terça-feira, 23 de junho de 2009

20 horas

Até já, Abidjan; olá, Portugal.
Por uns dias, estarei em Portugal e como já é hábito, isso significa uma provável ausência do blog. Compreender-me-ão, certamente.
Chego no dia de São João, já com os churrascos frios e os balões lançados, mas ainda com o cheiro a manjerico. Só me faltam 20 horas de aeroportos e aviões.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Confiança

Todos os negócios, de grandes a pequenos, se baseiam na confiança. Mesmo quando vamos comer uma torrada, estamos a confiar que ela não só é bem feita como não terá nenhum produto que nos vá prejudicar.
Pois uma lavandaria não escapa à regra. Quando lá deixamos a roupa, confiamos que não a vão estragar, e que a vão entregar, e até que a vão entregar num determinado prazo.
Mas esta última parte tem-se revelado muito difícil por cá. Uma vez foi com as camisas, que demoraram uma semana. Agora foi um fato, que lá deixei no sábado com a promessa de estar pronto hoje. Não estava. Ainda bem que tenho outros.

domingo, 21 de junho de 2009

Paella

Paella em Abidjan: é possível, comprovei-o hoje e estava muito boa.
O restaurante do qual já aqui tive oportunidade de falar é um verdadeiro mimo, e vai-me surpreendendo pela variedade e qualidade dos pratos. Ao domingo têm paella, mas é preciso marcar para garantir que se consegue provar, tal é o sucesso.
Estava de facto cheio, e mais uma vez não desiludiu. Acompanhada dum bom vinho branco bem fresco, a paella estava deliciosa.
Curiosamente, os pratos onde acho o restaurante mais fraco são aqueles onde deveria ser mais forte, visto que é originalmente um restaurante italiano: pizzas e pastas vou comer a outro lado. Mas o resto compensa largamente, e até se esquecem as raízes.

sábado, 20 de junho de 2009

Televisão à chuva

Quando chove muito, a televisão deixa de dar. Não preciso nem de olhar para a janela: basta ter a televisão ligada.
Por isso, está condenada à partida aquela ideia dum confortável domingo de chuva diante da televisão, até porque aqui quando chove é sempre muito, e portanto é certo que a televisão vai falhar. Haja internet.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Destino

Um lagarto na piscina não é muito comum. Não consta que eles tenham muito calor, ou que tomem banho por prazer. A conclusão é que deve ser acidente, e as perspectivas não são boas.
Pois hoje salvei um de afogamento. Cheguei já ele estava de barriga para cima, mas ainda vivo. Tirei-o da água e ele correu uns metros pelo jardim até se imobilizar, porventura para se recompor do choque.
Fiquei contente com este pequeno gesto, e mais ainda quando verifiquei que ele já não estava no mesmo local. Recuperado, julguei eu.
Mas logo de seguida, vi na rua uma pega com uma presa. E quem era a presa? Um lagarto, ao qual ela deu uma série de bicadas até o levar para longe.
Não tenho a certeza que fosse o lagarto que salvei de afogamento. Mas acho que as probabilidades são grandes. Quem me manda interferir com o destino?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Contas à vida

Existem trabalhos arriscados. Ser vendedor de peças avulso na estrada, no meio do trânsito, é um deles.
É o que acontece aqui em grande escala: vendedores com os mais variados artigos espalham-se pela cidade, serpenteando pelo meio dos carros, a mostrar às janelas o que têm para oferecer.
Mas fazem-no, normalmente, em zonas de engarrafamento, onde a velocidade das viaturas é baixa, reduzindo por isso os riscos. Hoje, no entanto, vi uns vendedores com um novo modelo de negócio, desenvolvido em plena via rápida onde os carros circulam... como numa via rápida.
Ora, à minha frente, um carro não se apercebeu da presença de um dos vendedores (eram dois) e fez uma manobra que obrigou o outro carro, na faixa à esquerda, a desviar-se indo direito ao segundo vendedor. Este acabou por conseguir dar dois passos rápidos e atirar-se para o separador central. Sim, atirar-se como se vê nos filmes.
Talvez seja altura de fazerem contas à vida.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Greve

