Dia 30 de Novembro era o dia para o qual estavam marcadas as eleições aqui na Costa do Marfim. Mas a impossibilidade disso acontecer, há já meses antecipada por muitos, foi finalmente confirmada há cerca de 2 semanas, quando as eleições foram oficialmente adiadas sem data definida para a sua concretização.
A verdade é que estas eleições não interessam muito a quem está no poder. Porque há a possibilidade de perderem e porque eleições acabam por ser momentos de mudanças, de rearranjos, de melhorias.
Sinceramente, vejo com alguma apreensão o futuro deste e doutros países africanos. Acho que é possível que estabilizem, mas a tentação do poder, as assimetrias, e os interesses nacionais e internacionais, levam-me a pensar que será difícil a curto ou médio prazo terem dirigentes e níveis de corrupção que lhes possibilite dar realmente o salto. O que é uma verdadeira pena...
domingo, 30 de novembro de 2008
sábado, 29 de novembro de 2008
Estúdio
Hoje passei o dia num estúdio de gravação, que aparentemente é o melhor de toda a África Ocidental. O que me leva a pensar nos extremos que aqui se misturam.
Abidjan é a grande cidade de África de Oeste. Por isso, sempre que vamos a algum sítio bom, corremos o risco de estar no "melhor" de toda a região. Porque normalmente, não há intermédios, não há meios. Ou se está na extremidade do muito bom, ou na do muito mau.
O estúdio em si não tinha nada de especial, e o macintosh com duplo ecrã destoava em matéria de modernidade do material que o rodeava. No entanto, funcionava bem e o profissional que lá estava sabia o que fazia.
Assim, acabou por ser um dia engraçado, passado num espaço que parecia, alternadamente, um museu e um estúdio moderno. Acima de tudo, o resultado foi bom, o que confirma a extremidade em que nos encontravamos.
Abidjan é a grande cidade de África de Oeste. Por isso, sempre que vamos a algum sítio bom, corremos o risco de estar no "melhor" de toda a região. Porque normalmente, não há intermédios, não há meios. Ou se está na extremidade do muito bom, ou na do muito mau.
O estúdio em si não tinha nada de especial, e o macintosh com duplo ecrã destoava em matéria de modernidade do material que o rodeava. No entanto, funcionava bem e o profissional que lá estava sabia o que fazia.
Assim, acabou por ser um dia engraçado, passado num espaço que parecia, alternadamente, um museu e um estúdio moderno. Acima de tudo, o resultado foi bom, o que confirma a extremidade em que nos encontravamos.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Hábito
Depois de um período de alguma acalmia, voltei a ter uma semana de problemas em casa. Parece que as coisas, boas ou más, vêm por atacado...
Assim, no passado fim de semana, um dia acordei sem electricidade em casa. Mais estranho ainda era a combinação de interruptores que fazia alguma coisa funcionar: colocando um interruptor da luz do corredor numa determinada posição, acendia a luz ao... ligar a climatização! E era a única coisa que funcionava, ainda que dessa forma bizarra.
E na quarta feira passada, tive uma pequena inundação na cozinha. Foi a canalização da banca que cedeu.
Portanto, e após algum tempo de descanso, tive novamente visitas de electricista e canalizador. Que é para manter o hábito...
Assim, no passado fim de semana, um dia acordei sem electricidade em casa. Mais estranho ainda era a combinação de interruptores que fazia alguma coisa funcionar: colocando um interruptor da luz do corredor numa determinada posição, acendia a luz ao... ligar a climatização! E era a única coisa que funcionava, ainda que dessa forma bizarra.
E na quarta feira passada, tive uma pequena inundação na cozinha. Foi a canalização da banca que cedeu.
Portanto, e após algum tempo de descanso, tive novamente visitas de electricista e canalizador. Que é para manter o hábito...
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Descubra as diferenças
Não é de agora que se ouve falar da entrada de marcas de automóveis chinesas no mercado. Na Europa, as exigências ambientais e de segurança têm-lhes colocado entraves. Mas aqui, isso não existe.
E por isso, os carros chineses já aqui estão. Não é novidade, há já algum tempo que os tinha visto, mas em modelos de trabalho, com menos traços distintivos. No entanto, hoje foi diferente.
É que dos carros chineses também se diz que são híbridos de design. Copiam a frente dum modelo, a traseira de outro, juntam tudo e têm um carro no qual nada investiram em termos de design. E não é que enganam bem? A certa altura hoje, chamou-me a atenção um BMW X5, por ser um pouco esquisito. Seria um kit mais arrojado, um tunning mais extravagante? Não, era um veículo chinês, cuja traseira era igual ao X5!
Também é verdade, segundo me dizem, que existem veículos chineses "autênticos": contrafacção de automóveis, cópias piratas! O que torna muito mais emocionante ir comprar um automóvel a um daqueles stands de rua, porque o vendedor vai vendê-lo como autêntico. E é ao cliente de descobrir as diferenças!
E por isso, os carros chineses já aqui estão. Não é novidade, há já algum tempo que os tinha visto, mas em modelos de trabalho, com menos traços distintivos. No entanto, hoje foi diferente.
É que dos carros chineses também se diz que são híbridos de design. Copiam a frente dum modelo, a traseira de outro, juntam tudo e têm um carro no qual nada investiram em termos de design. E não é que enganam bem? A certa altura hoje, chamou-me a atenção um BMW X5, por ser um pouco esquisito. Seria um kit mais arrojado, um tunning mais extravagante? Não, era um veículo chinês, cuja traseira era igual ao X5!
Também é verdade, segundo me dizem, que existem veículos chineses "autênticos": contrafacção de automóveis, cópias piratas! O que torna muito mais emocionante ir comprar um automóvel a um daqueles stands de rua, porque o vendedor vai vendê-lo como autêntico. E é ao cliente de descobrir as diferenças!
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
3 Rs
Aos poucos, e com especial incidência nos últimos anos, a política dos 3 Rs foi sendo interiorizada por uma parte substancial da população portuguesa. Eu, que vivia na Maia, tive até o privilégio de estar no zona pioneira da recolha selectiva porta a porta. O que, diga-se, funcionou muito bem. Pouco tempo depois, sempre que passava em zonas com os sacos plásticos pousados à porta, o cenário já me parecia desactualizado.
E eis-me agora aqui, onde o que acabei de descrever não é senão uma miragem. Reduzir não faz parte dos planos, porque não há planos. Reciclar é ficção científica. Quanto a reutilizar, é verdade que vai acontecendo, mais por necessidade do que por consciência ecológica. Ou seja, a garrafa de plástico que mandamos para o lixo, será possivelmente utilizada por alguém para fazer alguma coisa. As garrafas de vidro servem para vender por uns cêntimos, e devem usar para guardar amendoins, por exemplo.
