Do futebol africano, diz-se que tem alegria e irreverência. É uma forma simpática de dizer que muitos dos jogadores são individualistas. Hoje percebi porquê.
Ao passar na Pont De Gaulle, consegue ver-se um campo de futebol, onde havia actividade. Ora, num jogo de futebol há alguns elementos básicos que se esperam encontrar: as balizas estavam lá; a bola também; linhas não, mas isso não é fundamental. Árbitros acho que também não existiam, mas isso também não é fundamental. Agora, normalmente existem duas equipas, que se identificam minimamente... e isso não consegui ver!
Logo à partida, não consegui perceber se estavam 11 para cada lado. A fronteira entre os que jogavam e os tantos que viam, não era clara. E depois, cada um dos que por lá andava, tinha um equipamento diferente: ora verde, ora branco, ora amarelo, ora vermelho... Nestas condições, a quem passar a bola?
Afinal, a irreverência do futebol africano é capaz de ser uma condição do material, mais do que um estado psicológico.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Baratas
Quando se fala em baratas, a reacção normalmente não é muito positiva. De mim, não levam a maior das simpatias, mas também não lhes tenho uma desmesurada repugnância. O que é bom, na situação presente.
Apesar de viver num prédio decente e de não ter acumulações de lixo dentro de casa, a verdade é que regularmente me deparo com estas visitas. Maiores ou mais pequenas, elas andam por aí. Presumo que a tal conduta de lixo que trespassa todo o edifício na vertical contribua decisivamente para este fenómeno.
Por isso, já temos um acordo, apesar de unilateral: há zonas em que as persigo furiosa e impiedosamente. Há outras em que nem me dou ao trabalho de tentar, até porque normalmente elas são rápidas e se escondem em sítios onde não chego. Mas o que conta é a intenção, e há ali uma área nas redondezas da entrada para a tal conduta que considero de domínio estrangeiro.
Além de tudo isto, há duas coisas que me desencorajam: dizem que as baratas são capazes de resistir à radioactividade e que por cada uma que se extermine, existem outras mil. Com estes argumentos, acho sensato assinar um acordo de paz, não vá existir uma barata com Ahmadinejad como apelido. Mas estão avisadas, que não me apareçam no quarto!
Apesar de viver num prédio decente e de não ter acumulações de lixo dentro de casa, a verdade é que regularmente me deparo com estas visitas. Maiores ou mais pequenas, elas andam por aí. Presumo que a tal conduta de lixo que trespassa todo o edifício na vertical contribua decisivamente para este fenómeno.
Por isso, já temos um acordo, apesar de unilateral: há zonas em que as persigo furiosa e impiedosamente. Há outras em que nem me dou ao trabalho de tentar, até porque normalmente elas são rápidas e se escondem em sítios onde não chego. Mas o que conta é a intenção, e há ali uma área nas redondezas da entrada para a tal conduta que considero de domínio estrangeiro.
Além de tudo isto, há duas coisas que me desencorajam: dizem que as baratas são capazes de resistir à radioactividade e que por cada uma que se extermine, existem outras mil. Com estes argumentos, acho sensato assinar um acordo de paz, não vá existir uma barata com Ahmadinejad como apelido. Mas estão avisadas, que não me apareçam no quarto!
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Centenário
Ontem, este blog tornou-se centenário. Mais do que festejar o facto em si, que soa a cliché, proponho-me a fazer uma pequena retrospectiva do que tem sido esta aventura online.
As 100 mensagens correspondem a 100 dias, o que representa uma regularidade que não imaginei possível. No entanto, esta partilha acabou por se tornar uma companhia, ao funcionar realmente como uma ligação directa a casa. É certo que há dias de maior inspiração, vontade ou tempo para escrever, e espero que isso se note: porque é a parte orgânica, é a vida, é a alma deste espaço.
Ao longo destas mensagens, fui escrevendo sobre factos e emoções, sobre o que vejo e o que sinto. À força de querer respeitar este "compromisso" de escrever diariamente (acabou por se transformar em tal), dou comigo a revisitar momentos, lugares, cheiros ou cores do quotidiano. Acaba por ser uma forma de viver a dobrar, de gravar memórias, de superar os 100%, e isso tem-me dado muito prazer.
