Fazendo jus à influência francesa na Costa do Marfim, o pão aqui apresenta-se maioritariamente em forma de baguete. Mas o que eu quero mesmo notar é o tempo que dura.
Normalmente, o pão a que estamos habituados passa de fresco a velho em pouco tempo. Fica duro, depois ainda mais e há quem o dê às galinhas. Mas para ganhar bolor ainda demora um bocado, pelo menos estando dentro de casa.
Pois aqui não demora assim tanto. Antes de ficar muito duro, já se notam colónias a surgir. Não sei qual é a espécie de fungo, não faço ideia se será a mesma ou família das que se desenvolvem em Portugal. A humidade e a temperatura ambiente que aqui se fazem sentir são, com certeza, muito mais propícias ao seu aparecimento. No entanto, também me questiono se os ingredientes terão algum tratamento diferente e que justifique as diferentes velocidades no aparecimento de bolores. Mais um tema sobre o qual tenho muito a aprender.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Preço da cultura
Eu gosto muito de ler. Sempre gostei e viver sozinho e fora do meu ambiente social (e sem televisão) agudiza esta paixão. Assim, vejo-me agora numa situação de ruptura de livros: os que trouxe já os li.
É verdade que na hora de fazer as malas, por uma questão de peso e espaço, não trouxe todos os livros que gostaria. Mas pensei que haviam de resistir mais algum tempo, e não que me acabassem a 3 meses de regressar a Portugal. É evidente agora que fiz mal os cálculos...
Já passei por fases de ler muito, outras de ler muito pouco. Passei também por uma, bem grande, em que me limitei à literatura técnica. Aqui está a acontecer-me o mesmo que em Montpellier, quando também lá estive sozinho: passo grande parte dos momentos de lazer a ler, sempre com a música ligada. E gosto. A diferença é que em Montpellier eu estava numa casa que já vinha com biblioteca (e que biblioteca!) incluída. Aqui, nesse aspecto, estou mais limitado.
Por isso, acho que vou ter de comprar uns quantos livros. Talvez seja desta que vou achar os livros em Portugal baratos, se a proporção dos DVDs se mantiver: um DVD dum filme com alguns meses custa 45€! É que a cultura também tem um preço de mercado.
É verdade que na hora de fazer as malas, por uma questão de peso e espaço, não trouxe todos os livros que gostaria. Mas pensei que haviam de resistir mais algum tempo, e não que me acabassem a 3 meses de regressar a Portugal. É evidente agora que fiz mal os cálculos...
Já passei por fases de ler muito, outras de ler muito pouco. Passei também por uma, bem grande, em que me limitei à literatura técnica. Aqui está a acontecer-me o mesmo que em Montpellier, quando também lá estive sozinho: passo grande parte dos momentos de lazer a ler, sempre com a música ligada. E gosto. A diferença é que em Montpellier eu estava numa casa que já vinha com biblioteca (e que biblioteca!) incluída. Aqui, nesse aspecto, estou mais limitado.
Por isso, acho que vou ter de comprar uns quantos livros. Talvez seja desta que vou achar os livros em Portugal baratos, se a proporção dos DVDs se mantiver: um DVD dum filme com alguns meses custa 45€! É que a cultura também tem um preço de mercado.
domingo, 28 de setembro de 2008
Aproximação
As crónicas do passado fim de semana foram sobre desporto. Adoptando um estilo de "crónicas de fim de semana temáticas", hoje será novamente sobre religião.
Esta manhã fui a uma missa católica, na Cathédrale Saint-Paul. Não fui por convicção religiosa, que não tenho, mas para ver, aprender e compreender esta realidade. Afinal, a religião aqui (ainda) está muito enraizada, o que tem impacto na vida quotidiana das pessoas.
A missa foi, evidentemente, em francês, mas a estrutura é em tudo idêntica às missas que assistimos em Portugal. O que não é de estranhar, tratando-se da mesma religião. A diferença mais marcada estará, porventura, no maior sentimento de alegria, que permite palmas na música do coro e que algumas pessoas dancem enquanto a escutam. E ainda se nota que muitas das pessoas se vestem para ir à missa.
Quanto a mim, sentei-me nos bancos mais recuados e, por uma questão de respeito, fui acompanhando o levantar e sentar da hora e meia de cerimónia. No final, a minha posição em relação à religião mantém-se, mas espero estar mais próximo deste povo.
Esta manhã fui a uma missa católica, na Cathédrale Saint-Paul. Não fui por convicção religiosa, que não tenho, mas para ver, aprender e compreender esta realidade. Afinal, a religião aqui (ainda) está muito enraizada, o que tem impacto na vida quotidiana das pessoas.
A missa foi, evidentemente, em francês, mas a estrutura é em tudo idêntica às missas que assistimos em Portugal. O que não é de estranhar, tratando-se da mesma religião. A diferença mais marcada estará, porventura, no maior sentimento de alegria, que permite palmas na música do coro e que algumas pessoas dancem enquanto a escutam. E ainda se nota que muitas das pessoas se vestem para ir à missa.
Quanto a mim, sentei-me nos bancos mais recuados e, por uma questão de respeito, fui acompanhando o levantar e sentar da hora e meia de cerimónia. No final, a minha posição em relação à religião mantém-se, mas espero estar mais próximo deste povo.
sábado, 27 de setembro de 2008
Muçulmanos
Durante a próxima semana haverá um feriado, mas ainda não se sabe se é terça ou quarta. Isto porque é um feriado que diz respeito à religião muçulmana, que segue um calendário lunar. Assim, ser num ou no outro dia está dependente de se observar ou não a lua na noite anterior.
Confesso que não conhecia esta particularidade da religião muçulmana, como não conheço a maior parte dos seus costumes. Tenho de acrescentar à minha lista de "A Fazer" aprender um pouco mais sobre ela. Mas não deixa de me fascinar, a forma como vejo as pessoas a entregar-se às orações onde quer que estejam, imunes a tudo o que se passa à volta, parecendo estar num outro mundo, sem barulho, sem nada que os distraia.
Eu não sou crente, mas as religiões fascinam-me, são um fenómeno que me interessa. Gosto de perceber os impactos que têm na vida das pessoas e gosto, sobretudo, de tentar perceber a sua evolução. A muçulmana obriga a 5 orações diárias, com horários estabelecidos mas que são flexíveis (imagino que para permitirem as actividades diárias dos fiéis). Assim, podem mesmo ser feitas todas duma vez. E as orações são feitas em árabe, mesmo que não se perceba o que se diz. Isto confesso que me faz alguma confusão: a linguagem é uma forma de expressão mas também de compreensão, e rezar sem se perceber o que se diz parece-me estranho. Mas os fiéis muçulmanos são muitos, por isso presumo que tenha alguma lógica, ou pelo menos um sentimento suficientemente forte para saltar a barreira da língua. Tenho mesmo de me informar.
