terça-feira, 12 de agosto de 2008

Desconstrução

Existem algumas coisas que são claramente mais fáceis de destruir do que de construir. Podemos pensar, por exemplo, num edifício, que se constrói em meses ou anos e se implode em segundos. Ou na confiança, que curiosamente pode respeitar os mesmos prazos. Mas outras há que resistem, persistem, ganham vontade própria e recusam-se a desaparecer.
Hoje vi mais uma gbaka-gbaka a entrar em sentido contrário num ramal de acesso à via rápida. E isso fez-me pensar na função das coisas.
Pensemos num relógio. Antes de ser bonito, dar estilo ou ser símbolo de status, tem uma função muito clara: dar horas. Ou na comida, que é alimento antes de ser tenra, apimentada e muito antes de ser cuisine française. Ou na pele, que é uma protecção antes de ser macia ou bonita. E poderia continuar indefinidamente, mas vou optar por passar para as estradas.
Uma estrada, antes de servir para circular numa determinada direcção, serve simplesmente para circular. É um espaço com as condições necessárias para permitir às viaturas ir de um ponto até outro, preferencialmente pelo caminho mais curto. O que torna tudo muito mais simples: as regras não são sinais, são necessidades, e isso justifica andar em contra-mão, desrespeitar vermelhos ou ultrapassar por onde quer que haja espaço.
No entanto, é difícil despirmo-nos dos nossos hábitos, das nossas ideias, apesar do desafio quotidiano. Por isso, enquanto eu travo esta batalha interna, à minha volta os carros perduram na sua função, usando as estradas para o que elas servem. E não deixam de ter razão, porque fora delas é bem mais complicado!

Sem comentários: