segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Nouakchott

Como nota introdutória, devo assinalar que a primeira metade desta mensagem foi escrita no voo entre Dakar e Nouakchott, e é uma lista mais ou menos cronológica de coisas que me foram chamando a atenção.
Aqui vai: pela primeira vez na minha vida, estou a voar num "avião" a hélices. Chamo-lhe avião entre aspas porque é quase uma avioneta. E voa a uma altitude que vejo no mar a sombra que nos acompanha. Ao meu lado, uma senhora mauritaniana nas suas lindíssimas vestes roxas. O voo tem muitos estrangeiros. A mala de cabine teve de ir para o porão, porque dentro não há espaço; vou recuperá-la directamente na pista do aeroporto. Serviram uma sandwich de queijo, e para recolher o lixo o steward vem de saco plástico em punho, que vai abanando para que cada um atire para lá o que precisar. O avião faz tanto barulho que não percebo muito bem o que diz o comandante, mas acho que percebi que estão 40º em Nouakchott. A vibração é bastante; estou a ficar com as mãos dormentes. O capitão desculpa-se pelo seu francês. Tanta areia no ar! Vamos aterrar...
Após este emaranhado de observações avulso, e agora no hotel em Nouakchott, posso já dizer que realmente percebi mal a temperatura: estamos na casa dos 20º, mas durante o dia esteve imenso vento e por isso muita areia no ar. A cidade perde contraste, fica duma só cor: castanho. Na verdade, sinto-me numa cidade camuflada, em que as casas são da cor da terra, e em dias como hoje, são também da cor do ar. É digno de se ver, mas difícil para viver, não tenho dúvidas.
No panfleto do hotel vem escrito que os clientes podem gozar dum banho refrescante na piscina. Até aqui tudo bem, mas depois chama a atenção para o luxo que isso representa, numa cidade em que só chove cerca de 5 dias por ano. Nem consigo imaginar... Entretanto, já vi dromedários, já comi tâmaras, já bebi chá da Mauritânia... E claro, já fui parado pela polícia, mas foi controlo de rotina aos documentos do condutor.
Lamento se esta crónica é um pouco aos soluços, mas após uma semana em Dakar e agora umas horas na Mauritânia, acho que estou a entrar em negativo: tenho visto e vivido tanta coisa nova, tão diferente, que as ideias se atropelam, e não passam com fluidez. Acho que há coisas que nunca conseguirei descrever; é preciso vivê-las. E eu estou a ter essa sorte.

ps: ontem à noite fiquei sem internet: até a publicação da mensagem foi aos soluços.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou a ver que foi um episódio digno de um filme do Indiana Jones. Ainda vais ser contratado para contracenar com o Harrison Ford em alguma das suas odiceias!!
Abraço Sandro