Mas apesar desta mensagem disfarçada de pequena comemoração, o 100 não é mais um número inteiro precedido pelo 99 e sucedido pelo 101, pelo que a contagem continua.
As 100 mensagens correspondem a 100 dias, o que representa uma regularidade que não imaginei possível. No entanto, esta partilha acabou por se tornar uma companhia, ao funcionar realmente como uma ligação directa a casa. É certo que há dias de maior inspiração, vontade ou tempo para escrever, e espero que isso se note: porque é a parte orgânica, é a vida, é a alma deste espaço.
Ao longo destas mensagens, fui escrevendo sobre factos e emoções, sobre o que vejo e o que sinto. À força de querer respeitar este "compromisso" de escrever diariamente (acabou por se transformar em tal), dou comigo a revisitar momentos, lugares, cheiros ou cores do quotidiano. Acaba por ser uma forma de viver a dobrar, de gravar memórias, de superar os 100%, e isso tem-me dado muito prazer.
Mas apesar desta mensagem disfarçada de pequena comemoração, o 100 não é mais um número inteiro precedido pelo 99 e sucedido pelo 101, pelo que a contagem continua.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Chico-espertice
Praticamente todos os que conduzem já soltaram, uma vez ou outra, um "tem a mania que é chico-esperto!" enquanto ao volante. Uma das situações em que tal pode acontecer, é quando estamos num engarrafamento numa via rápida e alguns automobilistas decidem fazer da estação de serviço um meio para ganhar 100 metros.
Este tipo de situações aumentam a tensão de quem está no trânsito, mas há uma forma de diminuir esse stress: se todos usarem, descarada e despudoradamente, a mesma estratégia e fizerem da estação de serviço mais uma via.
É o que acontece por aqui e que presenciei hoje mais uma vez. A regra é simples: chegar o mais depressa possível. Os meios são os necessários: usar todo o espaço disponível. E por isso, há que passar pela bomba de gasolina, de preferência sem atropelar o empregado e sem bater naqueles que abrandam porque realmente vão usufruir do serviço.
Ninguém se incomoda porque tantos o fazem, se tiverem oportunidade. E afinal, é para o bem de todos, porque ajuda a escoar o trânsito... pelo menos durante uns segundos.
Este tipo de situações aumentam a tensão de quem está no trânsito, mas há uma forma de diminuir esse stress: se todos usarem, descarada e despudoradamente, a mesma estratégia e fizerem da estação de serviço mais uma via.
É o que acontece por aqui e que presenciei hoje mais uma vez. A regra é simples: chegar o mais depressa possível. Os meios são os necessários: usar todo o espaço disponível. E por isso, há que passar pela bomba de gasolina, de preferência sem atropelar o empregado e sem bater naqueles que abrandam porque realmente vão usufruir do serviço.
Ninguém se incomoda porque tantos o fazem, se tiverem oportunidade. E afinal, é para o bem de todos, porque ajuda a escoar o trânsito... pelo menos durante uns segundos.
domingo, 26 de outubro de 2008
Payé
Ontem fui jantar a um restaurante na Zone 4, cujo nome "CFC" deve ter sido escolhido pela mesma equipa que deu o nome a um dos recentes filmes de Bollywood.
Eu estava acompanhado de duas pessoas, e o empregado entregou 3 listas para que pudessemos escolher. Qual jantar académico, começamos pelo gelado, uma vez que era cedo e decidimos assim confraternizar um pouco antes de jantar qualquer coisa.
Quando finalmente nos pareceu ser hora da refeição, chamei o empregado e pedi a ementa. Zeloso e seguindo a máxima que o cliente tem sempre razão, ele entregou-me UMA ementa! De notar que continuavam as mesmas pessoas na mesa, pelo que se exigiam pelo menos 3. Foi uma questão de número, porque é verdade que eu fiz o meu pedido no singular...
Finalmente, e quando pedi uma factura no final, o empregado fez uma cara de quem estava a pensar "Mas que cliente tão bizarro!" e disse-me que não era possível, só na segunda-feira. E lá vim embora com o talão da caixa a dizer "Payé".