Confesso que me faz alguma confusão, ver os lixeiros a carregar os detritos que se acumulam às portas das casas ou prédios. E faz-me confusão porque já vi alguns dos sítios para onde transportam o lixo. Não consigo deixar de pensar que é uma forma de varrer o lixo para debaixo da carpete, mas em ponto grande.
E eis-me agora aqui, onde o que acabei de descrever não é senão uma miragem. Reduzir não faz parte dos planos, porque não há planos. Reciclar é ficção científica. Quanto a reutilizar, é verdade que vai acontecendo, mais por necessidade do que por consciência ecológica. Ou seja, a garrafa de plástico que mandamos para o lixo, será possivelmente utilizada por alguém para fazer alguma coisa. As garrafas de vidro servem para vender por uns cêntimos, e devem usar para guardar amendoins, por exemplo.
Confesso que me faz alguma confusão, ver os lixeiros a carregar os detritos que se acumulam às portas das casas ou prédios. E faz-me confusão porque já vi alguns dos sítios para onde transportam o lixo. Não consigo deixar de pensar que é uma forma de varrer o lixo para debaixo da carpete, mas em ponto grande.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Compreensão
Perceber francês já não me é muito complicado, exceptuando algumas situações. São elas ambientes com muito ruído ou ao telefone, se o interlocutor não tiver uma dicção clara.
Então ao telefone tenho situações muito engraçadas, em que a cada vez que digo que não percebi, do outro lado aumenta o volume... mas repetem a frase, palavra por palavra!
Como resolver o imbróglio? Normalmente, e perante a resistência do outro lado em explicar duma forma diferente aquilo que quer dizer, sou eu que começo a desmontar a frase. Isolo uma palavra (que normalmente não percebi, mas imito o som) que me pareça particularmente importante e pergunto o que é.
Costuma bastar um destes ciclos para perceber o sentido do que me haviam dito originalmente. E de cada vez que acontece, não posso deixar de me lembrar do português que grita para o alemão "é sempre em frente... É SEMPRE EM FRENTE!!". Mas o importante é que nos vamos compreendendo.
Então ao telefone tenho situações muito engraçadas, em que a cada vez que digo que não percebi, do outro lado aumenta o volume... mas repetem a frase, palavra por palavra!
Como resolver o imbróglio? Normalmente, e perante a resistência do outro lado em explicar duma forma diferente aquilo que quer dizer, sou eu que começo a desmontar a frase. Isolo uma palavra (que normalmente não percebi, mas imito o som) que me pareça particularmente importante e pergunto o que é.
Costuma bastar um destes ciclos para perceber o sentido do que me haviam dito originalmente. E de cada vez que acontece, não posso deixar de me lembrar do português que grita para o alemão "é sempre em frente... É SEMPRE EM FRENTE!!". Mas o importante é que nos vamos compreendendo.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Jogo
Todos os dias, por volta da hora do almoço, há um grupo de jovens que se juntam num passeio perto de minha casa para jogarem aos dados. Jogar a dinheiro não é permitido, e provavelmente eles negarão que o fazem. Mas eu acho que sim, tal é o fervor.
Ou então, à falta de dinheiro, jogarão a algo que o substitua. Lembro-me de amigos meus darem camisolas, sapatilhas ou outras coisas mais depois de sextas-feiras de azar a jogar à lerpa. Pelo que me dizem, aqui isso também é frequente.
Eu não sei quanto tempo eles ali ficam a jogar, nem desde quando o fazem ou se têm um campeonato organizado. Mas talvez estejamos em altura de jogos importantes, porque nos últimos dias têm-se juntado um grupo maior.
Aqui, acho que foi o que de mais parecido encontrei com os reformados a jogar à sueca nos jardins do Porto. A mesa é improvisada em cima dum pilar de cimento, não existem bancos, não é um jogo de cartas, nem são reformados. Mas há um jogo, jogadores, espectadores, opiniões e discussões. Mas nunca vi o copo de vinho tinto.
Ou então, à falta de dinheiro, jogarão a algo que o substitua. Lembro-me de amigos meus darem camisolas, sapatilhas ou outras coisas mais depois de sextas-feiras de azar a jogar à lerpa. Pelo que me dizem, aqui isso também é frequente.
Eu não sei quanto tempo eles ali ficam a jogar, nem desde quando o fazem ou se têm um campeonato organizado. Mas talvez estejamos em altura de jogos importantes, porque nos últimos dias têm-se juntado um grupo maior.
Aqui, acho que foi o que de mais parecido encontrei com os reformados a jogar à sueca nos jardins do Porto. A mesa é improvisada em cima dum pilar de cimento, não existem bancos, não é um jogo de cartas, nem são reformados. Mas há um jogo, jogadores, espectadores, opiniões e discussões. Mas nunca vi o copo de vinho tinto.
domingo, 23 de novembro de 2008
Clube "505"
Este fim-de-semana, tomei conhecimento dum outro tipo de transporte público (ou semi-público) existente em Abidjan, além dos woro-woro e das gbaka.
Muitas pessoas, sobretudo durante o fim-de-semana, se dirigem para a zona de Bassam, tal como eu fiz ontem. É uma zona de praias, com muito comércio e muitos maquis (pequenos restaurantes de comida africana), o que acaba por ser um pólo de atracção.
Para assegurar o transporte entre Abidjan-Bassam-Abidjan, há então umas carrinhas que se aglomeram (uma característica que parece intrínseca a todas as situações relacionadas com trânsito por aqui), em longas filas e normalmente nas imediações de cruzamentos. O que é engraçado é que são todas da mesma marca e modelo: Peugeot 505.
Imagino que esta preferência pelas Peugeot 505 tenha algumas razões, que se prendem sobretudo com espaço e rentabilidade. Não sei se têm horários definidos, imagino que partam quando a lotação estiver esgotada. E é assim que durante os fins de semana, a estrada para Bassam mais parece palco duma concentração do clube das "505".
Muitas pessoas, sobretudo durante o fim-de-semana, se dirigem para a zona de Bassam, tal como eu fiz ontem. É uma zona de praias, com muito comércio e muitos maquis (pequenos restaurantes de comida africana), o que acaba por ser um pólo de atracção.
Para assegurar o transporte entre Abidjan-Bassam-Abidjan, há então umas carrinhas que se aglomeram (uma característica que parece intrínseca a todas as situações relacionadas com trânsito por aqui), em longas filas e normalmente nas imediações de cruzamentos. O que é engraçado é que são todas da mesma marca e modelo: Peugeot 505.