A greve é um direito. É um direito que deve ser exercido em determinadas condições, mas é também um instrumento delicado, pois facilmente se perde a razão.
Actualmente em Abidjan há dois pólos de greve claramente identificados: um é ao nível dos trabalhadores do porto de Abidjan, e outro ao nível dos médicos do serviço público.
A dos médicos começou mais recentemente, apesar de já pairar a ameaça no ar havia algum tempo. A dos trabalhadores do porto é mais antiga, e pelos vistos esgotaram-se as ideias.
Não é que este início de semana, talvez impelidos pelo tédio, resolveram parar dois autocarros da empresa de transportes públicos e incendiá-los? Qual a ligação com as reivindicações? Nenhuma. Talvez a seguir os médicos destruam uma loja de electrodomésticos.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Acordo

O meu primeiro dia em Cotonou (domingo passado) foi logo marcado por um episódio que até tenho dificuldade em catalogar. Vou adoptar o hilariante.
Quando cheguei ao hotel depois de jantar, reparei que não tinha nem champô nem gel de banho, pelo que me dirigi à recepção. Simpaticamente, o sr. Barthélemy disse-me que não podia acudir à minha necessidade naquele instante, visto que a pessoa que tem a chave do economato já tinha saído... e levado a dita cuja.
Então, ainda mais simpaticamente, prontificou-se a levar-me os produtos às 7h, para eu ainda ter tempo de me preparar. Simultaneamente, pedi a wake up call para as 6:45h. Até aqui, tudo perfeito.
O problema é que entre as palavras e os actos vai uma longa distância. Às 6:45h acordei... com o despertador, porque da wake up call, nem sinal. Esperei até às 7h. Esperei até às 7:05h. Liguei para a recepção.
Felizmente, tinha-lhe perguntado o nome já para me precaver, e após uma interjeição de quem se esqueceu completamente, lá veio a correr.
A parte hilariante ainda vem a seguir. Mal abro a porta, e talvez numa tentativa de me apanhar estremunhado e pronto a dar-lhe alguma coisa pelo bom serviço, ele atira um surpreendente "Eu cumpri a minha parte!!". Azar: eu já estava acordado há bastante, e já tinha praguejado um bocado sobre a sua pessoa, pelo que lhe recordei ponto por ponto o que tinha sido acordado e fechei a porta.
Porta batida, não pude deixar de me rir sozinho. E tomar um belo dum banho para começar o dia.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Marines EUA

No hotel onde estou alojado encontram-se muito marines dos Estados Unidos. Ao início tive um bocado de dificuldade em perceber, pensei que era uma excursão dum liceu. Mas depois vi alguns de uniforme e esclareceu-se a dúvida.
Uma das partes engraçadas da presença deles aqui é vê-los a comunicar com os locais: francês nem pensar, e dos empregados do hotel poucos percebem alguma coisa de inglês. É tão divertido!

Motorizadas

Nunca na minha vida tinha visto tantas motorizadas juntas, como aqui em Cotonou. Já me tinham avisado para o fenómeno, mas não há nada como ver.
Elas saem de todos os lados. Conduzir um carro é uma fuga permanente a bater em alguma... ou melhor, a técnica é seguir em frente e confiar que se desviam. Desde que aqui estou desviaram-se todas...
E os táxis são também motorizadas, mas não estou interessado em ver o confronto "duas vs. quatro rodas" da outra perspectiva.

sábado, 13 de junho de 2009

Selecção dos Camarões

A Costa do Marfim jogou contra os Camarões, num jogo amigável hoje aqui em Abidjan. Não houve acidentes no estádio e a Costa do Marfim ganhou 2-1, com 2 goloso de Drogba e 1 de Eto'o.
A equipa dos Camarões ficou instalada no Pullman Hotel e, longe dos esquemas de segurança montados em torno de muitas selecções, aqui o acesso é bem mais fácil.
Por isso, a entrada do hotel, assim como a recepção, o bar e o hall dos elevadores estava cheio de adeptos de máquina fotográfica e telemóveis em punho. Eu só queria passar para ir ao restaurante, mas quase pisava o Eto'o.