Eu estava acompanhado de duas pessoas, e o empregado entregou 3 listas para que pudessemos escolher. Qual jantar académico, começamos pelo gelado, uma vez que era cedo e decidimos assim confraternizar um pouco antes de jantar qualquer coisa.
Quando finalmente nos pareceu ser hora da refeição, chamei o empregado e pedi a ementa. Zeloso e seguindo a máxima que o cliente tem sempre razão, ele entregou-me UMA ementa! De notar que continuavam as mesmas pessoas na mesa, pelo que se exigiam pelo menos 3. Foi uma questão de número, porque é verdade que eu fiz o meu pedido no singular...
Finalmente, e quando pedi uma factura no final, o empregado fez uma cara de quem estava a pensar "Mas que cliente tão bizarro!" e disse-me que não era possível, só na segunda-feira. E lá vim embora com o talão da caixa a dizer "Payé".
sábado, 25 de outubro de 2008
Ecrã de aeroporto
Um dos elementos fundamentais nos aeroportos é o ecrã com as informações dos vôos: horas, números, companhias, atrasos, são dados em torno dos quais se regulam os movimentos nestes espaços. Mas não em todos.
No aeroporto internacional Houphouet Boigny, em Abidjan, o papel desses ecrãs não parece muito valorizado. Eles estão lá, realmente, mas é preciso que a informação contida também seja válida. Ora, hoje ao levar ao aeroporto uma pessoa que partia para Dakar, ficamos um bocado confundidos: nenhuma das informações correspondia ao bilhete. E mais ansiosos ficamos porque estas alterações sem aviso são frequentes, afectando claramente a vida das pessoas.
Dirigimo-nos então ao balcão de informações, para esclarecer o que se passava, e foi o bastante para ficarmos descansados. O desencontro de informação era, afinal, um desencontro temporal: o que passava nos ecrãs era de ontem. Na realidade, tudo estava a funcionar tão bem que nem o vôo estava atrasado!
No aeroporto internacional Houphouet Boigny, em Abidjan, o papel desses ecrãs não parece muito valorizado. Eles estão lá, realmente, mas é preciso que a informação contida também seja válida. Ora, hoje ao levar ao aeroporto uma pessoa que partia para Dakar, ficamos um bocado confundidos: nenhuma das informações correspondia ao bilhete. E mais ansiosos ficamos porque estas alterações sem aviso são frequentes, afectando claramente a vida das pessoas.
Dirigimo-nos então ao balcão de informações, para esclarecer o que se passava, e foi o bastante para ficarmos descansados. O desencontro de informação era, afinal, um desencontro temporal: o que passava nos ecrãs era de ontem. Na realidade, tudo estava a funcionar tão bem que nem o vôo estava atrasado!
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Universos paralelos
O tabaski (nomenclatura da África de Oeste) é uma festa muçulmana, celebrada 70 dias após o final do Ramadão. É também chamada a Festa do Sacrifício, como desafortunadamente podem atestar os carneiros (ou então bodes, bois ou camelos) cujos proprietários tenham algumas posses. Não é uma prática que me agrade, mas a partir de hoje terei de a relativizar.
Aproximam-se as eleições na Costa do Marfim. E, por mais turbulência que possa existir - tornando-as um problema - não deixam de ser uma oportunidade. Para subir ao poder, para aceder ao estatuto, para alcançar a riqueza. São por isso momentos em que muitos usam todos os meios possíveis para lá chegar. E alguns que parecem impossíveis. Parecem...
Interligando os dois anteriores parágrafos, facilmente se conclui que há quem recorra a sacrifícios, procurando a ajuda divina, para abrir as portas do poder. Pode parecer bizarro, mas é quando se sabe que são sacrifícios humanos que se torna intolerável. E não, não estou a brincar.
Ontem desapareceram duma só vez 7 crianças da zona de Abobo, um bairro periférico de Abidjan. Hoje as escolas privadas acharam por bem manter as crianças em casa, junto da família, para tentar parar ou mitigar este tipo de acontecimentos. Vim a saber que sempre que existem eleições, aparecem corpos de pessoas estropiadas, degoladas, decapitadas, sem genitais ou sem o coração. Circulam emails a avisar, mas julgo que neste caso não têm como objectivo criar gigantescas bases de dados. Neste caso, alertam para uma realidade, ainda que difícil de crer.
