A Costa do Marfim atravessa momento delicados, importantes e possivelmente decisivos. Eu tenho acompanhado e vivido tudo, mas sinto que me faltam as palavras para descrever o que se vai passando, provavelmente devido ao misto de frutração e impotência que sinto.
No passado domingo foi a segunda volta das eleições, que foi menos concorrida do que a primeira (cerca de 70% de participação contra 84% a 31 de Outubro) e com muito mais tensão. Apesar dos dispositivos de segurança terem sido reforçados, parece ter havido mais incidentes. As conclusões são díspares: enquanto alguns grupos de observadores dizem que não se poderão considerar eleições democráticas e transparentes, outros dizem que sim. As Nações Unidas alinham pela segunda opinião, não sem notar a ocorrência de alguns incidentes, mas que no global não colocam em causa a validade do escrutínio.
O que se tem passado desde então é quase indescritível, mas parece resumir-se ao seguinte: o actual presidente, Laurent Gbagbo, e candidato à sua sucessão, perdeu para o seu arqui-inimigo Alassane Ouattara. E não obstante as juras de que aceitaria o resultado saído das urnas, não é o que as suas acções demonstram.
A comissão eleitoral, que tinha um prazo de 72h para comunicar os resultados não conseguiu fazê-lo, aparentemente porque os representantos do actual presidente sabotaram o processo para que o assunto passasse para o conselho constitucional, reconhecidamente alinhado com Laurent Gbagbo.
Ontem à tarde, numa cena recambolesca e perante as câmaras da televisão, o porta-voz da comissão eleitoral tentou anunciar os resultados, tendo sido impedido por dois representantes de Gbagbo, que entraram em cena e lhe arrancaram os papéis da mão, garantindo que o prazo de 72h expirasse.
Agora o panorama é o seguinte: desde sábado passado e até próximo domingo pelo menos, está instalado um recolher obrigatório, entre as 19h e as 6h; a comissão eleitoral anunciou esta tarde os resultados, que foram transmitidos pela France24 e iTele, canais que foram por isso cortados; todas as fronteiras (aéreas, terrestres e marítimas) estão fechadas desde as 20h de hoje até nova ordem; a televisão pública passa continuamente apenas e só notícias pró-Gbagbo... Etc, etc, etc.
Isto são coisas que eu conheci pelo que ia lendo nas notícias: recolher obrigatório, controlo de imprensa e informação... mas vivê-lo é completamente diferente.
O que se vai passar, não sei. Mas sei que esta não é a vontade da maioria da população, que saiu massivamente para votar porque estão cansados do que vivem diariamente e querem mudar. Vontade que lhes está a ser minada por um pequeno grupo de pessoas incapaz de largar o poder.
Confesso que por momentos, após a forma como se decorreu a primeira volta e o debate televisivo entre os dois candidatos, pensei que isto pudesse correr bem, esperança que se está a revelar infundada. A minha e a de milhões destas pessoas...
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
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