Confesso que não conhecia esta particularidade da religião muçulmana, como não conheço a maior parte dos seus costumes. Tenho de acrescentar à minha lista de "A Fazer" aprender um pouco mais sobre ela. Mas não deixa de me fascinar, a forma como vejo as pessoas a entregar-se às orações onde quer que estejam, imunes a tudo o que se passa à volta, parecendo estar num outro mundo, sem barulho, sem nada que os distraia.
Eu não sou crente, mas as religiões fascinam-me, são um fenómeno que me interessa. Gosto de perceber os impactos que têm na vida das pessoas e gosto, sobretudo, de tentar perceber a sua evolução. A muçulmana obriga a 5 orações diárias, com horários estabelecidos mas que são flexíveis (imagino que para permitirem as actividades diárias dos fiéis). Assim, podem mesmo ser feitas todas duma vez. E as orações são feitas em árabe, mesmo que não se perceba o que se diz. Isto confesso que me faz alguma confusão: a linguagem é uma forma de expressão mas também de compreensão, e rezar sem se perceber o que se diz parece-me estranho. Mas os fiéis muçulmanos são muitos, por isso presumo que tenha alguma lógica, ou pelo menos um sentimento suficientemente forte para saltar a barreira da língua. Tenho mesmo de me informar.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Indiferenciados
Hoje passei numa loja para comprar uns calções para jogar futebol. Foi coisa rápida, mas chegou para me pedirem dois empregos...
Na loja onde fui, estavam dois jovens a trabalhar, um rapaz e uma rapariga. Foram muito simpáticos e prestáveis e, já na caixa, diz-me ele "quero trabalhar para si", corrigindo logo a seguir "queremos os dois!". Eu ri-me, e perguntei-lhes se faziam alguma ideia de qual era o meu trabalho. "Não importa, queremos trabalhar para si." E deixariam o vosso trabalho aqui nesta loja assim? "Sim, neste momento!".
Este será um episódio pequeno mas significativo! É a procura de algo melhor pelo método de tentativa e erro, sem verdadeiros planos, sem objectivos pré-estabelecidos. Não há especialização porque nunca se sabe onde se vai estar amanhã, nem a fazer o quê. Se se desenvolver alguma capacidade, aumentam os custos de trocar, limitam-se as possibilidades.
Desta forma, qualquer pessoa é pau para toda a obra. Tem o valor intrínseco dos serviços que pode prestar, mas sempre no reino dos indiferenciados. E assim, melhorar verdadeiramente torna-se difícil. Talvez com o próximo cliente tenham mais sorte...
Na loja onde fui, estavam dois jovens a trabalhar, um rapaz e uma rapariga. Foram muito simpáticos e prestáveis e, já na caixa, diz-me ele "quero trabalhar para si", corrigindo logo a seguir "queremos os dois!". Eu ri-me, e perguntei-lhes se faziam alguma ideia de qual era o meu trabalho. "Não importa, queremos trabalhar para si." E deixariam o vosso trabalho aqui nesta loja assim? "Sim, neste momento!".
Este será um episódio pequeno mas significativo! É a procura de algo melhor pelo método de tentativa e erro, sem verdadeiros planos, sem objectivos pré-estabelecidos. Não há especialização porque nunca se sabe onde se vai estar amanhã, nem a fazer o quê. Se se desenvolver alguma capacidade, aumentam os custos de trocar, limitam-se as possibilidades.
Desta forma, qualquer pessoa é pau para toda a obra. Tem o valor intrínseco dos serviços que pode prestar, mas sempre no reino dos indiferenciados. E assim, melhorar verdadeiramente torna-se difícil. Talvez com o próximo cliente tenham mais sorte...
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Domínio
Quem tem carta de condução, lembra-se decerto do início, quando as mudanças ainda faziam alguma confusão e obrigavam a pensar um bocado. Depois, é um processo que se automatiza e permite-nos fazer outras coisas em andamento: ouvir música, comer ou falar ao telemóvel, por exemplo.
Com a língua, julgo que é idêntico. O uso da nossa língua materna é natural e permite-nos exprimir na totalidade o que queremos, o que sentimos, jogando com as palavras, introduzindo matizes. Quando temos de nos expressar noutra língua, se não a dominamos totalmente, é como meter as mudanças no início da experiência de condução: é preciso pensar, e isso demora algum tempo. Atrasa-nos, torna menos fluída a comunicação, limita-nos. E é um factor de stress, sentir que não conseguimos explanar tudo o que gostariamos.
Paradoxalmente, o que sinto é que as minhas restrições na expressão verbal, acabam por influenciar sobretudo a linguagem não verbal. Comunicar não é um problema; comunicar como gostaria, ainda o é. Mas já falo ao telemóvel!
Com a língua, julgo que é idêntico. O uso da nossa língua materna é natural e permite-nos exprimir na totalidade o que queremos, o que sentimos, jogando com as palavras, introduzindo matizes. Quando temos de nos expressar noutra língua, se não a dominamos totalmente, é como meter as mudanças no início da experiência de condução: é preciso pensar, e isso demora algum tempo. Atrasa-nos, torna menos fluída a comunicação, limita-nos. E é um factor de stress, sentir que não conseguimos explanar tudo o que gostariamos.
Paradoxalmente, o que sinto é que as minhas restrições na expressão verbal, acabam por influenciar sobretudo a linguagem não verbal. Comunicar não é um problema; comunicar como gostaria, ainda o é. Mas já falo ao telemóvel!
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Valor acrescentado
Como é que uma nota de 10.000 FCFA pode valer mais do que outra de 10.000 FCFA? Sendo mais nova!
Parece a brincar, mas não é. As notas que são novas valem um bocado mais do que as outras, mais velhas e gastas. Sobretudo para serem usadas como prenda em cerimónias, tipo casamentos. É verdade que têm o mesmo valor facial, mas as pessoas acrescentam-lhe o valor da aparência.
E assim se gera um mercado, aparentemente do nada! Na rua, vários homens de saco a tiracolo trocam dinheiro: dólares americanos, FCFA e euros em qualquer combinação, e ainda FCFA velhos por FCFA novos. Nunca em tal tinha pensado!
Parece a brincar, mas não é. As notas que são novas valem um bocado mais do que as outras, mais velhas e gastas. Sobretudo para serem usadas como prenda em cerimónias, tipo casamentos. É verdade que têm o mesmo valor facial, mas as pessoas acrescentam-lhe o valor da aparência.
E assim se gera um mercado, aparentemente do nada! Na rua, vários homens de saco a tiracolo trocam dinheiro: dólares americanos, FCFA e euros em qualquer combinação, e ainda FCFA velhos por FCFA novos. Nunca em tal tinha pensado!
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Mel
O meu vizinho, o Sr. Jacques, é simpático. Hoje cheguei a casa e tinha uma garrafa de 1,8L cheia de mel, que ele me ofereceu. Ainda não provei, mas de certeza que é bom. De certeza também que não passava numa inspecção da ASAE.
Conheci o Sr. Jacques numa viagem no elevador, e desde aí falamos mais uma ou duas vezes. Deu para saber que ele é um apreciador de fado, e conhecedor de Amália Rodrigues.