Imagino que esta preferência pelas Peugeot 505 tenha algumas razões, que se prendem sobretudo com espaço e rentabilidade. Não sei se têm horários definidos, imagino que partam quando a lotação estiver esgotada. E é assim que durante os fins de semana, a estrada para Bassam mais parece palco duma concentração do clube das "505".
sábado, 22 de novembro de 2008
Mais um...
Não resisto a contar mais um episódio passado com a polícia de trânsito. Passou-se hoje, no regresso duma ida à zona de Bassam.
O senhor polícia estava desocupado e não parecia com grande vontade de trabalhar. Claro que não resistiu a parar-nos, como acontece normalmente...
O problema é que os outros colegas estavam ocupados e portanto havia uma fila de 4 ou 5 carros já estacionados, o que nos obrigou a parar mais adiante. O outro problema é que hoje esteve muito calor, o que torna mesmo as deslocações mais pequenas em desagradáveis peregrinações. E foi assim que, sem se deslocar um metro que fosse, nos mandou seguir viagem.
O senhor polícia estava desocupado e não parecia com grande vontade de trabalhar. Claro que não resistiu a parar-nos, como acontece normalmente...
O problema é que os outros colegas estavam ocupados e portanto havia uma fila de 4 ou 5 carros já estacionados, o que nos obrigou a parar mais adiante. O outro problema é que hoje esteve muito calor, o que torna mesmo as deslocações mais pequenas em desagradáveis peregrinações. E foi assim que, sem se deslocar um metro que fosse, nos mandou seguir viagem.
Comichão
Sabem aquela comichão no nariz que surge sempre quando estamos no barbeiro/cabeleireiro com as mãos debaixo daquela bata para aparar os cabelos? Pois essa comichão é internacional.
Tal como prometido, hoje fui cortar o cabelo. E tal como da outra vez, voltou a ser a dona Anita, francesa de Nantes e muito simpática, a cortar-me o cabelo. Mas, independentemente disso, entre conversa de cortesia e partilha de histórias e experiências africanas, eis que surgiu a comichão...
Se algum dia eu for barbeiro, juro que vou reparar quando o cliente começar a torcer o nariz enquanto fala. E vou pôr uma placa a dizer "autorizado a coçar o nariz em qualquer altura". Porque é certo que não é grave, mas que é desagradável, é.
Tal como prometido, hoje fui cortar o cabelo. E tal como da outra vez, voltou a ser a dona Anita, francesa de Nantes e muito simpática, a cortar-me o cabelo. Mas, independentemente disso, entre conversa de cortesia e partilha de histórias e experiências africanas, eis que surgiu a comichão...
Se algum dia eu for barbeiro, juro que vou reparar quando o cliente começar a torcer o nariz enquanto fala. E vou pôr uma placa a dizer "autorizado a coçar o nariz em qualquer altura". Porque é certo que não é grave, mas que é desagradável, é.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Nada
Hoje vou escrever uma mensagem praticamente sobre nada. Sinto-me muito cansado, e não me apetece pensar muito para arranjar um tema suficientemente interessante. Espero que me desculpem.
Há dias que são mais complicados, e que são psicologicamente mais agressivos. É nesses que dá vontade de conversar, sobre coisas simples (hoje poderia ser o resultado do jogo da selecção de futebol, por exemplo), ou então vegetar um bocado frente à televisão. Por falar nisso, a emissão online da RTP tem estado sem som...
Então o que é que eu fiz? Liguei a música, como sempre faço, mas hoje para ouvir em exclusivo (e com várias repetições) o cd da Mariza. Entre a música e a companhia online de várias pessoas (bendita tecnologia!), sinto-me melhor. E agora vou dormir, que dizem que a noite é boa conselheira.
Há dias que são mais complicados, e que são psicologicamente mais agressivos. É nesses que dá vontade de conversar, sobre coisas simples (hoje poderia ser o resultado do jogo da selecção de futebol, por exemplo), ou então vegetar um bocado frente à televisão. Por falar nisso, a emissão online da RTP tem estado sem som...
Então o que é que eu fiz? Liguei a música, como sempre faço, mas hoje para ouvir em exclusivo (e com várias repetições) o cd da Mariza. Entre a música e a companhia online de várias pessoas (bendita tecnologia!), sinto-me melhor. E agora vou dormir, que dizem que a noite é boa conselheira.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Elasticidade
As mulheres que por aqui andam com a fruta e os amendoins à cabeça, têm uma elasticidade impressionante! Entrassem hoje no Holmes Place e batiam as escalas do teste que lá fazem.
Envolvidas nos seus panos coloridos, de cada vez que têm um cliente, pousam a bandeja que transportam à cabeça no chão e, sem dobrar os joelhos, servem o cliente. Se fizessem isso com papaias, não me surpreenderia tanto: com um bocadinho de esforço, eu também conseguia. Agora, com amendoins? Isso é que já é demais. E ainda se dão ao trabalho de, sem levantar as costas nem dobrar os joelhos, apanhar alguns amendoins que caiam da bandeja!
É impressionante porque fazem isso aparentemente sem esforço, e estão naquela posição o tempo que for preciso. Para terminar, levantam a bandeja forçando as costas, num movimento que contraria todas as indicações e as sujeita a hérnias e outros problemas.
Após tudo isto, já com a bandeja à cabeça, são bem capazes de "montar" um bébé às costas. E seguem até ao próximo cliente.
Envolvidas nos seus panos coloridos, de cada vez que têm um cliente, pousam a bandeja que transportam à cabeça no chão e, sem dobrar os joelhos, servem o cliente. Se fizessem isso com papaias, não me surpreenderia tanto: com um bocadinho de esforço, eu também conseguia. Agora, com amendoins? Isso é que já é demais. E ainda se dão ao trabalho de, sem levantar as costas nem dobrar os joelhos, apanhar alguns amendoins que caiam da bandeja!
É impressionante porque fazem isso aparentemente sem esforço, e estão naquela posição o tempo que for preciso. Para terminar, levantam a bandeja forçando as costas, num movimento que contraria todas as indicações e as sujeita a hérnias e outros problemas.
Após tudo isto, já com a bandeja à cabeça, são bem capazes de "montar" um bébé às costas. E seguem até ao próximo cliente.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Cabeleireiro
Começa a chegar o momento de ir cortar o cabelo. Nada de extraordinário, mas há que ir a algum sítio onde estejam habituados a lidar com "isto".
"Isto" (ou melhor, "isso") foi a forma como se referiram ao meu cabelo da última vez (e primeira aqui) que o fui cortar. Perguntei onde poderia ir e disseram-me que havia alguns estabelecimentos habituados a "isso".
E assim, lá fui parar ao cabeleireiro da dona Anita, uma francesa de Nantes que está em Abidjan há muitos anos. Foi uma experiência engraçada, emoldurada por uma senhora com os rolos no cabelo, muito velha e a fumar.
