quarta-feira, 29 de abril de 2009

Dom dos elevadores

Não pensem que tenho um especial fascínio por elevadores, mas a verdade é que são lugares muito engraçados. Além disso, têm um dom especial: o de revelar a educação das pessoas.
Passo a propor (ou direi antes, a descrever) três situações diferentes. A primeira é clássica: alguém que entra no elevador, onde já estão outras pessoas, e nem sequer cumprimenta. A segunda: imaginem-se à espera do elevador, mesmo em frente à porta, onde não estariam nunca a menos que estivessem à espera do dito. No momento em que o elevador chega, alguém vem quase a correr e precipita-se para ele à vossa frente, como se não houvesse amanhã. Finalmente: imaginem-se dentro do elevador, e quando chegados ao destino, os tais que se precipitam para o seu interior fazem-no sem praticamente vos deixar sair. Ora, é de elementar inteligência que um espaço exíguo como um elevador é bem menos apropriado para manobras do que o hall de entrada.
Eu sei que os elevadores aqui do prédio demoram um bocado a chegar, pelo que aproveitar o que ali estiver é tentador, mas ainda assim há mínimos. E pensar que eu até as senhoras deixo passar...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Nome

Tenho um novo melhor amigo no prédio. É um dos guardas nocturnos.
Recentemente, no meu regresso, ele viu-me chegar carregado e ajudou-me a trazer as coisas até ao apartamento. Dada a simpatia, retribui com um pequeno gadget: um rádio portátil, daqueles pequeninos que se levam para os jogos de futebol. Ele ficou tão contente que nem sabia que dizer!
Agora, todos os dias quando chego está à minha espera. Ou para me ajudar a tirar as coisas do carro, ou para fechar a porta, ou para chamar o elevador, ou para agradecer mais uma vez...
Confesso que chega a ser comovente. Tenho de lhe perguntar o nome.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Carro

Quando, há uns tempos, um conhecido teve um acidente de automóvel que deixou o veículo imobilizado durante uma noite, imediatamente se estabeleceram turnos entre os amigos para ir tomar conta do carro. Isto para garantir que de manhã ele ainda teria as peças todas...
Entretanto não pensei mais no assunto, mas ontem vi um carro parado (e que tinha ardido) na berma da estrada. Da primeira vez que o vi, estava queimado mas com peças. Hoje só lá estava a carcaça! Nem uma única peça amovível para amostra!
Assim, estou avisado: é bom ter um carro espaçoso, para o caso de ser preciso dormir lá dentro.

domingo, 26 de abril de 2009

Ténis a escaldar

Hoje esteve imenso calor aqui, e eu ainda me atrevi a ir jogar ténis.
De facto, e mesmo já tendo passado os meses em que normalmente o calor mais se faz sentir, hoje esteve verdadeiramente quente. Esteve um daqueles dias em que estar parado ao sol é uma real tortura.
Mas se estivermos a correr, já não é assim tão mau. Foi isso que pensei e decidi ir jogar ténis, às três da tarde. Evidentemente, apesar de não ser insuportável, sofri um bocado. Aliado ao calor, a falta de prática nas últimas duas semanas não ajudaram, e as bolas saltavam para todos os lados, o que talvez tenha feito o apanha-bolas sofrer mais do que eu.
No final, foi óptimo encontrar uma sombra duma árvore para me sentar um bocado, e foi óptimo o banho que veio a seguir. Mais umas quantas assim e sou capaz de ficar moreno.

sábado, 25 de abril de 2009

Burlas

Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Foi o que sempre ouvi dizer e acredito, mas nem toda a gente o faz.
Aqui como em todo o lado, há tentativas de burlas e burlas que se concretizam. Uma das últimas, que até saiu nos jornais, era sobre a importação de umas sementes que serviam para produzir medicamentos anti retrovirais. O processo era o seguinte: alguém telefonava a dizer que conhecia um familiar que lhe havia dado o número. E depois embrulhava a pessoa dizendo-lhe que precisava de uma determinada quantia para poder importar o produto da Europa, sendo que o retorno era garantido e multiplicado umas 20 vezes.
Houve várias pessos que caíram. Uma delas conheço, e entregou uma quantia que era quase todo o dinheiro que tinha. Agora os burlões estão presos, mas duvido que quem deu o dinheiro o vá reaver. Ainda assim, mais vale investir em acções.