Esta noite tentei retribuir o gesto, oferecendo-lhe um cd da Mariza. Mas não estava ninguém em casa, tentarei noutra altura. Por enquanto, vou aproveitar a oferta e provar o mel de abelhas africanas.
Conheci o Sr. Jacques numa viagem no elevador, e desde aí falamos mais uma ou duas vezes. Deu para saber que ele é um apreciador de fado, e conhecedor de Amália Rodrigues.
Esta noite tentei retribuir o gesto, oferecendo-lhe um cd da Mariza. Mas não estava ninguém em casa, tentarei noutra altura. Por enquanto, vou aproveitar a oferta e provar o mel de abelhas africanas.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Relato
Eu sempre gostei de ouvir os relatos de futebol na rádio. Influência do meu pai, com certeza, que achando os jogos sempre um bocado lentos e com comentários enfadonhos, costumava acompanhar as transmissões televisivas com as radiofónicas, onde um brasileiro da rádio "Festival" ressuscitava jogos. Esta é uma técnica que hoje não funciona, já que desde a introdução da tecnologia RDIS na rádio (pelo menos, coincidiu), as duas transmissões passaram a estar irremediavelmente desfasadas.
Mas aqui não tenho televisão. Por isso, o meu directo pode estar uns minutos atrasado que não me faz diferença. E cá vou eu, acompanhando pela rádio alguns jogos de futebol. É certo que já não é em português com açúcar; é certo que acho sempre que há uma conspiração contra o meu clube; mas também é certo que me continua a dar prazer ouvir um relato de futebol. Acho que é um pouco como um livro: permite-nos imaginar. E conhecendo o campeonato português, a imaginação dá muito jeito!
Mas aqui não tenho televisão. Por isso, o meu directo pode estar uns minutos atrasado que não me faz diferença. E cá vou eu, acompanhando pela rádio alguns jogos de futebol. É certo que já não é em português com açúcar; é certo que acho sempre que há uma conspiração contra o meu clube; mas também é certo que me continua a dar prazer ouvir um relato de futebol. Acho que é um pouco como um livro: permite-nos imaginar. E conhecendo o campeonato português, a imaginação dá muito jeito!
domingo, 21 de setembro de 2008
H3
Na continuidade do meu "sábado desportivo", ontem durante a tarde fui até Bingerville para participar no Hash de Abidjan.
Não conhecia esta associação ou, como eles se definem, esta filosofia. Basicamente, é um grupo semi-organizado, que se junta em locais diversos para fazer um percurso. Há quem o faça a correr, há quem o faça a caminhar. Está aberto a quem quiser participar, seja novo ou velho, homem ou mulher, português ou chinês, gordo ou magro.
É um momento sobretudo de convívio, com desporto associado e alguma cerveja. Sim, porque o início do Hash House Harriers, que agora existe por todo o mundo, remonta a 1938 em Kuala Lumpur e está associado a um excesso de álcool.
Ontem não foi um percurso muito difícil. É verdade que teve algumas subidas mais íngremes, mas nada de inultrapassável. Foram 10 kms bem passados, a caminhar porque a manhã tinha sido inteiramente dedicada ao futebol. Por isso, apesar de algumas dores nas pernas, este é um programa certamente a repetir!
Não conhecia esta associação ou, como eles se definem, esta filosofia. Basicamente, é um grupo semi-organizado, que se junta em locais diversos para fazer um percurso. Há quem o faça a correr, há quem o faça a caminhar. Está aberto a quem quiser participar, seja novo ou velho, homem ou mulher, português ou chinês, gordo ou magro.
É um momento sobretudo de convívio, com desporto associado e alguma cerveja. Sim, porque o início do Hash House Harriers, que agora existe por todo o mundo, remonta a 1938 em Kuala Lumpur e está associado a um excesso de álcool.
Ontem não foi um percurso muito difícil. É verdade que teve algumas subidas mais íngremes, mas nada de inultrapassável. Foram 10 kms bem passados, a caminhar porque a manhã tinha sido inteiramente dedicada ao futebol. Por isso, apesar de algumas dores nas pernas, este é um programa certamente a repetir!
Unidos pelo desporto
Do desporto, além de fazer bem à saúde, é dito que quebra barreiras, une as pessoas. Sejam os Jogos Olímpicos de Pequim, o Campeonato do Mundo de futebol na África do Sul, um jogo entre Alemanha e Polónia durante o Campeonato Europeu, é conferido ao desporto esse dom de aproximar os pólos mais distantes.
Pela primeira vez desde que aqui estou, hoje fui jogar futebol. Fui com um amigo, jogar com um grupo em que não conhecia mais ninguém. Mas isso não é importante, quando a bola começa a rolar. Não é preciso saber pronunciar bem o nome dos que jogam connosco, não é preciso que consigam dizer o nosso nome. Basta jogar, e encontrar no jogo um objectivo e vontade comuns. Nesse momento, alguém pensa porque é que está um branco ali no meio? De onde apareceu? Onde mora ou onde trabalha? Não! Vê apenas se faz bons passes, se abre espaços, se faz faltas, se marca golos. Vê que se esforça, sua, corre e cai como qualquer outro. É como fazer um reset nas ideias, voltar ao básico, deixar cair preconceitos.
É por isso que o desporto une. Baralha e volta a dar, mistura-nos com outras pessoas e mostra-nos que podemos ter coisas em comum. No final, estamos todos cansados e a precisar dum banho. Nem mais, nem menos.
Pela primeira vez desde que aqui estou, hoje fui jogar futebol. Fui com um amigo, jogar com um grupo em que não conhecia mais ninguém. Mas isso não é importante, quando a bola começa a rolar. Não é preciso saber pronunciar bem o nome dos que jogam connosco, não é preciso que consigam dizer o nosso nome. Basta jogar, e encontrar no jogo um objectivo e vontade comuns. Nesse momento, alguém pensa porque é que está um branco ali no meio? De onde apareceu? Onde mora ou onde trabalha? Não! Vê apenas se faz bons passes, se abre espaços, se faz faltas, se marca golos. Vê que se esforça, sua, corre e cai como qualquer outro. É como fazer um reset nas ideias, voltar ao básico, deixar cair preconceitos.
É por isso que o desporto une. Baralha e volta a dar, mistura-nos com outras pessoas e mostra-nos que podemos ter coisas em comum. No final, estamos todos cansados e a precisar dum banho. Nem mais, nem menos.
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Chuva
Ontem choveu muito. Terá sido um dos dias, senão mesmo o dia em que mais choveu desde que aqui estou, e isto apesar de já estar no fim da época das chuvas. E ontem até incluiu trovoada, mas à distância.
Sendo verdade que choveu muito, não foi nada que nunca tivesse visto, e não durou muito tempo. Foi no entanto suficiente para criar rios onde antes existiam estradas, lagos e piscinas onde antes existiam buracos e crateras. E quando me refiro a rios e piscinas, falo de água que chegava a meio da porta dum carro.