Já a dona Anita, muito simpática e profissional, nunca se deixou incomodar pelas conversas de cabeleireiro em torno dela, e lá me fez um bom corte à tesoura. Está na hora de voltar.
"Isto" (ou melhor, "isso") foi a forma como se referiram ao meu cabelo da última vez (e primeira aqui) que o fui cortar. Perguntei onde poderia ir e disseram-me que havia alguns estabelecimentos habituados a "isso".
E assim, lá fui parar ao cabeleireiro da dona Anita, uma francesa de Nantes que está em Abidjan há muitos anos. Foi uma experiência engraçada, emoldurada por uma senhora com os rolos no cabelo, muito velha e a fumar.
Já a dona Anita, muito simpática e profissional, nunca se deixou incomodar pelas conversas de cabeleireiro em torno dela, e lá me fez um bom corte à tesoura. Está na hora de voltar.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Arrumadores
Os arrumadores de automóveis não são uma classe profissional que apenas exista e prolifere em Portugal. Aqui há imensos e em grupo, sendo menor o sentido de territorialismo do que o manifestado pelos lusos.
Presumo que, entre estar na rua sem fazer nada (como tantos estão) ou então fazer de conta que se arrumam carros, mais vale ir ocupando o tempo dessa forma, e ainda se ganham uns trocos para tabaco.
Por outro lado, os arrumadores aqui são uma classe ainda menos considerada do que em Portugal. Como, em geral, os carros que circulam não respeitam quase nada, porque haviam de respeitar um civil que de repente lhes pede para parar? É que nem abrandam! E a grande maioria dos condutores que estão estacionados também não confia no "venha, venha, venha!" do arrumador. Se assim o fizer, a probabilidade de acidente é grande e acontecem regularmente.
Mas eles, sempre em grupo, lá continuam todos os dias nos mesmo sítios. Uma das grandes diferenças que noto para os de Portugal, é que estes pegam cedo.
Presumo que, entre estar na rua sem fazer nada (como tantos estão) ou então fazer de conta que se arrumam carros, mais vale ir ocupando o tempo dessa forma, e ainda se ganham uns trocos para tabaco.
Por outro lado, os arrumadores aqui são uma classe ainda menos considerada do que em Portugal. Como, em geral, os carros que circulam não respeitam quase nada, porque haviam de respeitar um civil que de repente lhes pede para parar? É que nem abrandam! E a grande maioria dos condutores que estão estacionados também não confia no "venha, venha, venha!" do arrumador. Se assim o fizer, a probabilidade de acidente é grande e acontecem regularmente.
Mas eles, sempre em grupo, lá continuam todos os dias nos mesmo sítios. Uma das grandes diferenças que noto para os de Portugal, é que estes pegam cedo.
domingo, 16 de novembro de 2008
Zouglou
Um estilo de música que tem conhecido bastante êxito em Portugal ultimamente, é o kizomba. É uma dança africana, de origem angolana, e tem bastante ritmo. Muito ritmo tem também o estilo de música típico daqui que, fazendo jus à mensagem de ontem, teve origem nos anos 90.
Chama-se zouglou e toda a gente por cá parece apreciar bastante. Cantam em todo o lado, sozinhos ou em conjunto, na presença de outras pessoas ou não. E claro que os dotes musicais também não entram na equação.
Um dos grupos mais conhecidos deste estilo musical é o Magic System e tem músicas engraçadas. A batida é fácil de reconhecer, a letra nem sempre, porque entre o francês também vem o calão ou os dialectos. Mas, no geral, as letras apelam a situações do quotidiano e são também letras de esperança e intervenção. Falam, por exemplo, da forma como Laurent Gbagbo veio do povo e hoje é presidente da república ou como Didier Drogba, da mesma origem, é hoje futebolista de gabarito internacional. Julgo que é isso que justifica o seu sucesso.
Chama-se zouglou e toda a gente por cá parece apreciar bastante. Cantam em todo o lado, sozinhos ou em conjunto, na presença de outras pessoas ou não. E claro que os dotes musicais também não entram na equação.
Um dos grupos mais conhecidos deste estilo musical é o Magic System e tem músicas engraçadas. A batida é fácil de reconhecer, a letra nem sempre, porque entre o francês também vem o calão ou os dialectos. Mas, no geral, as letras apelam a situações do quotidiano e são também letras de esperança e intervenção. Falam, por exemplo, da forma como Laurent Gbagbo veio do povo e hoje é presidente da república ou como Didier Drogba, da mesma origem, é hoje futebolista de gabarito internacional. Julgo que é isso que justifica o seu sucesso.
sábado, 15 de novembro de 2008
Espiritualidade
Já aqui tive oportunidade de escrever, por uma ou duas vezes, sobre a forma de vida instantânea que por aqui vou constatando. Referi a falta de sonhos, de objectivos e de planos futuros como paradigmáticos dessa atitude.
O que me faz voltar ao assunto é que, olhando para trás, o panorama parece-me idêntico. Passo a explicar-me: a história é muito curta, é uma história que quase não o é e, ainda para mais, reporta-se sobretudo ao período do colonialismo.
A história dá-nos raízes, dá-nos um rumo, liga-nos a um passado que acaba por se tornar um pouco nosso. A minha maior experiência com barcos prende-se com ferrys para atravessar o Rio Minho ou barcos turísticos para passear no Douro; mas tenho caravelas e astrolábios no imaginário. A minha experiência com espadas não vai além do baralho de cartas; mas quase sinto o peso da espada de D. Afonso Henriques.
Pegando em livros ou viajando por Portugal, temos a oportunidade de andar para trás no tempo. No granito e no mármore desgastado das igrejas e castelos reconstituímos os passos dos nossos antepassados. Pelos livros nos indignamos com a forma vil como Viriato foi morto. E se nada disso existisse?
Sinto que isto acontece aqui. Eu talvez saiba mais da história da Costa do Marfim e de Abidjan que uma boa parte dos seus habitantes. Quais serão as consequências desta falta de âncora? Quais serão as consequências de se ser um instantâneo, quer se olhe para trás, quer se olhe para diante?
A tradição oral em África é muito forte, muito mais do que a escrita, e essa é com certeza uma causa para a falta de registos. Talvez por isso, muito mais que ter história, África tem espiritualidade. Ou não tivesse D. Sebastião vindo para ficar nos livros, e acabado lenda...
O que me faz voltar ao assunto é que, olhando para trás, o panorama parece-me idêntico. Passo a explicar-me: a história é muito curta, é uma história que quase não o é e, ainda para mais, reporta-se sobretudo ao período do colonialismo.