Para mim, este tipo de rituais faziam parte dum imaginário, com ligação directa ao Indiana Jones ou, mais recentemente, ao Apocalypto. Tudo isso mudou hoje, para pior.
Esta é uma evidência muito forte da existência de universos paralelos. Simplesmente porque no mesmo não podem conviver internet, adesivo mais forte que as patas das osgas e sacrifícios humanos. É uma impossibilidade.
Aproximam-se as eleições na Costa do Marfim. E, por mais turbulência que possa existir - tornando-as um problema - não deixam de ser uma oportunidade. Para subir ao poder, para aceder ao estatuto, para alcançar a riqueza. São por isso momentos em que muitos usam todos os meios possíveis para lá chegar. E alguns que parecem impossíveis. Parecem...
Interligando os dois anteriores parágrafos, facilmente se conclui que há quem recorra a sacrifícios, procurando a ajuda divina, para abrir as portas do poder. Pode parecer bizarro, mas é quando se sabe que são sacrifícios humanos que se torna intolerável. E não, não estou a brincar.
Ontem desapareceram duma só vez 7 crianças da zona de Abobo, um bairro periférico de Abidjan. Hoje as escolas privadas acharam por bem manter as crianças em casa, junto da família, para tentar parar ou mitigar este tipo de acontecimentos. Vim a saber que sempre que existem eleições, aparecem corpos de pessoas estropiadas, degoladas, decapitadas, sem genitais ou sem o coração. Circulam emails a avisar, mas julgo que neste caso não têm como objectivo criar gigantescas bases de dados. Neste caso, alertam para uma realidade, ainda que difícil de crer.
Para mim, este tipo de rituais faziam parte dum imaginário, com ligação directa ao Indiana Jones ou, mais recentemente, ao Apocalypto. Tudo isso mudou hoje, para pior.
Esta é uma evidência muito forte da existência de universos paralelos. Simplesmente porque no mesmo não podem conviver internet, adesivo mais forte que as patas das osgas e sacrifícios humanos. É uma impossibilidade.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Guerra de secreções
O acto de cuspir para o chão é, há já bastante tempo, considerado rude e pouco educado na nossa sociedade. Assim, e exceptuando alguns grupos bem identificados, vai rareando nas cidades portuguesas.
Mas aqui não acontece o mesmo. Cuspir para o chão é libertar algo que não queremos, seja qual for a razão. E como essa vontade não escolhe género, tanto vemos homens como mulheres a praticar tal acto. Das janelas dos carros ou da pessoa que caminha ao nosso lado no passeio, é bem possível que haja um disparo a qualquer momento.
Não consta, no entanto, que alguém tenha ficado ferido nesta guerra de secreções, que até já foi tema de programa de rádio. Para já, cuspir para o chão parece ser bem tolerado por todos, e praticado por uma boa quantidade. E enquanto assim for, é melhor manter a janela do carro fechada.
Mas aqui não acontece o mesmo. Cuspir para o chão é libertar algo que não queremos, seja qual for a razão. E como essa vontade não escolhe género, tanto vemos homens como mulheres a praticar tal acto. Das janelas dos carros ou da pessoa que caminha ao nosso lado no passeio, é bem possível que haja um disparo a qualquer momento.
Não consta, no entanto, que alguém tenha ficado ferido nesta guerra de secreções, que até já foi tema de programa de rádio. Para já, cuspir para o chão parece ser bem tolerado por todos, e praticado por uma boa quantidade. E enquanto assim for, é melhor manter a janela do carro fechada.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Sr. Jacques
Hoje fui jantar a casa do meu vizinho, o Sr. Jacques. Sendo certo que mal o conheço, acho que posso dizer que tive muita sorte por, numa cidade com 4 milhões de habitantes, ter vindo morar para o mesmo prédio (e mesmo andar) deste senhor.
Pela sua postura e pelas conversas de elevador que já tiveramos, eu já suspeitava; mas foi quando vi a sua biblioteca que fiquei com a certeza. O Sr. Jacques é uma daquelas pessoas com quem temos vontade de ficar a falar eternidades. Porque conhece, porque sabe, porque entusiasma.