É mais um sinal do tanto que há para fazer. Porque o escoamento das águas não é o melhor, e de cada vez que chove um pouco mais, zonas da cidade ficam inacessíveis, as pessoas não podem ir trabalhar, pedaços da cidade páram porque ficam isolados.
Ainda hoje lia num livro que cada vez mais controlamos o nosso ambiente de modo a podermos continuar normalmente as nossas actividades, seja com ar condicionado, aquecedores ou afins. Há que incluir as sarjetas e sistema de escoamente de águas pluviais nessas ferramentas de controlo, e agradecer-lhes por nos manterem os pés secos.
Sendo verdade que choveu muito, não foi nada que nunca tivesse visto, e não durou muito tempo. Foi no entanto suficiente para criar rios onde antes existiam estradas, lagos e piscinas onde antes existiam buracos e crateras. E quando me refiro a rios e piscinas, falo de água que chegava a meio da porta dum carro.
É mais um sinal do tanto que há para fazer. Porque o escoamento das águas não é o melhor, e de cada vez que chove um pouco mais, zonas da cidade ficam inacessíveis, as pessoas não podem ir trabalhar, pedaços da cidade páram porque ficam isolados.
Ainda hoje lia num livro que cada vez mais controlamos o nosso ambiente de modo a podermos continuar normalmente as nossas actividades, seja com ar condicionado, aquecedores ou afins. Há que incluir as sarjetas e sistema de escoamente de águas pluviais nessas ferramentas de controlo, e agradecer-lhes por nos manterem os pés secos.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Malária
Julgo que nunca aqui escrevi sobre os mosquitos, apesar de ser um tema incontornável. Numa região em que a malária é endémica, o mosquito é um inimigo muito claro. Por mais hilariante que seja ver a luta entre homem e mosquito (sobretudo se o convívio for dentro dum carro), a verdade é que qualquer vontade de rir passa no momento que nos lembramos dos números associados a esta doença.
Saídos da consulta do viajante, vimos com indicações para andar com o corpo coberto, fazer a profilaxia, dormir com mosquiteiro e renovar a camada de repelente de duas em duas horas. Mas isso é ser escravo da doença. Pior, é ser escravo da ideia da doença, da doença que ainda não o é. E eu não consigo.
Assim, faço a medicação da profilaxia e, se puder, elimino um ou dois mosquitos. O repelente nunca usei, e o meu mosquiteiro é a altura: os mosquitos não voam até ao 14º nem sabem usar elevador.
Claro que não estou livre de apanhar malária. Nessa altura, terei de recorrer ao vasto arsenal de armas químicas presentes no mercado e esperar que passe.
Saídos da consulta do viajante, vimos com indicações para andar com o corpo coberto, fazer a profilaxia, dormir com mosquiteiro e renovar a camada de repelente de duas em duas horas. Mas isso é ser escravo da doença. Pior, é ser escravo da ideia da doença, da doença que ainda não o é. E eu não consigo.
Assim, faço a medicação da profilaxia e, se puder, elimino um ou dois mosquitos. O repelente nunca usei, e o meu mosquiteiro é a altura: os mosquitos não voam até ao 14º nem sabem usar elevador.
Claro que não estou livre de apanhar malária. Nessa altura, terei de recorrer ao vasto arsenal de armas químicas presentes no mercado e esperar que passe.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Vizinhos
Entre os meus vizinhos, conto com uma mesquita. Muito grande, em tons de amarelo e azul, ainda em construção mas já em funcionamento. E que funcionamento! De cada vez que há uma celebração, e sobretudo à sexta-feira, instala-se o caos. À porta da mesquita monta-se uma autêntica feira de produtos religiosos; uma boa parte dos pedintes de Abidjan concentram-se ali; os vendedores de ocasião também; e de tanta gente, o trânsito pára.
Assim, já por duas vezes o engarrafamento era tal na minha rua (daqueles absolutamente imóveis, em que as pessoas saem dos carros para ir ver o que se passa), que tive de abandonar o carro a alguma distância e percorrer o resto do caminho a pé.
Sem pretender faltar ao respeito a ninguém, esta é uma outra forma da religião ter impacto na nossa vida.
Assim, já por duas vezes o engarrafamento era tal na minha rua (daqueles absolutamente imóveis, em que as pessoas saem dos carros para ir ver o que se passa), que tive de abandonar o carro a alguma distância e percorrer o resto do caminho a pé.
Sem pretender faltar ao respeito a ninguém, esta é uma outra forma da religião ter impacto na nossa vida.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Camiões
Um camião, por si só, já é um objecto imponente. E independentemente da carga, em Portugal estamos habituados a chamar camião ao que na realidade é um camião mais a mercadoria. Aqui, geralmente a sobrecarga é tal e tão visível que nem sei se hei-de chamar "áquilo" um camião de carga ou uma carga com um camião...
A verdade é que me parece que em muitos desses casos estou perante verdadeiras obras de arte, de autêntico equilibrismo. Sabem aquele jogo de ir colocando um pedaço de madeira à vez, a ver quem faz tombar a torre? Eu acho que aqui deve ser idêntico, mas com camiões e sacos muito pesados. Frequentemente surgem verdadeiros muros, com metros e metros de altura, aparentemente sem grande suporte. A verdade é que nunca vi um saco desses cair... apenas quando o próprio camião vira, o que não é tão raro assim.
E isto deixa-me a pensar qual será o limite. Em Portugal é fácil: ou é volume ou é peso. Mas aqui não sei. É quando alguém decide? É quando acaba a carga? É quando sabem que vão passar um viaduto que tem uma certa medida? É quando o empilhador não chega mais? Afinal, se o camião ainda anda, porque não juntar mais um saco ou outro?
A verdade é que me parece que em muitos desses casos estou perante verdadeiras obras de arte, de autêntico equilibrismo. Sabem aquele jogo de ir colocando um pedaço de madeira à vez, a ver quem faz tombar a torre? Eu acho que aqui deve ser idêntico, mas com camiões e sacos muito pesados. Frequentemente surgem verdadeiros muros, com metros e metros de altura, aparentemente sem grande suporte. A verdade é que nunca vi um saco desses cair... apenas quando o próprio camião vira, o que não é tão raro assim.
E isto deixa-me a pensar qual será o limite. Em Portugal é fácil: ou é volume ou é peso. Mas aqui não sei. É quando alguém decide? É quando acaba a carga? É quando sabem que vão passar um viaduto que tem uma certa medida? É quando o empilhador não chega mais? Afinal, se o camião ainda anda, porque não juntar mais um saco ou outro?
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Calor
Estou cansado. Tem sido assim em muitos dias. Chego à noite e sinto-me sem energia, apetece-me dormir.
Acho que ainda é uma adaptação ao calor e à humidade. Quando se está de férias, é bom. O calção e a havaiana ajudam a tolerar, e nas férias nem importa que andemos um pouco letárgicos. Mas quando se trata de trabalhar, já o caso muda de figura. Para isso prefiro o frio, mas é uma preferência que terá de mudar. É que o calor aqui vai começar a apertar ainda mais, até ao pico que será por volta de Fevereiro.