A história dá-nos raízes, dá-nos um rumo, liga-nos a um passado que acaba por se tornar um pouco nosso. A minha maior experiência com barcos prende-se com ferrys para atravessar o Rio Minho ou barcos turísticos para passear no Douro; mas tenho caravelas e astrolábios no imaginário. A minha experiência com espadas não vai além do baralho de cartas; mas quase sinto o peso da espada de D. Afonso Henriques.
Pegando em livros ou viajando por Portugal, temos a oportunidade de andar para trás no tempo. No granito e no mármore desgastado das igrejas e castelos reconstituímos os passos dos nossos antepassados. Pelos livros nos indignamos com a forma vil como Viriato foi morto. E se nada disso existisse?
Sinto que isto acontece aqui. Eu talvez saiba mais da história da Costa do Marfim e de Abidjan que uma boa parte dos seus habitantes. Quais serão as consequências desta falta de âncora? Quais serão as consequências de se ser um instantâneo, quer se olhe para trás, quer se olhe para diante?
A tradição oral em África é muito forte, muito mais do que a escrita, e essa é com certeza uma causa para a falta de registos. Talvez por isso, muito mais que ter história, África tem espiritualidade. Ou não tivesse D. Sebastião vindo para ficar nos livros, e acabado lenda...
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Emissão online
Na internet, vou acompanhando a transmissão da RTP. Não tenho outra alternativa, porque o site da SIC informa-me que não funciona na zona em que me encontro e o da TVI, sem informar nada, simplesmente não funciona (e ainda bem, diria eu).
Assim, lá vou acompanhando alguns programas que vão sendo transmitidos, mas que não são os mesmos que os da emissão normal. O telejornal passa e em directo, o que é bom. Fora isso, passam alguns programas quase intragáveis, e que são interrompidos a meio sem qualquer aviso.
Não vou criar aqui nenhum movimento pró-emissão RTP Online, mas a verdade é que me irrita a falta de cuidado para com este meio de informação. O mesmo me acontecia, por motivos diferentes, com a RTP Internacional quando estava em Montpellier. Quer uma, quer outra, são restos da emissão que temos em Portugal. E são restos, não com alguns dias, em que bem aquecido decerto ainda passava, mas com anos.
Que não seja a emissão integral da RTP, mesmo que não saiba os motivos em concreto, vou aceitando. Mas não havia necessidade de ser tão mau...
Assim, lá vou acompanhando alguns programas que vão sendo transmitidos, mas que não são os mesmos que os da emissão normal. O telejornal passa e em directo, o que é bom. Fora isso, passam alguns programas quase intragáveis, e que são interrompidos a meio sem qualquer aviso.
Não vou criar aqui nenhum movimento pró-emissão RTP Online, mas a verdade é que me irrita a falta de cuidado para com este meio de informação. O mesmo me acontecia, por motivos diferentes, com a RTP Internacional quando estava em Montpellier. Quer uma, quer outra, são restos da emissão que temos em Portugal. E são restos, não com alguns dias, em que bem aquecido decerto ainda passava, mas com anos.
Que não seja a emissão integral da RTP, mesmo que não saiba os motivos em concreto, vou aceitando. Mas não havia necessidade de ser tão mau...
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Contra ciclo
No que ao trânsito diz respeito, normalmente ando em contra ciclo com a maior afluência das horas de ponta. Porque moro no "cartier des affaires" e trabalho numa zona mais habitacional, acabo por ver os engarrafamentos quase sempre do outro lado.
Claro que isto exclui acontecimentos extraordinários, que por mais pequenos que sejam (um toque entre dois carros, ou uma vendedora sentada em cima da linha da berma da via rápida, há de tudo) criam sempre uma considerável aglomeração de carros. A de hoje, pelo menos, tinha uma boa justificação: nada mais, nada menos que uma grua, com o respectivo camião de transporte por baixo, entalados entre a estrada e um viaduto.
O viaduto até tem indicação da altura máxima, que obviamente no caso era excedida, mas isso não travou o ímpeto do condutor. Nem o ímpeto, nem o próprio camião, já que a grua estava quase do outro lado.
Bastante tempo depois, e após alguns acidentes como danos colaterais, lá ficou resolvido o problema, e o camião com os pneus vazios como ditam os livros. Espero que no regresso se lembrem que o viaduto ainda existe...
Claro que isto exclui acontecimentos extraordinários, que por mais pequenos que sejam (um toque entre dois carros, ou uma vendedora sentada em cima da linha da berma da via rápida, há de tudo) criam sempre uma considerável aglomeração de carros. A de hoje, pelo menos, tinha uma boa justificação: nada mais, nada menos que uma grua, com o respectivo camião de transporte por baixo, entalados entre a estrada e um viaduto.
O viaduto até tem indicação da altura máxima, que obviamente no caso era excedida, mas isso não travou o ímpeto do condutor. Nem o ímpeto, nem o próprio camião, já que a grua estava quase do outro lado.
Bastante tempo depois, e após alguns acidentes como danos colaterais, lá ficou resolvido o problema, e o camião com os pneus vazios como ditam os livros. Espero que no regresso se lembrem que o viaduto ainda existe...
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Necessidades
Uma necessidade fisiológica é, como o próprio nome indica, uma necessidade. E portanto, há que a satisfazer. Exceptuando honrosas excepções, nós procuramos locais adequados para o fazer; outra hipótese seria deixar a necessidade marcar o ritmo e simplesmente respeitá-lo, independentemente do local.
É o que acontece muito aqui, sobretudo com os homens (porque é que isto não é surpresa?). Nos passeios, nos postes, junto às bancas de vender jornais, em pleno centro da cidade, ou fora dele, qualquer lugar serve. Também é verdade que há locais privilegiados e que aparentam ser de acesso controlado: há uma valeta numa saída da via rápida que parece paragem obrigatória para os taxistas.
E assim, o equivalente ao sinal de "Afixação Proibida" que temos em Portugal, aqui tem um "Proibido Urinar", pelo menos numas paredes no centro da cidade, com direito a multa de quase 4€ para os prevaricadores. É pôr a Polícia Municipal a controlar os necessitados.
É o que acontece muito aqui, sobretudo com os homens (porque é que isto não é surpresa?). Nos passeios, nos postes, junto às bancas de vender jornais, em pleno centro da cidade, ou fora dele, qualquer lugar serve. Também é verdade que há locais privilegiados e que aparentam ser de acesso controlado: há uma valeta numa saída da via rápida que parece paragem obrigatória para os taxistas.
