Já aqui tive oportunidade de escrever, por uma ou duas vezes, sobre a forma de vida instantânea que por aqui vou constatando. Referi a falta de sonhos, de objectivos e de planos futuros como paradigmáticos dessa atitude.
O que me faz voltar ao assunto é que, olhando para trás, o panorama parece-me idêntico. Passo a explicar-me: a história é muito curta, é uma história que quase não o é e, ainda para mais, reporta-se sobretudo ao período do colonialismo.
A história dá-nos raízes, dá-nos um rumo, liga-nos a um passado que acaba por se tornar um pouco nosso. A minha maior experiência com barcos prende-se com ferrys para atravessar o Rio Minho ou barcos turísticos para passear no Douro; mas tenho caravelas e astrolábios no imaginário. A minha experiência com espadas não vai além do baralho de cartas; mas quase sinto o peso da espada de D. Afonso Henriques.
Pegando em livros ou viajando por Portugal, temos a oportunidade de andar para trás no tempo. No granito e no mármore desgastado das igrejas e castelos reconstituímos os passos dos nossos antepassados. Pelos livros nos indignamos com a forma vil como Viriato foi morto. E se nada disso existisse?
Sinto que isto acontece aqui. Eu talvez saiba mais da história da Costa do Marfim e de Abidjan que uma boa parte dos seus habitantes. Quais serão as consequências desta falta de âncora? Quais serão as consequências de se ser um instantâneo, quer se olhe para trás, quer se olhe para diante?
A tradição oral em África é muito forte, muito mais do que a escrita, e essa é com certeza uma causa para a falta de registos. Talvez por isso, muito mais que ter história, África tem espiritualidade. Ou não tivesse D. Sebastião vindo para ficar nos livros, e acabado lenda...
sábado, 15 de novembro de 2008
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