Lembro-me perfeitamente que as épocas que eu mais gostava, quando era pequeno, eram as de transição. Chegava ao fim do verão a ansiar o inverno, e vice versa. Não que adorasse o frio ou o calor, mas sim porque me fartava de ambos ao fim de algum tempo. Agora esse sentimento é mais controlado, mas um friozinho já vinha a calhar.
Acho que ainda é uma adaptação ao calor e à humidade. Quando se está de férias, é bom. O calção e a havaiana ajudam a tolerar, e nas férias nem importa que andemos um pouco letárgicos. Mas quando se trata de trabalhar, já o caso muda de figura. Para isso prefiro o frio, mas é uma preferência que terá de mudar. É que o calor aqui vai começar a apertar ainda mais, até ao pico que será por volta de Fevereiro.
Lembro-me perfeitamente que as épocas que eu mais gostava, quando era pequeno, eram as de transição. Chegava ao fim do verão a ansiar o inverno, e vice versa. Não que adorasse o frio ou o calor, mas sim porque me fartava de ambos ao fim de algum tempo. Agora esse sentimento é mais controlado, mas um friozinho já vinha a calhar.
domingo, 14 de setembro de 2008
Morcegos cosmopolitas
Para quem não usar relógio nem conseguir ver as horas pelo sol, há em Abidjan um outro indicador de tempo. Todos os dias, entre as seis e as seis e meia da tarde, começa um espectáculo surpreendente. Das árvores de uma zona mesmo no centro da cidade, esvoaçam milhares, dezenas de milhar, centenas de milhar de morcegos, que partem em procura de alimento durante a noite. Segundo me dizem, estes morcegos fazem cerca de 400 kms para norte todos os dias. E voltam, para repetirem no dia seguinte. E no outro, e no outro, e sempre. Eu não conheço a sua etologia (nem a espécie), mas hei-de informar-me, para conhecer um pouco melhor esta grande porção da população de Abidjan.
E não pensem que exagero quando falo em centenas de milhar. É quase inacreditável a nuvem que de repente vemos a sobrevoar a cidade, a deslocar-se numa mesma direcção, num corredor aéreo que parece muito bem definido.
O que será que estas árvores no centro de Abidjan têm de especial? Porque razão passam os morcegos o dia numa cidade barulhenta e poluída, para depois ainda terem de fazer quilómetros para encontrar comida? Devem ser morcegos cosmopolitas.
E não pensem que exagero quando falo em centenas de milhar. É quase inacreditável a nuvem que de repente vemos a sobrevoar a cidade, a deslocar-se numa mesma direcção, num corredor aéreo que parece muito bem definido.
O que será que estas árvores no centro de Abidjan têm de especial? Porque razão passam os morcegos o dia numa cidade barulhenta e poluída, para depois ainda terem de fazer quilómetros para encontrar comida? Devem ser morcegos cosmopolitas.
sábado, 13 de setembro de 2008
Onde começa a educação?
Na mensagem de hoje vou revelar uma ideia que me vem perseguindo há já algum tempo. E se o faço é porque já não a acho tão descabida como antes.
Uma das imagens mais marcantes daqui é a das mulheres com os filhos às costas, envolvidos e suportados por um pano baoulé. Ora, os nossos tempos de bébé são alturas com uma curva de aprendizagem muito acentuada, em que a estimulação é muito importante. Música, jogos, interacção, tudo é importante para o desenvolvimento das capacidades cognitivas duma criança. Mas aqui os bébés passam os dias pendurados nas costas das mães. Se olharem para a frente, nada vêem senão as costas da progenitora. Olhando para o lado, vêem o que já chegou, nada antecipam, aceitam o quadro que lhes é desenhado. Eu quando ando num autocarro ou no metro virado de costas para a direcção do movimento, tenho sempre a sensação de estar a olhar para o passado, para o que já foi sem que eu previsse a sua chegada. Nada posso fazer, nada controlo, nada influencio. É como estar atrasado em permanência.
Agora imaginem o que será isso para um bébé. Quando está a preparar o futuro, não vê senão passados. Não será que isso mata a imaginação, mirra a curiosidade, destrói a capacidade de abstracção?
Como comecei por dizer, esta é uma ideia que me tem perseguido desde há algum tempo. Não sei se a acharão completamente parva, mas a verdade é que nunca por cá vi um bébé com aquele olhar de quem está a sorver o mundo. Na maioria das vezes estão a dormir. No entanto, se esta ideia tiver algum fundamento, o início da educação aqui poderá passar por carrinhos de bébé.
Uma das imagens mais marcantes daqui é a das mulheres com os filhos às costas, envolvidos e suportados por um pano baoulé. Ora, os nossos tempos de bébé são alturas com uma curva de aprendizagem muito acentuada, em que a estimulação é muito importante. Música, jogos, interacção, tudo é importante para o desenvolvimento das capacidades cognitivas duma criança. Mas aqui os bébés passam os dias pendurados nas costas das mães. Se olharem para a frente, nada vêem senão as costas da progenitora. Olhando para o lado, vêem o que já chegou, nada antecipam, aceitam o quadro que lhes é desenhado. Eu quando ando num autocarro ou no metro virado de costas para a direcção do movimento, tenho sempre a sensação de estar a olhar para o passado, para o que já foi sem que eu previsse a sua chegada. Nada posso fazer, nada controlo, nada influencio. É como estar atrasado em permanência.
Agora imaginem o que será isso para um bébé. Quando está a preparar o futuro, não vê senão passados. Não será que isso mata a imaginação, mirra a curiosidade, destrói a capacidade de abstracção?
Como comecei por dizer, esta é uma ideia que me tem perseguido desde há algum tempo. Não sei se a acharão completamente parva, mas a verdade é que nunca por cá vi um bébé com aquele olhar de quem está a sorver o mundo. Na maioria das vezes estão a dormir. No entanto, se esta ideia tiver algum fundamento, o início da educação aqui poderá passar por carrinhos de bébé.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Panela de pressão
Acho que descobri o que provoca o calor aqui. E não é a posição geográfica, equatorial do país. É um problema de pressão.
Uma grande parte das pessoas não trabalha enquanto não se sentem apertadas. Não percebo muito bem porquê, mas por norma é preciso chegar ao ponto de fazer algum tipo de ameaça para que os problemas sejam resolvidos, para que os faxes sejam enviados, para que as coisas sejam feitas. O mais curioso é que nem quando é do seu interesse são mais despachadas. Deixam andar até que tenho de ligar, dizer que estou farto de esperar, que vou mudar de rede ou de comercial, ou qualquer outra coisa para que haja um desenvolvimento. Que normalmente é rápido e simples, o que deixa por perceber o porquê do atraso.
Assim, chego à conclusão que uma grande parte desta gente só trabalha sob pressão. E se muita coisa vai sendo feita, é porque há muita pressão. E subindo a pressão, sobe a temperatura!!