E assim, o equivalente ao sinal de "Afixação Proibida" que temos em Portugal, aqui tem um "Proibido Urinar", pelo menos numas paredes no centro da cidade, com direito a multa de quase 4€ para os prevaricadores. É pôr a Polícia Municipal a controlar os necessitados.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Ritmo
Qualquer dia atropelo alguém... a andar a pé! Por defeito, o ritmo de caminhada das pessoas aqui é como quem está em passeio à beira mar. De cada vez que tenho de acompanhar alguém, sinto-me na Av. Brasil num final de tarde dum domingo de verão. Sem o mar, sem a Av. Brasil e sem as esplanadas, mas ao mesmo ritmo.
O que é que nos faz andar depressa? O que justifica andarmos depressa mesmo dentro de casa? Seriamos mais felizes se andassemos mais devagar? São perguntas que me faço mas que não sei responder. O que sei é que esta lentidão (para os meus padrões) me stressa um bocado, e frequentemente tenho de controlar-me para não empurrar ninguém.
No entanto, e como os que andam devagar são mais do que os que andam depressa, vou ter de me disciplinar para esta marcha lenta. E sempre me vai lembrando o "calçadão".
O que é que nos faz andar depressa? O que justifica andarmos depressa mesmo dentro de casa? Seriamos mais felizes se andassemos mais devagar? São perguntas que me faço mas que não sei responder. O que sei é que esta lentidão (para os meus padrões) me stressa um bocado, e frequentemente tenho de controlar-me para não empurrar ninguém.
No entanto, e como os que andam devagar são mais do que os que andam depressa, vou ter de me disciplinar para esta marcha lenta. E sempre me vai lembrando o "calçadão".
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Falhar saídas
A maior parte das pessoas, quando seguem numa autoestrada ou via rápida e falham uma saída, praguejam um pouco (a quantidade varia de indivíduo para indivíduo) mas resignam-se a sair na próxima. E quando alguém se lembra de, sorrateiramente, encostar à berma e fazer marcha atrás é alvo dos mais variados adjectivos, ou pior se aparecer a polícia.
Pois aqui, falhar saídas é frequente, mas resignar-se com isso é que não. E como não existem propriamente bermas, os recuos são feitos em plena faixa de rodagem, umas vezes mais à direita, outras nem tanto.
Hoje, ao voltar para casa, já noite plenamente instalada e numa zona sem iluminação, lá estava um carro preto (mas de nenhum destes factos o senhor tem propriamente culpa) a recuar para a saída que pretendia. Não contente com isso, o senhor não deve ter feito aquele exercício de seguir uma linha de passeio pelo retrovisor, nas aulas de condução. E então atravessou-se em plena via rápida.
Felizmente, não aconteceu nada mas isso não significa que não aconteça da próxima. Mas aqui os condutores safam-se só com alguns impropérios que lhes são dirigidos, porque também já vi a polícia fazer igual.
Pois aqui, falhar saídas é frequente, mas resignar-se com isso é que não. E como não existem propriamente bermas, os recuos são feitos em plena faixa de rodagem, umas vezes mais à direita, outras nem tanto.
Hoje, ao voltar para casa, já noite plenamente instalada e numa zona sem iluminação, lá estava um carro preto (mas de nenhum destes factos o senhor tem propriamente culpa) a recuar para a saída que pretendia. Não contente com isso, o senhor não deve ter feito aquele exercício de seguir uma linha de passeio pelo retrovisor, nas aulas de condução. E então atravessou-se em plena via rápida.
Felizmente, não aconteceu nada mas isso não significa que não aconteça da próxima. Mas aqui os condutores safam-se só com alguns impropérios que lhes são dirigidos, porque também já vi a polícia fazer igual.
domingo, 9 de novembro de 2008
Domingos
Começo esta mensagem com um lamento: lamento por quem a vai ler, porque a inspiração não é nenhuma...
A verdade é que os domingos são dias em que cada vez tenho mais dificuldade em escrever. Porque normalmente os passo em casa, que é um ambiente menos estimulante e com episódios mais limitados do que o quotidiano na cidade; e porque os meus pensamentos ficam, cada vez mais, aprisionados nesse sentimento de saudade. E isto limita-me os temas sobre os quais escrever.
Os domingos são, por isso, os dias mais longos da minha semana. E já sei que o de hoje foi mais longo que o passado e menos do que o próximo. Não interpretem isto como desespero. Não é, está longe de o ser, e nem posso permitir que o seja. Mas nem assim os domingos ficam mais curtos.
A verdade é que os domingos são dias em que cada vez tenho mais dificuldade em escrever. Porque normalmente os passo em casa, que é um ambiente menos estimulante e com episódios mais limitados do que o quotidiano na cidade; e porque os meus pensamentos ficam, cada vez mais, aprisionados nesse sentimento de saudade. E isto limita-me os temas sobre os quais escrever.
Os domingos são, por isso, os dias mais longos da minha semana. E já sei que o de hoje foi mais longo que o passado e menos do que o próximo. Não interpretem isto como desespero. Não é, está longe de o ser, e nem posso permitir que o seja. Mas nem assim os domingos ficam mais curtos.
sábado, 8 de novembro de 2008
Pressa
Se tivermos um todo-o-terreno, completamente descaracterizado, sem a luz de veículo prioritário mas ainda assim estivermos com pressa, o que fazemos? Arranjamos alguém com uniforme militar que vai pendurado na janela a berrar para os carros e pessoas que se atravessam no caminho.
Pode parecer estranho, mas é possível e foi o que vi ontem. Parados num semáforo, de repente os carros começam a afastar-se e lá passa um todo-o-terreno com alguém de uniforme militar sentado à janela, a vociferar e a gesticular com os carros adiante, e com as pessoas que atravessavam a rua.
A verdade é que passaram, mas a pressa é inimiga da perfeição: talvez um quilómetro à frente, criou-se um pequeno congestionamento no trânsito. Porquê? Com o vento do movimento, a boina do "vociferador" foi voada... e tiveram de parar para a recuperar.
Pode parecer estranho, mas é possível e foi o que vi ontem. Parados num semáforo, de repente os carros começam a afastar-se e lá passa um todo-o-terreno com alguém de uniforme militar sentado à janela, a vociferar e a gesticular com os carros adiante, e com as pessoas que atravessavam a rua.
A verdade é que passaram, mas a pressa é inimiga da perfeição: talvez um quilómetro à frente, criou-se um pequeno congestionamento no trânsito. Porquê? Com o vento do movimento, a boina do "vociferador" foi voada... e tiveram de parar para a recuperar.
Capelinhas
Hoje fui sair com uns amigos, por isso escrevo mais tarde. Achei piada, porque foi um estilo de visitar capelinhas.
Primeiro, fomos ao "Pams", um bar com música ao vivo. Estava cheio, mas passamos lá um bom bocado. De seguida fomos a um bar de reggae ao vivo, que não consegui decorar o nome. Foi muito bom, aparte a cena de pancadaria que quase destruiu o teclado. E acabamos num espaço ao ar livre também com música ao vivo, desta vez zouglou.