Esquecimento

Como se diz por aí, eu só não perco a cabeça porque ela anda agarrada. Querem acreditar que me esqueci do porta-fatos (com fato incluído) no avião ontem?
Na última viagem no mesmo voo, quase deixava lá o telemóvel... Mas aí não seria esquecimento: ele estava no bolso e caiu para o banco. Já estava bem fora do avião e a caminho do controlo de passaportes quando dei conta, e parti em contra-corrente para o ir buscar. Comentário do capitão, que estava à porta: "Senhor, o caminho é no outro sentido".
Esse episódio foi o aperitivo, ontem foi o prato principal. No início do voo, o meu casaco juntamente com o porta-fatos foi guardado no armário do avião. No final, a senhora devolveu-me o casaco mas não o resto, e eu vim embora sem me lembrar. Felizmente, tudo se resolveu e vou recuperar as coisas. Já não se pode confiar nas hospedeiras!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ameaças de turbulência

Hoje passei o voo a ser ameaçado de tormentas e tempestades que nunca apareceram, e acabou por ser um voo muito tranquilo.
Não entendam isto como uma queixa ou reclamação: se puderem ser todos assim, melhor. Mas aparentemente, uma vez que atravessa zonas de contacto de ares quentes vindos do deserto, e ares frios vindos da Europa, bem como uma zona tropical com chuvas e tempestades frequentes, acabam por ser muitas as oportunidades de apanhar uns sustos no avião.
No voo de hoje, foram inúmeras as vezes que foi pedido para que os passageiros se sentassem e apertassem os cintos, por se estar prestes a entrar em zonas de forte turbulência. Revelou-se sempre falso alarme, e sempre se pouparam umas ansiedades.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Ressaca

Quando venho embora do Porto, tenho sempre um período de ressaca. Não é pelo hábito que se vai instalando de viajar que ela se dissipa, mas no meu caso acho que até tem aumentado, por antecipação das saudades.
Digam o que disserem, eu gosto muito de Portugal. E gosto sobretudo das pessoas, das "minhas" pessoas. É verdade que quando aí estou, aprecio um bom prato de bacalhau, ou um passeio na marginal do Douro, ou um jantar com vista para a Ribeira. E dessas coisas sinto falta pontualmente, quando estou fora. Mas aprecio muito mais as pessoas, das quais sinto falta constantemente. E elas estão sempre tão presentes que, de cada vez que chego a Portugal, parece que nunca saí, já que me sinto tão à vontade.
Agora estou de novo fora, e estou de ressaca da qual esta crónica é o reflexo. Volta a contagem decrescente.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Até já

A mala está feita. Os "até breve" estão ditos. E o passaporte e bilhete estão prontos. Até já!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Viagem

Amanhã por esta hora já estarei no avião que me levará a Portugal, via Paris. Por isso, vai ser um dia a correr.
A correr porque há sempre coisas a fazer, e quando me ausento por uns dias, tenho de deixar tudo pronto e/ou planeado.
O que também já está planeado é o ménu para o almoço de sexta-feira: bacalhau assado na brasa, que me vai saber muito bem e sempre é uma variação (para melhor) em relação à banana frita. E claro que ainda não fiz as malas, mas já que o dia será passado a correr, também posso fazê-las num instante.

Caipirinhas e francesinhas

O brasileiro que conheci enquanto morei no Hotel Tiama, está de volta a Abidjan para ficar um ano, no mínimo. O que é bom, porque quando estamos longe sabe bem ter alguém com quem temos alguma afinidade.
Hoje fui jantar com ele, reactivando assim uma amizade que ficou de há uns meses atrás. Entretanto ele já encontrou um apartamento, o que lhe permite ir criando as suas rotinas, tal como eu fiz há já uns meses.
Apesar de ambos falarmos também francês e inglês, é engraçado ver como o português nos aproxima. Tendo começado por aí, julgo que será uma amizade a desenvolver, e que pode melhorar a estadia em Abidjan. Já vejo caipirinhas e francesinhas no horizonte!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Cargas

Hoje fui à zona industrial de Youpougon e vi um camião com 3 cachos de bananas pendurados no pára-choques dianteiro. Não pude deixar de sorrir perante aquele conceito de decoração, mas logo fui infomado que não era essa a razão.
Afinal, as bananas estavam ali penduradas para indicar à polícia qual a carga do pesado. Pelo visto, também é comum ver-se camiões com ananases suspensos, mas confesso que nunca reparei em nenhum.
E assim, tenho uma observação e uma questão a fazer: a observação é de que continuo a achar que há ali um pouco de decoração, porque para indicar um transporte de bananas, basta uma... não são precisos 3 cachos; a questão é o que farão os camionistas quando têm de transportar frigoríficos?