Eureka, Abidjan é uma panela de pressão! O que justifica o calor e, já agora, a humidade também.
Uma grande parte das pessoas não trabalha enquanto não se sentem apertadas. Não percebo muito bem porquê, mas por norma é preciso chegar ao ponto de fazer algum tipo de ameaça para que os problemas sejam resolvidos, para que os faxes sejam enviados, para que as coisas sejam feitas. O mais curioso é que nem quando é do seu interesse são mais despachadas. Deixam andar até que tenho de ligar, dizer que estou farto de esperar, que vou mudar de rede ou de comercial, ou qualquer outra coisa para que haja um desenvolvimento. Que normalmente é rápido e simples, o que deixa por perceber o porquê do atraso.
Assim, chego à conclusão que uma grande parte desta gente só trabalha sob pressão. E se muita coisa vai sendo feita, é porque há muita pressão. E subindo a pressão, sobe a temperatura!!
Eureka, Abidjan é uma panela de pressão! O que justifica o calor e, já agora, a humidade também.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Fininho
Há dias em que as coisas correm mal e nos deixam incomodados, algo abatidos. Hoje foi um desses dias e é nestas alturas que mais sinto falta de algumas pessoas e alguns lugares (ou a sua combinação).
Existem as mais variadas formas de descontrair e cada um tem as suas. Comigo o desporto, um fino ou um café em boa companhia (ou apenas a boa companhia) funcionam bem. Mas aqui e por enquanto, não tenho nenhum desses escapes, o que me provoca esta sensação de falta.
No entanto, este tipo de situações também tem vantagens, porque me conduz a um processo interno de procura de erros e falhas, permitindo melhorar. Pelo menos assim espero. Mas a verdade é que me apetecia mesmo um fininho...
Existem as mais variadas formas de descontrair e cada um tem as suas. Comigo o desporto, um fino ou um café em boa companhia (ou apenas a boa companhia) funcionam bem. Mas aqui e por enquanto, não tenho nenhum desses escapes, o que me provoca esta sensação de falta.
No entanto, este tipo de situações também tem vantagens, porque me conduz a um processo interno de procura de erros e falhas, permitindo melhorar. Pelo menos assim espero. Mas a verdade é que me apetecia mesmo um fininho...
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Cilindro
Nem quero acreditar, mas é verdade: tenho um cilindro novo! É certo que ainda está pousado no chão, mas acho que agora o processo não pode parar.
Após muitas chamadas e, nos últimos dias, umas visitas à agência, lá vieram arranjar o que lhes compete. Quer dizer, vieram trazer o material e amanhã irão montar o cilindro. Mas eu só acredito quando sentir água quente a sair da torneira da cozinha.
Parece-me que a senhora que me alugou o apartamento já não trabalha na agência. Só não percebo porque não o disseram mais cedo, sempre tinham evitado que estivesse sempre a perguntar por ela. Por outro lado, penso se terei tido alguma influência na sua saída. Afinal, não me escusei a apontar a sua incompetência. Qualquer dia, ainda vai o sr. Fian também!
Após muitas chamadas e, nos últimos dias, umas visitas à agência, lá vieram arranjar o que lhes compete. Quer dizer, vieram trazer o material e amanhã irão montar o cilindro. Mas eu só acredito quando sentir água quente a sair da torneira da cozinha.
Parece-me que a senhora que me alugou o apartamento já não trabalha na agência. Só não percebo porque não o disseram mais cedo, sempre tinham evitado que estivesse sempre a perguntar por ela. Por outro lado, penso se terei tido alguma influência na sua saída. Afinal, não me escusei a apontar a sua incompetência. Qualquer dia, ainda vai o sr. Fian também!
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Caber nas calças
Acho que vou engordar, aqui. Pelo menos, tudo se conjuga para tal. Gosto da gastronomia local (ainda que sem pimento, que continuo a achar que é tentativa de homicídio). E não faço exercício. A minha sorte é que não sou de engordar muito, pelo menos por enquanto.
No que à comida diz respeito, não sou muito esquisito. Aliás, já me tentaram pregar pequenas partidas, nomeadamente com caracóis do tamanho de bolas de golfe, mas não passou da tentativa; e gostei. Do foutou gosto mais do que muitos dos nativos, e até já me tiraram uma fotografia por não ser o mais comum verem um estrangeiro a comer tal prato. Resumindo, não me faço rogado.
Quanto ao exercício, não tenho feito nenhum. É certo que é uma questão de disciplina, mas ainda estou na fase de avaliar se os benefícios serão mais do que as desvantagens. É que de cada vez que vejo aquela nuvem de fumo, fico confortado a pensar que dois pulmões valem mais que uns quilos.
A verdade é que me começo a sentir um bocado enferrujado e irrita-me não praticar desporto, fruto de anos e anos em que o fiz entre frequentemente e muito frequentemente. Mas pelo menos as calças ainda me servem.
No que à comida diz respeito, não sou muito esquisito. Aliás, já me tentaram pregar pequenas partidas, nomeadamente com caracóis do tamanho de bolas de golfe, mas não passou da tentativa; e gostei. Do foutou gosto mais do que muitos dos nativos, e até já me tiraram uma fotografia por não ser o mais comum verem um estrangeiro a comer tal prato. Resumindo, não me faço rogado.
Quanto ao exercício, não tenho feito nenhum. É certo que é uma questão de disciplina, mas ainda estou na fase de avaliar se os benefícios serão mais do que as desvantagens. É que de cada vez que vejo aquela nuvem de fumo, fico confortado a pensar que dois pulmões valem mais que uns quilos.
A verdade é que me começo a sentir um bocado enferrujado e irrita-me não praticar desporto, fruto de anos e anos em que o fiz entre frequentemente e muito frequentemente. Mas pelo menos as calças ainda me servem.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Negociações
Que tudo seja negociável, até acho uma certa piada. Que me tentem sempre cobrar mais do que o normal, também não me chateia. Que já fiz bons e maus negócios, aceito. Agora, não suporto é quando se fazem espertos e tentam meter-me a mão ao bolso.
Ontem à noite fui jantar com um amigo americano. Apanhamos um táxi perto de minha casa e logo ali discutimos o preço, porque já sei que o taxímetro é enfeite. Pouco depois de estarmos em andamento, algo se passou na cabeça do taxista que começou a renegociar o preço, em alta evidentemente. Recusei, porque não me pareceu de bom tom. Ao ver que realmente eu não iria dar-lhe mais dinheiro, passou ao plano B: "vou então parar aqui na bomba para meter um bocadinho de gasolina...". E não é que entrou mesmo na bomba de gasolina? Vi-me obrigado a dizer-lhe que caso ele parasse realmente o carro, nós saíamos ali mesmo do táxi, não lhe pagava e apanhávamos outro. Contrariado, lá continuou o caminho.
