Tal como prometido, e já com acentos, hoje vou escrever um pouco sobre a Basilique de Notre Dame de la Paix de Yamoussoukro. Apesar de haver muitas coisas para contar sobre a viagem a Yamoussoukro, é impossível não começar por falar daquela que é considerada a maior igreja do mundo.
E a verdade é que é um espaço gigantesco, absolutamente monstruoso. Uma vez lá, perdemos noção das medidas, tudo nos parece mais pequeno do que é realmente e temos dificuldades em acreditar nos números que nos dizem. Aquela cruz está mesmo a 158 metros de altura, quase o dobro da Ponte da Arrábida? E aquela outra, tem mesmo 2 metros e meio? E definitivamente ainda não acredito que aquela alameda da entrada tenha 1 quilómetro!
É um construção imponente, no meio duma planície africana também ela imponente, de espaço e de verde. É um local que merece a visita, e que impressiona pelos números. Mas o que verdadeiramente me choca é que não é muito mais do que isso. É uma igreja perdida no meio da Costa do Marfim, numa cidade cujo significado maior é uma estrada, e que ali foi construída devido ao sonho desmesurado do primeiro presidente da Costa do Marfim independente. Sonho esse cujo expoente será o vitral em que se fez desenhar, aos pés de Jesus. Um vitral original, sem dúvida, em que se faz acompanhar pelo arquitecto libanês, pela directora artística francesa e mais uma série de pessoas que não se encontram, nem nunca se encontrarão, em qualquer texto religioso.
A basílica foi verdadeiramente utilizada em duas ocasiões: por altura da visita do Papa João Paulo II em 1990 e na morte de Houphouet Boigny em 1993. Agora continua a ser um enorme espaço, perdido no meio do país, com pequenas missas e muito poucas visitas. A cidade continua ao pé da estrada, sem saneamento nem água canalizada. Mas é a capital política do país e tem a maior igreja do mundo.
Se é verdade que o sonho comanda a vida, também o é que alguns merecem um pesado risco de lápis azul.
domingo, 31 de agosto de 2008
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1 comentário:
Depois da longa ausência e apesar de ter espreitado de vez em quando, tenho ainda alguma leitura em atraso.
Não posso deixar de partilhar o que senti em Yamoussoukro... nada mais que uma manifestação material de tudo aquilo que falta na essência e o não querer deixar de ser lembrado pelos piores motivos. Mas estamos em África e para além da megalomania, o despropósito num país com tantas carências.
Mais uma vez a nossa cultura europeia a olhar para uma realidade cultural bem diferente.
O que mais me impressionou foi o sistema de som! Nunca tinha visto nada assim e para a época era sem dúvida de um avanço tecnológico estonteante.
Mas é de facto algo no meio do nada e “só” porque o primeiro presidente da CM independente aí nasceu….e quis por no mapa, no seu mapa!
Um abraço,
Cândida
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