Preso

Sair aqui à noite é sinónimo de ser parado pela polícia umas quantas vezes, o que dá bastantes oportunidades para acontecerem coisas engraçadas.
Numa das três vezes que fui parado hoje, o polícia estava muito bêbedo, mas fez um controlo normal: documentos do carro e do taxista, e documentos de identificação dos passageiros.
Mas além disso, quis verificar a mala do táxi, e mandou o condutor ir abrir a mala. Obedientemente, o taxista lá desligou o carro e aprontava-se para sair, quando se apercebeu que estava preso: a porta não abria. Tentou por dentro, tentou por fora, forçou, abanou e fez tudo isso várias vezes. Sem resultado.
Entretanto, o polícia já estava quase aos gritos a mandá-lo sair do carro, coisa que o homem estava impedido de fazer normalmente. Foi obrigado a sair pela porta do lado direito. Pelo menos a mala não causou tantas dificuldades.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

"Silêncio"

Cada um de nós tem coisas que odeia. Não necessariamente coisas muito graves ou importantes ou que fazem girar o mundo, mas que ainda assim odeia. Eu, entre outras, odeio acordar com o telefone ou a campainha de casa a tocar.
A noite passada, uma das poucas nos últimos tempos em que acordei menos de 3 vezes durante o sono, estava a dormir bem... e seguido. Eis senão quando, perto das 6 da manhã, tocaram-me à campainha!
Como não foi apenas um toque (esse teria entrado naquela categoria dos sons que parecem pertencer a sonhos), mas sim um toque insistente, acabei por me levantar estremunhado para ir à porta. De mau humor, obviamente. Mas já lá não estava ninguém, o que não ajudou a melhorar a disposição.
Assim, durante um dia, houve momentos em que fui assaltado pela ideia duma campainha que, tal como os telemóveis, tenha um perfil chamado "Silêncio".

quarta-feira, 10 de junho de 2009

3 litros de banho

Após um bom (e longo) jogo de ténis este final de tarde, era grande a vontade de tomar um bom duche de água morna. Para tal, era condição essencial fazê-lo antes das dez da noite, porque a água tem sido cortada todas as noites por volta dessa hora, presumo que para trabalhos de manutenção do circuito.
O problema é que hoje devem ter decidido começar a trabalhar mais cedo, pelo que quando cheguei já a água tinha sido cortada. Já que não era opção não tomar banho, tive de improvisar.
Assim, agarrei em duas garrafas de litro e meio de água e levei-as comigo para a banheira. E sim, foi possível.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Retalhos de filmes

Se eu pensava que alguns canais em Portugal se repetem exausivamente, em comparação com alguns que aqui tenho são verdadeiros amadores.
Aquela emoção de, passados alguns meses, ter televisão para poder ver um filme não durou muito, porque depressa percebi que a videoteca destas canais é bastante limitada.
Claro que há um lado positivo: uma vez que a minha memória ainda dura mais do que uma semana, já vi aí uns três filmes aos retalhos. Um bocadinho aqui, outro ali, junta-se as peças e está o filme montado. Neste momento, estou a ver mais um pedaço.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sr. Ousmane

Os dotes culinários do Sr. Ousmane, meu empregado, começam a extravasar fronteiras. Pelo menos, as fronteiras do apartamento.
Hoje à hora de almoço subi no elevador junto com uma jovem que trabalha no apartamento ao lado do meu. Após a constatação que somos vizinhos, ela perguntou-me "então é o seu cozinheiro quem nos mata todos os dias?".
E é verdade que normalmente cheira muito bem o que ele vai fazendo. Numa mistura de comida europeia e africana, tenho garantido que fome não passo. Acho até que é ele um dos responsáveis por eu ter engordado um bocado. Mas não me posso queixar.

domingo, 7 de junho de 2009

Omar Bongo

Morreu Omar Bongo, presidente do Gabão. Espero que não seja sinal de problemas.
Omar Bongo estava na presidência do Gabão desde há 41 anos, sendo por isso o chefe de estado africano no poder há mais tempo.
Como tantos outros, enriqueceu indecentemente, o que lhe permitia ter uma série de casas em França, bem como uma série de processos em tribunal.
Houve pelo menos uma coisa boa que manteve no Gabão, que foi a paz. Presumo que, ao contrário de tantos que encontram na guerra a forma de satisfazer os seus interesses, Omar Bongo fê-lo com a paz, o que sempre foi melhor para o povo e para o país.
Agora que faleceu, coloca-se o problema da sucessão, que nunca foi convenientemente preparada. E pode ser esta a causa de muitos problemas, ou não fosse o Gabão um país muito rico e, por isso, muito interessante.