Há aqui muitas pessoas que dá vontade ajudar. A muitas já paguei mais do que o combinado inicialmente. A outras, negociei até um preço mais baixo, e depois aceitei outro mais elevado. Mas uma negociação é uma troca de alternativas, que chega a ser divertida. Com alguns dos mais duros negociadores de rua acaba por se estabelecer uma relação engraçada, porque é daquilo que estão à espera. Mas não suporto que me tirem as opções, que me tentem obrigar a fazer alguma coisa.
Ao taxista paguei o que tinha combinado à minha porta. Nem mais, nem menos. Ainda por cima, tinha o depósito cheio!
Ontem à noite fui jantar com um amigo americano. Apanhamos um táxi perto de minha casa e logo ali discutimos o preço, porque já sei que o taxímetro é enfeite. Pouco depois de estarmos em andamento, algo se passou na cabeça do taxista que começou a renegociar o preço, em alta evidentemente. Recusei, porque não me pareceu de bom tom. Ao ver que realmente eu não iria dar-lhe mais dinheiro, passou ao plano B: "vou então parar aqui na bomba para meter um bocadinho de gasolina...". E não é que entrou mesmo na bomba de gasolina? Vi-me obrigado a dizer-lhe que caso ele parasse realmente o carro, nós saíamos ali mesmo do táxi, não lhe pagava e apanhávamos outro. Contrariado, lá continuou o caminho.
Há aqui muitas pessoas que dá vontade ajudar. A muitas já paguei mais do que o combinado inicialmente. A outras, negociei até um preço mais baixo, e depois aceitei outro mais elevado. Mas uma negociação é uma troca de alternativas, que chega a ser divertida. Com alguns dos mais duros negociadores de rua acaba por se estabelecer uma relação engraçada, porque é daquilo que estão à espera. Mas não suporto que me tirem as opções, que me tentem obrigar a fazer alguma coisa.
Ao taxista paguei o que tinha combinado à minha porta. Nem mais, nem menos. Ainda por cima, tinha o depósito cheio!
domingo, 7 de setembro de 2008
Despedidas
As despedidas são momentos delicados. Não falo daquelas despedidas do quotidiano, do até amanhã ao fim da tarde. Falo das despedidas de alto envolvimento, das despedidas em que o até breve traz consigo o peso de alguns meses.
Apesar de serem alturas mais do que definidas, com datas de viagem marcadas, confesso que nunca chego ao momento verdadeiramente preparado. E mesmo com pessoas com quem tenho confiança, acabo por ficar sem saber o que dizer. O que me vale é que julgo que não sou o único: não conheço ninguém que goste de despedidas, e desculpem-me mas vou desconfiar de quem me disser que sim.
No entanto, este tipo de momentos acontecem de vez em quando e parece-me que nunca vou gostar muito deles. Simplesmente aceito-os, com alguma resignação. O que faço a seguir é que já é mais do meu controlo. E então penso no próximo encontro, treino o olá seguinte! É a minha forma de ultrapassar as despedidas, apesar de pontualmente ter uns momentos de rebound.
Agora vou parar de escrever que já tenho um próximo encontro para antecipar!
Apesar de serem alturas mais do que definidas, com datas de viagem marcadas, confesso que nunca chego ao momento verdadeiramente preparado. E mesmo com pessoas com quem tenho confiança, acabo por ficar sem saber o que dizer. O que me vale é que julgo que não sou o único: não conheço ninguém que goste de despedidas, e desculpem-me mas vou desconfiar de quem me disser que sim.
No entanto, este tipo de momentos acontecem de vez em quando e parece-me que nunca vou gostar muito deles. Simplesmente aceito-os, com alguma resignação. O que faço a seguir é que já é mais do meu controlo. E então penso no próximo encontro, treino o olá seguinte! É a minha forma de ultrapassar as despedidas, apesar de pontualmente ter uns momentos de rebound.
Agora vou parar de escrever que já tenho um próximo encontro para antecipar!
sábado, 6 de setembro de 2008
Assinie, sim
Hoje estive em Assinie, localidade a cerca de 90 quilómetros para Este de Abidjan, e a apenas 20 da fronteira com o Gana. É uma zona lindíssima, de praias de areia fina e branca e coqueiros a perder de vista!
Assinie já teve muito mais movimento, antes da guerra civil que assolou o país e pôs muita gente em fuga. Agora é um local paradisíaco, tranquilo, cheio de resorts constituídos por pequenas cabanas mas vazios. O que não é mau, mas deixa antever que, havendo realmente estabilidade política, ideias e algum investimento, este passará a ser um local turístico de renome internacional.
Uma curiosidade de Assinie é que, após um tsunami em 1942, a sua geografia foi totalmente redesenhada: abriu-se uma boca de mar que deu origem a canais de água salgada, e fez aparecer penínsulas cujo acesso tem de ser feito em pirogas e barcos particulares. Se se der uma volta de barco, passa-se por postes de telefone e iluminação no meio da água. Uma das penínsulas liga-se ao Gana, pelo que todos os carros que lá se vêem tiveram forçosamente de passar pelo país vizinho.
É um local a visitar. É caso para dizer que Assinie, sim!
Assinie já teve muito mais movimento, antes da guerra civil que assolou o país e pôs muita gente em fuga. Agora é um local paradisíaco, tranquilo, cheio de resorts constituídos por pequenas cabanas mas vazios. O que não é mau, mas deixa antever que, havendo realmente estabilidade política, ideias e algum investimento, este passará a ser um local turístico de renome internacional.
Uma curiosidade de Assinie é que, após um tsunami em 1942, a sua geografia foi totalmente redesenhada: abriu-se uma boca de mar que deu origem a canais de água salgada, e fez aparecer penínsulas cujo acesso tem de ser feito em pirogas e barcos particulares. Se se der uma volta de barco, passa-se por postes de telefone e iluminação no meio da água. Uma das penínsulas liga-se ao Gana, pelo que todos os carros que lá se vêem tiveram forçosamente de passar pelo país vizinho.
É um local a visitar. É caso para dizer que Assinie, sim!
Diversidade
Numa noite, parado duas vezes pela polícia. Não é recorde: numa outra foram quatro. Mas o interessante das paragens de hoje foi a diversidade, a oposição diametral das abordagens e atitudes. Numa, um controlo perfeitamente normal aos documentos do carro e do condutor. Na outra, uma declarada e descarada tentativa de extorsão. Quando o condutor ia tirar os documentos do porta-luvas, o polícia (que exagero de palavra!) literalmente meteu a mão dentro do habitáculo, fechou ele próprio o porta-luvas e disse "deixe estar que eu sei que está tudo em ordem". E passou então a uma discussão que não tem argumento, porque o princípio, meio e fim estão à vista.
No meio disto tudo, eu mantive-me impávido e sereno, como se não fosse nada comigo. Quando ele finalmente percebeu que do condutor nada levava, virou-se para mim. E foi então que o diálogo se tornou interessante: ele a dizer que precisava de algum para o café da manhã; eu a olhar para ele a sorrir, como quem não percebe francês. Mas para não o deixar sem resposta, comecei a repetir "Portugal, Figo", ao que ele respondia "matin, café". Após uma série de repetições que já me faziam sentir papagaio, ele afastou-se. Percebeu que estava a gastar o seu tempo, e lá foi pedir café ao próximo carro.
