Quando saí de Portugal estava meia Europa a sair duma greve generalizada dos motoristas, em protesto com o aumento dos preços do combustível. Uns dias antes do meu vôo, pairava até a incógnita se não seria anulado, por falta de combustível na Portela. Finalmente lá surgiu um acordo que restituiu alguma normalidade aos países envolvidos.
Pouco tempo depois de estar em Abidjan, convencido que tudo seria diferente e após um esforço mental para me libertar do "software" que trazia, vi-me confrontado com situação idêntica: greve em protesto com o aumento dos combustíveis. Se na Europa foram os camiões os actores principais, aqui foram os transportes de passageiros. Woro-woro, gbaka-gbaka, táxis, tudo parado. Foi como sangrar a cidade até à última gota, matá-la durante uma semana. Até que baixaram o preço do gasóleo para pouco mais de 1€/litro, ressuscitando Abidjan. Este é, portanto e sem surpresa, um problema sem barreiras.
Entretanto, também aqui me deparei com um outro assunto que saltou a fronteira, e que já me deixou mais surpreendido. A Costa do Marfim tem, por motivos históricos, uma grande comunidade de libaneses. Na semana passada conheci um, dos seus 60 anos e que já cá está há muitos, e coincidiu de aparecer um israelita, seu conhecido. Apesar de ressalvar que aquele israelita em concreto era boa pessoa, destilou de seguida o ódio que lhe ia na alma contra o inimigo. Justificação: eles mataram demasiadas crianças e mulheres libanesas, para poderem alguma vez ser perdoados. E por ali ficou, numa irredutibilidade com raízes que penetram no tempo. Há sentimentos aos quais devia ser recusado o visto de entrada.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
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