Ainda para mais, no jantar estava também uma amiga do Sr. Jacques que não lhe fica atrás. Como é possível aprender tanto numa noite!
E foi apenas o início, mas já me emprestou um livro sobre as origens da Costa do Marfim. Quando acabar, tenho porta aberta para voltar e trazer outro. Acho que terminaram os meus problemas com a falta de livros!
Pela sua postura e pelas conversas de elevador que já tiveramos, eu já suspeitava; mas foi quando vi a sua biblioteca que fiquei com a certeza. O Sr. Jacques é uma daquelas pessoas com quem temos vontade de ficar a falar eternidades. Porque conhece, porque sabe, porque entusiasma.
Ainda para mais, no jantar estava também uma amiga do Sr. Jacques que não lhe fica atrás. Como é possível aprender tanto numa noite!
E foi apenas o início, mas já me emprestou um livro sobre as origens da Costa do Marfim. Quando acabar, tenho porta aberta para voltar e trazer outro. Acho que terminaram os meus problemas com a falta de livros!
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Mercados
Quando queremos comprar alguma coisa, temos uma ideia de onde a podemos encontrar. Esse local, para ser mais ou menos fixo, costuma ser uma loja. Mas aqui também podemos ir aos semáforos.
Muitas coisas se vendem nas ruas. Aliás, quase tudo pode ser encontrado nas ruas, em vendedores que pululam pelo meio dos carros nas horas de ponta. O engraçado é pensar de onde vem todo aquele material, qual é o seu canal de distribuição, mas sobretudo ver como ele se agrupa em variadas classes.
Assim, no cruzamento a caminho de Bingerville temos o material de cozinha e escritório; na rotunda de Macory, temos o material de bricolage e para automóveis; na rotunda de Treicheville, temos as máquinas calculadoras; no Plateau, temos as carteiras e cintos; e na rua de 2 Plateaux, temos os panos e os jogos.
Com algumas variações, é esta a distribuição da mercadoria vendida nas ruas. Eu ainda não conheço as razões, mas presumo que a oferta esteja adequada à procura e que a localização dos variados bens seja justificada.
Muitas coisas se vendem nas ruas. Aliás, quase tudo pode ser encontrado nas ruas, em vendedores que pululam pelo meio dos carros nas horas de ponta. O engraçado é pensar de onde vem todo aquele material, qual é o seu canal de distribuição, mas sobretudo ver como ele se agrupa em variadas classes.
Assim, no cruzamento a caminho de Bingerville temos o material de cozinha e escritório; na rotunda de Macory, temos o material de bricolage e para automóveis; na rotunda de Treicheville, temos as máquinas calculadoras; no Plateau, temos as carteiras e cintos; e na rua de 2 Plateaux, temos os panos e os jogos.
Com algumas variações, é esta a distribuição da mercadoria vendida nas ruas. Eu ainda não conheço as razões, mas presumo que a oferta esteja adequada à procura e que a localização dos variados bens seja justificada.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Reféns
Instabilidade política, desequilíbrios sociais e assimetrias várias são condições que parecem favorecer uma minoria, em detrimento dum bem-estar mais generalizado. Como é evidente, o egoísmo, a ganância e a ambição desmesurada dessa minoria impedem ou atrasam o caminho da maioria em direcção a uma vida melhor.
As eleições que se aproximam na Costa do Marfim prometem ser, em caso de sucesso, a luz ao fundo do túnel para a saída da crise profunda em que o país mergulhou. No entanto, a tal minoria não está muito interessada, e por isso vão existindo problemas, maiores ou menores, que vão atrasar o sufrágio eleitoral.
Como condição para as eleições, é preciso saber quem existe e quem vai votar. No pós-guerra civil, muitas pessoas não estão identificadas, não existem perante o sistema. Por isso foi lançada uma mega-operação de identificação, com recurso a uma entidade estrangeira para a regulação do processo. Eis um bom alvo para a "tal minoria" atacar.
