domingo, 15 de março de 2009

Regresso

A saudade aos domingos é diferente da dos outros dias. Em parte, porque em dias mais tranquilos acabamos por viajar no tempo e no espaço, sem o atropelo do trabalho: neste sentido, estar longe tem servido como multiplicador de experiências, porque as recordo e revivo. Mas há também uma responsabilidade muito concreta para este sentimento, e pertence ao futebol.
Na realidade, mais do que ao futebol, pertence ao ritual que existia nos meus domingos devido a ele. Antes do jogo: acordar a uma hora decente, preparar o equipamento, almoçar a uma hora determinada e com menú definido, dirigir-me para a concentração. Esta parte, a ser feita sem pressas, era agradável, porque servia um objectivo e era a introdução para algo que me dá prazer fazer. Jogo: a palestra, a massagem, equipar, aquecer, sentir aquela ansiedade para que o jogo comece, sentir a adrenalina da competição. Tudo isto já bem mais concentrado no que iria fazer a seguir. Depois, entrega total ao jogo, espírito de missão e de grupo, alguma dor algumas vezes, cansaço, um banho de água (nem sempre) quente. Após o jogo: sentir nas pernas o turpor do cansaço, caminhar devagar, petiscar com os colegas e amigos, voltar a casa contra o pôr do sol a ouvir na rádio os resultados dos outros jogos, encontrar quem gostamos a seguir e que nos tolera este vício.
É verdade que tive momentos em que as rotinas do futebol me incomodaram. Todos os jogos da Liga dos Campeões que não pude ver, todos os encontros e jantares de amigos a que não pude ir, toda a preguiça que não pude satisfazer, eram momentos desses. Mas os domingos como os descrevi, sobretudo se em dia de sol e com uma vitória, compensavam tudo! E sinto falta. E tenho saudades. Tantas que já penso que no regresso a Portugal, permitam-me os joelhos e haja quem me aceite, ainda hei-de voltar!

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