domingo, 5 de abril de 2009

Árvore do Ténéré

No Museu Nacional do Niger pude ver a Árvore do Ténéré. Porventura já terão ouvido falar dela, e com razão: era um exemplar único num raio de 400km, em pleno deserto do Sahara.
Numa análise desapaixonada, era apenas um exemplar de uma árvore que encontrou as condições mínimas para se desenvolver, estendendo as suas raízes até cerca de 35 metros de profundidade, onde encontrava a água necessária. Mas não é possível ficar impávido e reprimir a emoção perante tal improbabilidade, e também por isso a árvore ali se manteve protegida por esta aura de sobrenaturalidade, de todos quantos por lá passavam.
De todos menos dum motorista de camião ébrio, que em 1973 a derrubou, conseguindo a proeza de acertar na árvore onde o que não falta é espaço... e não havia de certeza nenhum engarrafamento nem certamente nenhum gato atravessou a rua de repente. Curiosamente, essa não foi a única ocasião em que a árvore foi atingida por viaturas.
Assim morreu aquele símbolo de tenacidade, de resistência à adversidade, agora perpetuado na forma de dois troncos secos no museu em Niamey. Nem no meio do deserto se pode ter sossego!

Contrariados

São 8:30h da manhã de domingo. Fiel ao meu princípio de respeitar horários, e para garantir que não fico em terra em Niamey, dirigi-me para o aeroporto com as duas horas de avanço normalmente pedidas.
Pois bem, cá estou no aeroporto, eu e mais umas 15 pessoas bem contadas, das quais um terço são passageiros, um quinto polícias, um quinze avos vendedores de bens e serviços vários (vende aloquetes e engraxa sapatos, pelo menos), e as restantes são funcionários. Mais ainda, o check-in está fechado. Simplesmente fechado, à espera que alguém venha abrir a porta e registar os passageiros.
Por aqui se vê que o movimento neste aeroporto não é grande, o que não me surpreende. Mas esperava um pouco mais de ambiente de aeroporto, e não tanto de negócio de família que abre tarde ao domingo. Tarde e porventura contrariado!
Contava terminar por aqui esta crónica, mas não posso deixar de referir a senhora polícia que acabou de entrar aqui a mandar em tudo e todos, fazendo uso do porte, do uniforme e dum enorme volume sonoro. Também deve vir contrariada...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Niamey

Nunca pensei encontrar tantos estrangeiros não-africanos em Niamey! Num país no meio do deserto, numa cidade que nem tem hóteis de cadeias internacionais (não é juízo de valor, mas um facto), encontro europeus, norte-americanos, sul-americanos, asiáticos... e eventualmente outros que não consigo alocar a nenhuma região em concreto.
Hoje ao final da tarde, eventualmente atraídos pela beleza do pôr-do-sol sobre o rio Níger, o terraço do hotel estava cheio, e a grande maioria compunha a tal mescla que acabei de descrever. É certo que o hotel é uma amostragem enviesada, mas mesmo na rua vêem-se muitos não-nacionais.
As atracções são os negócios (o Níger é um país que ameaça desenvolver-se bastante) e o turismo. Há imenso veículos todo-o-terreno, prontos a ir para o deserto, e há parques relativamente próximos com a vida selvagem africana no seu esplendor. Além do mais, as pessoas parecem-me simpáticas, e o ambiente descontraído.
Confesso que ao primeiro contacto, não fiquei com grande impressão de Niamey. Mas com o desenrolar dos dias, tenho de admitir que é uma cidade com um certo encanto.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Bungalow

Fui alojado num bungalow. Não que assim tenha escolhido, ou que me tenha sido dada a opção. Mas chegado ao "Grand Hotel du Niger", eis que me conduziram para um quarto fora do edifício principal do hotel, a que chamam bungalow. Fica no meio do jardim, o que nem é desagradável, e é bastante espaçoso.
Tem alguns pormenores curiosos, nomeadamente o facto do armário estar dentro da casa de banho, e o cofre dentro do armário... portanto, dentro da casa de banho também. Além disso, tem o aparelho de ar condicionado numa posição tal que se não regularmos o modo flap, congelamos na cama.
No geral, não é desagradável e nem tem carpete, mas sim tijoleira, o que previne eventuais alergias. Mas é pior do que parece nas fotografias...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

"Flashs" de ligação

Estou em Niamey, no Níger. Cheguei às 22:30h e estão 35º, o que me deixa antever alguns dias complicados...
Há imensas coisas que posso contar deste primeiro contacto, mas estou prestes a desesperar com a internet. Ou melhor dizendo, com a falta dela. Nós chegamos a uma fase de tal dependência desta tecnologia que nos queixamos de uma ligação de velocidade mais baixa do que estamos habituados. Se lerem esta mensagem, no entanto, é porque com muita paciência (a lentidão é um dado adquirido) lá acertei num dos flashs de ligação.