Mas os hábitos parecem idênticos aos nossos: após tal peregrinação, e na ausência do Tropical, lá passamos no equivalente daqui para comprar umas sandwiches. Foi giro.
Agora vou dormir, que daqui a pouco vêm buscar-me para o futebol. Acho que vou estar um bocado cansado, mas valeu a pena.
Primeiro, fomos ao "Pams", um bar com música ao vivo. Estava cheio, mas passamos lá um bom bocado. De seguida fomos a um bar de reggae ao vivo, que não consegui decorar o nome. Foi muito bom, aparte a cena de pancadaria que quase destruiu o teclado. E acabamos num espaço ao ar livre também com música ao vivo, desta vez zouglou.
Mas os hábitos parecem idênticos aos nossos: após tal peregrinação, e na ausência do Tropical, lá passamos no equivalente daqui para comprar umas sandwiches. Foi giro.
Agora vou dormir, que daqui a pouco vêm buscar-me para o futebol. Acho que vou estar um bocado cansado, mas valeu a pena.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Gravatas
Gravatas: existem de várias cores, feitios, padrões, larguras, tamanhos e tecidos. E existem também vários estilos de utilização.
Uma das gravatas do meu imaginário é a do Tó, da série "Duarte & Companhia". Sempre achei graça a um adulto com gravata de criança (pensava eu). E sempre permaneceu para mim um mistério onde ficava o resto do tecido. Pois bem, tantos anos depois deparo-me frequentemente com muitos Tós... e curiosamente as primeiras reacções continuam a ser idênticas.
É engraçado ver como estamos de tal maneira formatados para determinados padrões estéticos , que tudo o que é diferente nos parece menos evoluído, ou no mínimo antiquado. Como é que aquele senhor pode andar com a gravata a dar pelo meio da barriga? Ou aquele outro com ela pela altura do diafragma?
A diferença de culturas está presente em todo o lado, nas coisas maiores e nas mais pequenas. É também essa a riqueza duma experiência fora do nosso habitat natural.
Quanto às gravatas, continuarei a usá-las compridas e manter assim intacto um dos meus mistérios de infância.
Uma das gravatas do meu imaginário é a do Tó, da série "Duarte & Companhia". Sempre achei graça a um adulto com gravata de criança (pensava eu). E sempre permaneceu para mim um mistério onde ficava o resto do tecido. Pois bem, tantos anos depois deparo-me frequentemente com muitos Tós... e curiosamente as primeiras reacções continuam a ser idênticas.
É engraçado ver como estamos de tal maneira formatados para determinados padrões estéticos , que tudo o que é diferente nos parece menos evoluído, ou no mínimo antiquado. Como é que aquele senhor pode andar com a gravata a dar pelo meio da barriga? Ou aquele outro com ela pela altura do diafragma?
A diferença de culturas está presente em todo o lado, nas coisas maiores e nas mais pequenas. É também essa a riqueza duma experiência fora do nosso habitat natural.
Quanto às gravatas, continuarei a usá-las compridas e manter assim intacto um dos meus mistérios de infância.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Pós racial
A incontornável notícia do dia é a vitória do afro-americano Barack Obama nas eleições para a presidência dos Estados Unidos da América. Dele se diz ser "pós-racial": é a diferença entre o ser presidente dos EUA que por acaso é negro e o ser presidente dos EUA apesar de ser negro.
Eu simpatizo com a ideologia. Julgar as pessoas pelo mérito e não pela cor, pelo que fazem e não pelo que parecem. Não pensar sequer no assunto, estar para além dele.
Mas a verdade é que actualmente não estou tão para além do assunto como gostaria, porque isso me conduziria a um estado de relaxamento que acho exagerado para a situação em que me encontro. Por enquanto, nada de grave há a apontar, mas quando a tensão sobe por aqui, os brancos ainda são um alvo preferencial. Não sou eu que o digo: são as pessoas que conheço, com quem trabalho, com quem convivo, e que são costa marfinenses. São também os factos, tal como aconteceram durante a guerra civil ou noutras pequenas manifestações.
Por isso, e apesar de ser pós-racial por defeito, permitam-me que o seja num ambiente que não o é totalmente. E convém ter noção disso.
Eu simpatizo com a ideologia. Julgar as pessoas pelo mérito e não pela cor, pelo que fazem e não pelo que parecem. Não pensar sequer no assunto, estar para além dele.
Mas a verdade é que actualmente não estou tão para além do assunto como gostaria, porque isso me conduziria a um estado de relaxamento que acho exagerado para a situação em que me encontro. Por enquanto, nada de grave há a apontar, mas quando a tensão sobe por aqui, os brancos ainda são um alvo preferencial. Não sou eu que o digo: são as pessoas que conheço, com quem trabalho, com quem convivo, e que são costa marfinenses. São também os factos, tal como aconteceram durante a guerra civil ou noutras pequenas manifestações.
Por isso, e apesar de ser pós-racial por defeito, permitam-me que o seja num ambiente que não o é totalmente. E convém ter noção disso.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Dormir aos soluços
Hoje acordei desorientado, a pensar que era sábado. Não sei porquê, foi uma daquelas partidas que o cérebro nos vai pregando, mas que foi resolvida no momento.
A verdade é que há já algum tempo que não durmo uma noite completa. Acordo sempre à mesma hora, entre as 6:45h e as 7h da manhã, mas o que fica para trás são noites de sono à superfície, em que temos a sensação de nunca ter adormecido realmente.
Acho que o que está a causar isto é a medicação da profilaxia da malária. Este é um dos efeitos secundários. Outro que me tinham falado é que, devido aos efeitos a nível do fígado, uma cerveja (com álcool) bastava para se ficar embriagado. Esse não me saiu na sorte, mas a perturbação do sono parece-me que sim.
E por isso cá ando, às vezes mais cansado, outras menos. E agora boa noite, que vou até ali dormir aos soluços.
A verdade é que há já algum tempo que não durmo uma noite completa. Acordo sempre à mesma hora, entre as 6:45h e as 7h da manhã, mas o que fica para trás são noites de sono à superfície, em que temos a sensação de nunca ter adormecido realmente.
Acho que o que está a causar isto é a medicação da profilaxia da malária. Este é um dos efeitos secundários. Outro que me tinham falado é que, devido aos efeitos a nível do fígado, uma cerveja (com álcool) bastava para se ficar embriagado. Esse não me saiu na sorte, mas a perturbação do sono parece-me que sim.
