Muitas das pessoas que conheço têm, em maior ou menor grau, um fascínio por África, mesmo que nunca tenham cá vindo. Eu fazia parte desse grupo: nunca tinha estado em África, mas há já algum tempo que estava nos meus planos visitar. Alimentava a curiosidade vendo documentários, conversando com quem conhecia um pouco, lendo ou oferecendo a amigos que partilhavam o interesse livros sobre África, com a declarada segunda intenção de os ver devolvidos por empréstimo. Foi o que fiz com "Ébano - Febre Africana", de Ryszard Kapuscinski. Nunca pensei é que o acabaria por ler aqui!
Já li um terço do livro, passado entre 1958 e 1962. Cerca de 50 anos passaram, portanto. Surpreendem-me algumas histórias relatadas, até porque essa representa uma fase conturbada: foi por essa altura que grande parte dos países africanos colonizados se tornaram independentes, com especial destaque para o ano de 1960, com 17 declarações de independência. Uma delas foi da Costa do Marfim.
Mas o que verdadeiramente me surpreende é o que NÃO mudou. A descrição de como os africanos têm um conceito de tempo muito diferente do nosso, sendo muito menos importante, muito menos escravizante. A capacidade que têm de passar horas, dias, sem fazer absolutamente nada. A forma como as pessoas saem para a rua, onde tudo se passa, tudo e todos se encontram. A forma como em qualquer momento, em qualquer local, as pessoas se encostam e dormem. O mesmo padrão de dependência de um membro da família! Confesso que por vezes não acredito e vou conferir a data em que estas crónicas foram escritas. Como é possível ter mudado tão pouco? Que tipo de cimento une décadas e décadas de atitudes e formas de estar? E até quando vai essa unidade?
Aposto que se o livro de Kapuscinski tivesse fotografias, amanhã eu poderia encontrar as mesmas mulheres a preparar mandioca e banana na berma da estrada, os mesmo homens a dormir debaixo duma palmeira, os mesmos contadores de histórias e chefes de tribos. E só quando vejo os carros (que são muito velhos, mas não têm 50 anos!), os telemóveis, os computadores, é que me convenço que o calendário avançou. É como se o tempo tivesse ficado num qualquer ponto de Lagrange entre dois mundos distintos!
domingo, 17 de agosto de 2008
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