No meio disto tudo, eu mantive-me impávido e sereno, como se não fosse nada comigo. Quando ele finalmente percebeu que do condutor nada levava, virou-se para mim. E foi então que o diálogo se tornou interessante: ele a dizer que precisava de algum para o café da manhã; eu a olhar para ele a sorrir, como quem não percebe francês. Mas para não o deixar sem resposta, comecei a repetir "Portugal, Figo", ao que ele respondia "matin, café". Após uma série de repetições que já me faziam sentir papagaio, ele afastou-se. Percebeu que estava a gastar o seu tempo, e lá foi pedir café ao próximo carro.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Empreitada
Ainda anteontem partilhei aqui aquela que era a minha esperança para o fim dos problemas com a água. Posso desde já dizer que falhei na previsão, e bastaram dois dias para me aperceber disso.
Quatro torneiras e um autoclismo, dizia eu. O autoclismo está a funcionar; e as quatro torneiras também. O que significa que houve uma outra peça que ficou sentida ao sentir-se esquecida por mim, e resolveu revelar-se e mostrar assim que também tem a sua importância. Foi ela a banca da louça. Ainda não sei se o problema é no sifão, nas mangueiras ou noutra qualquer parte da banca. Mas o certo é que tenho água no chão, graças a essa fuga ainda a descobrir.
E assim, a conjugação desta elevada taxa de avarias e da lentidão de quem as deve arranjar parece fazer sentido: quando cá vierem, arranjam tudo de empreitada! Afinal eles é que têm razão.
Quatro torneiras e um autoclismo, dizia eu. O autoclismo está a funcionar; e as quatro torneiras também. O que significa que houve uma outra peça que ficou sentida ao sentir-se esquecida por mim, e resolveu revelar-se e mostrar assim que também tem a sua importância. Foi ela a banca da louça. Ainda não sei se o problema é no sifão, nas mangueiras ou noutra qualquer parte da banca. Mas o certo é que tenho água no chão, graças a essa fuga ainda a descobrir.
E assim, a conjugação desta elevada taxa de avarias e da lentidão de quem as deve arranjar parece fazer sentido: quando cá vierem, arranjam tudo de empreitada! Afinal eles é que têm razão.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Equilíbrio
Um uniforme militar é, normalmente, algo que impõe (ou assim pretende) algum respeito. No entanto, é preciso que todos os restantes adereços estejam em harmoniosa conjugação. Quando vemos um militar com uma arma, ou com um rádio, ou com uma bússola, tudo nos parece adequado. Mas quando um militar usa um apito cor de rosa, o caso muda de figura: passa a ser aquele jogo do "descubra o que não faz parte do conjunto" em nível principiante.
Durante as horas de maior trânsito, a polícia militar vai para a rua numa tentativa de regular a circulação. Ou para fazer operações STOP. Em qualquer dos casos usam apitos, que tentam afincadamente sobrepor às furiosas buzinas! Ora, se muitas das vezes os apitos são cor de rosa (ou verdes fluorescentes, ou amarelos,...), é normal que os condutores percam um pouco do respeito aos militares, apesar do uniforme.
Foi a pensar nisto que subitamente me ocorreu que deve ser por isso que, frequentemente, a acompanhar um apito vem uma metralhadora. O que é uma outra forma de equilibrar a figura.
Durante as horas de maior trânsito, a polícia militar vai para a rua numa tentativa de regular a circulação. Ou para fazer operações STOP. Em qualquer dos casos usam apitos, que tentam afincadamente sobrepor às furiosas buzinas! Ora, se muitas das vezes os apitos são cor de rosa (ou verdes fluorescentes, ou amarelos,...), é normal que os condutores percam um pouco do respeito aos militares, apesar do uniforme.
Foi a pensar nisto que subitamente me ocorreu que deve ser por isso que, frequentemente, a acompanhar um apito vem uma metralhadora. O que é uma outra forma de equilibrar a figura.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Prémio
Um autoclismo e quatro torneiras: julgo que é isso que me falta para que se acabem os problemas com a água no meu apartamento. É pelo menos essa a minha esperança.
Após o cilindro da cozinha ter avariado, sendo preciso mudá-lo por inteiro, eis que duas torneiras também deram de si. Uma, deixou de funcionar de todo. A outra, pinga abundantemente. E assim continuam os problemas, sempre a meter água e sempre a serem resolvidos muito devagar. Era preciso tirar um dia inteiro para andar atrás das pessoas para fazerem o trabalho. Mas como não o posso fazer, lá vou aguentando.
O autoclismo tenho a certeza que há-de avariar. Mas das quatro torneiras, pode ser que uma se aguente. E essa heroína acho que vou levar comigo e dar-lhe uma reforma em Portugal!
Após o cilindro da cozinha ter avariado, sendo preciso mudá-lo por inteiro, eis que duas torneiras também deram de si. Uma, deixou de funcionar de todo. A outra, pinga abundantemente. E assim continuam os problemas, sempre a meter água e sempre a serem resolvidos muito devagar. Era preciso tirar um dia inteiro para andar atrás das pessoas para fazerem o trabalho. Mas como não o posso fazer, lá vou aguentando.
O autoclismo tenho a certeza que há-de avariar. Mas das quatro torneiras, pode ser que uma se aguente. E essa heroína acho que vou levar comigo e dar-lhe uma reforma em Portugal!
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Inspiração
Hoje é dia 1 de Setembro. Início do mês, portanto. As transições entre meses são momentos de contraste, entre despesas que se acumulam e o alívio do salário que chega. A altura de pagamento é como um balão de oxigénio para as carteiras em asfixia.
Num país onde tudo se paga em cash, há umas vítimas muito claras: as caixas multibanco. Do meu apartamento, consigo ver uma delas e há três dias seguidos que está a funcionar continuamente. Na sexta feira passada, tal como se do concerto do ano se tratasse, as pessoas começaram a acumular-se nas escadas durante a noite. E desde aí que se mantém centenas de pessoas em todas as caixas mutlibanco! Para a próxima, terei de me prevenir, porque não tenho a mesma capacidade de espera que elas.
Deve ser por isto que as notas estão tão gastas, tão velhas. Gostava de ser uma durante um mês, aposto que teria muitas histórias para contar antes da próxima inspiração.
Num país onde tudo se paga em cash, há umas vítimas muito claras: as caixas multibanco. Do meu apartamento, consigo ver uma delas e há três dias seguidos que está a funcionar continuamente. Na sexta feira passada, tal como se do concerto do ano se tratasse, as pessoas começaram a acumular-se nas escadas durante a noite. E desde aí que se mantém centenas de pessoas em todas as caixas mutlibanco! Para a próxima, terei de me prevenir, porque não tenho a mesma capacidade de espera que elas.
Deve ser por isto que as notas estão tão gastas, tão velhas. Gostava de ser uma durante um mês, aposto que teria muitas histórias para contar antes da próxima inspiração.
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