E por isso cá ando, às vezes mais cansado, outras menos. E agora boa noite, que vou até ali dormir aos soluços.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Torneio
Afinal, o grupo com quem jogo futebol ao sábado é mais organizado do que pensei. Além de se juntarem para dar umas corridas e conviver um bocado, também entram em torneios. Neste momento, estão a preparar a participação num torneio em Agboville, uma vila a cerca de 80 kms de Abidjan.
É um torneio onde, segundo me dizem, estarão presentes equipas de toda a Costa do Marfim, assim como alguns olheiros. O que me leva a pensar, sem conhecer, que é um torneio relativamente popular.
E provavelmente lá vou eu jogar também, que não me estão a dar escolha. Até acho piada à ideia. Há uns anos, achava-se no futebol em Portugal (pelo menos no distrital) que uma equipa só o era verdadeiramente se tivesse um atleta de cor. Nunca me tinha passado pela cabeça vir a representar o simétrico dessa ideia, mas é o que vai acontecer. Vai ser giro... sobretudo se ganharmos!
É um torneio onde, segundo me dizem, estarão presentes equipas de toda a Costa do Marfim, assim como alguns olheiros. O que me leva a pensar, sem conhecer, que é um torneio relativamente popular.
E provavelmente lá vou eu jogar também, que não me estão a dar escolha. Até acho piada à ideia. Há uns anos, achava-se no futebol em Portugal (pelo menos no distrital) que uma equipa só o era verdadeiramente se tivesse um atleta de cor. Nunca me tinha passado pela cabeça vir a representar o simétrico dessa ideia, mas é o que vai acontecer. Vai ser giro... sobretudo se ganharmos!
domingo, 2 de novembro de 2008
Agenda
À medida que se vai reduzindo a minha "Distância", vai aumentando a agenda com lugares para visitar, pessoas para encontrar, coisas para fazer. São as saudades de coisas, pequenas e grandes, que se vão manifestando e que tornam o regresso ainda mais apetecido.
É também nesta altura que reparo na carteira bem preenchida de amigos que tenho. Porque ainda falta mais de mês e meio para voltar, e já tenho vários jantares marcados, jogos de futebol, cafés, finos e mais uma série de coisas.
Terei de ter algum cuidado com as proporções das várias actividades, porque senão a forma sofrerá mais um sério ataque! Mas, e porque o assunto da forma física ainda não é assim tão sério, vou privilegiar a forma psíquica e procurar responder a todos os encontros. Vou tentar recuperar passado, construir presente e armazenar futuro.
É uma agenda ambiciosa e, de certa forma, exigente. Mas vai ser a agenda que vou seguir, porque afinal "o sofrimento é opcional".
É também nesta altura que reparo na carteira bem preenchida de amigos que tenho. Porque ainda falta mais de mês e meio para voltar, e já tenho vários jantares marcados, jogos de futebol, cafés, finos e mais uma série de coisas.
Terei de ter algum cuidado com as proporções das várias actividades, porque senão a forma sofrerá mais um sério ataque! Mas, e porque o assunto da forma física ainda não é assim tão sério, vou privilegiar a forma psíquica e procurar responder a todos os encontros. Vou tentar recuperar passado, construir presente e armazenar futuro.
É uma agenda ambiciosa e, de certa forma, exigente. Mas vai ser a agenda que vou seguir, porque afinal "o sofrimento é opcional".
Revista cor de rosa
Em Abidjan, há pelo menos dois casinos a funcionar (tenho dúvidas quanto a um terceiro). Recentemente, estive nas proximidades dum deles, e notei que das muitas pessoas que iam chegando, a maioria eram chineses, e o resto libaneses. Achei estranho não ver nenhum costa marfinense por lá, mas normalmente as coisas estranhas têm uma explicação.
E neste caso, ela é muito simples: os casinos são interditos aos nacionais! Para proteger a moral do vício? Para proteger a carteira do gasto? Simplifiquemos ainda mais: porque a mulher do primeiro presidente do país tinha um vício de jogo, e temos de concordar que problemas domésticos são demasiado pequenos para um presidente. Por isso, há que transformá-los em assuntos nacionais e, se possível, legislar sobre eles.
Se olharmos para algumas leis e decisões sob este prisma, algumas passam a fazer muito mais sentido. E é giro pensar nas leis como se de uma revista cor de rosa se tratasse.
E neste caso, ela é muito simples: os casinos são interditos aos nacionais! Para proteger a moral do vício? Para proteger a carteira do gasto? Simplifiquemos ainda mais: porque a mulher do primeiro presidente do país tinha um vício de jogo, e temos de concordar que problemas domésticos são demasiado pequenos para um presidente. Por isso, há que transformá-los em assuntos nacionais e, se possível, legislar sobre eles.
Se olharmos para algumas leis e decisões sob este prisma, algumas passam a fazer muito mais sentido. E é giro pensar nas leis como se de uma revista cor de rosa se tratasse.
sábado, 1 de novembro de 2008
Exercício
Comprei uma máquina para fazer exercício em casa. Ao sentir-me engordar e a ver que dificilmente iria arranjar fora um espaço para manter a forma, decidi fazer o insourcing da actividade. E agora tenho um aparelho de remo.
Os tapetes para correr irritam-me, não tenho paciência. Bicicleta estática também não é muito do meu agrado. A este exercício acho piada, e até acaba por ser mais completo. Pelo menos foi do que me convenceu o senhor que me aconselhou na loja, na autoridade que lhe era conferida pelos seus 110 kg.
Mas estou contente. Fazer exercício dá-me prazer, ainda que após uns tempos de inactividade a preguiça me tente desviar. Sem sucesso, diga-se, porque desde que comprei a máquina tenho praticado diariamente. É uma questão de disciplina e de imaginação: disciplina para nos obrigar a fazer, imaginação para pensar no resultado se não o fizermos.
Agora, sempre que vou ao maquis, já é com mais à vontade que me dedico à cozinha africana. Mas ainda não sei a quanto tempo de remo equivale uma dose de foufou.
Os tapetes para correr irritam-me, não tenho paciência. Bicicleta estática também não é muito do meu agrado. A este exercício acho piada, e até acaba por ser mais completo. Pelo menos foi do que me convenceu o senhor que me aconselhou na loja, na autoridade que lhe era conferida pelos seus 110 kg.
Mas estou contente. Fazer exercício dá-me prazer, ainda que após uns tempos de inactividade a preguiça me tente desviar. Sem sucesso, diga-se, porque desde que comprei a máquina tenho praticado diariamente. É uma questão de disciplina e de imaginação: disciplina para nos obrigar a fazer, imaginação para pensar no resultado se não o fizermos.
Agora, sempre que vou ao maquis, já é com mais à vontade que me dedico à cozinha africana. Mas ainda não sei a quanto tempo de remo equivale uma dose de foufou.
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