apanha-bolas do clube, que estava com os alemães, a chamar uma miúda dos seus 14 anos e a entregar-lhe o cartão de visita de um dos elementos do grupo, o mais velho deles todos, dos seus 65 anos.
Eu fiquei tão incrédulo que até perguntei a um outro dos empregados do clube se eu tinha visto bem. Justificação: ele é dos serviços secretos alemães e as miúdas são boas fontes de informação. Pois, secretos...
Faço de conta que acredito, mas não consigo deixar de pensar que é também por estas coisas que as minhas relações com outros expatriados aqui são relativamente limitadas.