domingo, 27 de julho de 2008

Dupla hélice

Em 1953, James Watson e Francis Crick desvendaram a estrutura do DNA, após uma importante contribuição da photo 51, obtida no ano anterior por Rosalind Franklin.
O DNA é, simultaneamente, início e destino, porto de partida e de abrigo. Sob a batuta invisível dum qualquer Demétrio de Falero, organiza-se dum modo muito particular e dá origem a cada um de nós; este é o início. Depois, define em grande medida como crescemos, vivemos e morremos; este é o fim. Mas será que existe DNA para a alma?
A interrogação surge-me por causa da música, que ouço sempre que estou em casa. A menos que me apeteça ouvir algo específico, costumo correr em modo aleatório as 700 músicas que tenho no iPod. E nenhuma desperta em mim a mesma sensação que os acordes da guitarra portuguesa, do que o fado. O curioso disto tudo é que nem é um estilo de música que ouça amiúde, em Portugal. Imagino que seja o síndrome do desprezo de proximidade... Mas aqui não consigo deixar de sentir que a restante música é emprestada, é música de outros que eu me atrevo a ouvir, e me concedo apreciar. É a minha música lamarckiana. Em oposição, o trinado da guitarra portuguesa é fisiológico, é genético, é intrínseco. É uma via aberta para a Ribeira do Porto, para o Cais das Pedras, para as pequenas adegas com paredes de pedra e bancos corridos. Não sei que mecanismo explica isto, mas talvez o sentimento dum povo também tenha dupla hélice.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parece ser denominador comum...
Essa sensação, necessidade, desejo, seja lá o sentimento que te leva a escutar esses acordes vezes sem conta definem um pouco a nossa alma... Acho que nos tornamos mais sensíveis a algo que é só nosso...
Essa melodia torna a distancia mais curta e mais suportável...
Eu dei por mim a cantar ( sim eu a cantar em publico) em pleno metro com o coração na boca e com pele de galinha... Claro que não se compara a distancia... mas o que se sente é da mesma intensidade...
Quando vires pela primeira vez televisão portuguesa relata a experiencia.. vai ser delirante, aposto!
Quer seja 1600km, quer seja do outro lado do mundo ou como tu dizias, quer seja a 3h ou a 3s a distancia existe e a maneira como se a vive não deixa de ser igual, por muito diferentes que sejamos!!
Bem, acho que já me alarguei demasiado... mas qd me entusiasmo a escrever sou um perigo!!! :p
Beijocas Gi