sábado, 6 de junho de 2009

Enciclopédia de preços

O sistema de registo de preços num dos supermercados aqui é muito engraçado. Mas não é nada eficiente e sobretudo não me parece nada fiável.
Nem todos os produtos têm os preços marcados . E o código de barras ainda não chegou lá. Logo, há sempre alguns itens que chegam à caixa sem que ela tenha qulquer indicação sobre o seu valor.
Solução: ter uma pessoa (para umas 15 caixas) que, aparentemente, sabe os preços todos de cabeça. E pelo que vi, o Sr. Kossonou deve ser a pessoa mais requisitada naquele supermercado, tantas vezes e sem interrupção ouvi chamar por ele.
Além de extremamente ineficiente, sendo precisa bastante paciência para esperar a nossa vez, não parece muito de confiança, mas curiosamente ninguém põe em dúvida os valores gritados por aquele senhor. Espero que não meta baixa, porque senão o sistema vai piorar ainda mais.

Táxi com segurança

Esta noite andei num táxi muito especial. E seguro!
À saída dum bar, procurava um táxi para ir a outro lado. Eis senão quando, os seguranças da casa perguntam qual o destino e então aprontam-se para fazerem de táxi!
Claro que paguei, mas andei no carro da "911", uma das melhores companhias privadas de segurança de Abidjan. Será que o patrão sabe o uso que lhe é dado?

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Taverne Romaine

Taverne Romaine: apontem este nome e se vierem a Abidjan, não deixem de lá passar. Está eleito como o meu restaurante preferido aqui.
Supostamente é um restaurante italiano, até pelo nome. Mas tudo o que lá experimentei até agora, e não necessariamente italiano, é absolutamente delicioso, desde as entradas até à sobremesa.
Além da comida, que num restaurante é evidentemente fundamental, tem uma clientela muito diversificada: hoje misturava-se lá português, francês, inglês, italiano e árabe. E finalmente, tem uma proprietária muitissimo simpática e acolhedora. Sou fã!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Construir uma identidade

Sente-se que a Costa do Marfim é um país à procura de identidade, algo que é agora ainda mais acentuado com as eleições que se aproximam.
Digo isto porque praticamente todas as notícias que saem no jornal derivam, invariavelmente, para dissertações sobre a necessidade de união do povo, de se compreenderem e tolerarem, e de confirmarem o potencial que lhes é atribuído.
Confesso que chega a ser um pouco irritante e diria até exagerado, mas compreendo que os meios de comunicação têm um papel importante nesta construção. Que sejam bem sucedidos.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Maria Callas

Ontem comprei um conjunto de CDs da Maria Callas, "La Divina". Aqui como em Portugal, há alguns artistas e alguns tipos de música cujos CDs são mais baratos, por serem menos procurados. Neste caso, ainda bem.
As arias são absolutamente maravilhosas. A vida transmitida na música é extraordinária. E dá vontade de ouvir durante horas, coisa que já fiz um pouco. Por momentos, o meu apartamento fica cheio. Adoro música!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Voo Air France

A incontornável notícia do dia é o desaparecimento (ou devo dizer queda?) do avião da Air France, que fazia a ligação Rio de Janeiro - Paris.
Por dia existem muitos milhares de voos, de companhias consideradas seguras e muitas outras nem tanto. Pensando nisso, é de facto raro haver acidentes, apesar de que quando acontecem são quase sempre trágicos.
No entanto, é dificil ficar indiferente. É difícil não pensar que era apenas um voo como tantos outros, num aparelho praticamente novo e com uma tripulação cuja competência não causa dúvidas. É difícil pensar apenas no número 228 e não nas pessoas, ainda que as não conheça.
A Air France é a companhia que mais frequento actualmente, e não irei mudar devido a isto. Nunca, aliás, tive grandes sustos nas viagens que já fiz, o que não significa que não venha a acontecer. Mas hoje em dia, não andar de avião é quase uma impossibilidade. Para mim, é-o com certeza, e não posso dizer que tenha propriamente medo. Mas apesar de tudo, apesar das estatísticas, confesso que gosto muito de conduzir.