Já tem acontecido noutros locais, mas hoje foi à minha porta. Num gabinete de recenseamento, entrou um grupo de jovens e destruiu as instalações, espalhando os documentos pela rua, com algumas agressões pelo meio. O que é mais assustador, é a leviandade e a facilidade com que se instiga uma tal acção. Num país com 50% de desemprego e taxas de analfabetismo muito elevadas, existem muitas pessoas dispostas a fazer estas coisas por muito pouco. Às vezes, uma cerveja basta, o que é um custo muito baixo para um retorno muito elevado (para a "tal minoria").
Ideais políticos? Protesto social? Não. Este é o resultado da miséria dos que fazem e da falta de escrúpulos dos que mandam fazer. E assim a "tal minoria" vai mantendo a maioria refém...
As eleições que se aproximam na Costa do Marfim prometem ser, em caso de sucesso, a luz ao fundo do túnel para a saída da crise profunda em que o país mergulhou. No entanto, a tal minoria não está muito interessada, e por isso vão existindo problemas, maiores ou menores, que vão atrasar o sufrágio eleitoral.
Como condição para as eleições, é preciso saber quem existe e quem vai votar. No pós-guerra civil, muitas pessoas não estão identificadas, não existem perante o sistema. Por isso foi lançada uma mega-operação de identificação, com recurso a uma entidade estrangeira para a regulação do processo. Eis um bom alvo para a "tal minoria" atacar.
Já tem acontecido noutros locais, mas hoje foi à minha porta. Num gabinete de recenseamento, entrou um grupo de jovens e destruiu as instalações, espalhando os documentos pela rua, com algumas agressões pelo meio. O que é mais assustador, é a leviandade e a facilidade com que se instiga uma tal acção. Num país com 50% de desemprego e taxas de analfabetismo muito elevadas, existem muitas pessoas dispostas a fazer estas coisas por muito pouco. Às vezes, uma cerveja basta, o que é um custo muito baixo para um retorno muito elevado (para a "tal minoria").
Ideais políticos? Protesto social? Não. Este é o resultado da miséria dos que fazem e da falta de escrúpulos dos que mandam fazer. E assim a "tal minoria" vai mantendo a maioria refém...
domingo, 19 de outubro de 2008
Táxis
A quantidade de táxis que existe em Abidjan é impressionante. O que torna uma simples caminhada pelas ruas da cidade numa sinfonia de buzinas.
Claro que isto só pode ser apreciado numa caminhada de domingo. Nos outros dias, as buzinas são tantas e com agendas tão próprias, que não é possível distinguir aquelas que nos são dirigidas.
Mas num domingo, um branco a pé, sozinho, pelas ruas do centro de Abidjan não é muito normal. A conclusão lógica é que anda perdido e precisa dum táxi, e por isso a todo o momento tenho carros a travar ao meu lado, a buzinar, à espera que realmente sejam necessários. Hoje, dois quase batiam por quererem conviver no mesmo espaço duma rua vazia.
A vantagem é que, sendo preciso um táxi, basta levantar um braço, e nunca se espera muito. Com isto quero dizer que nunca se espera mais do que 1 ou 2 minutos, literalmente. É certo que esse tempo pode aumentar, dependendo do quão exigentes somos com a qualidade da viatura. Mas se não gostarmos, há-de estar um outro muito próximo.
Claro que isto só pode ser apreciado numa caminhada de domingo. Nos outros dias, as buzinas são tantas e com agendas tão próprias, que não é possível distinguir aquelas que nos são dirigidas.
Mas num domingo, um branco a pé, sozinho, pelas ruas do centro de Abidjan não é muito normal. A conclusão lógica é que anda perdido e precisa dum táxi, e por isso a todo o momento tenho carros a travar ao meu lado, a buzinar, à espera que realmente sejam necessários. Hoje, dois quase batiam por quererem conviver no mesmo espaço duma rua vazia.
A vantagem é que, sendo preciso um táxi, basta levantar um braço, e nunca se espera muito. Com isto quero dizer que nunca se espera mais do que 1 ou 2 minutos, literalmente. É certo que esse tempo pode aumentar, dependendo do quão exigentes somos com a qualidade da viatura. Mas se não gostarmos, há-de estar um outro muito próximo.
sábado, 18 de outubro de 2008
Choque térmico
Quando voltar a Portugal, estaremos em plena época natalícia e em pleno inverno. Vai-me saber bem.
Eu tenho pouca paciência para compras, e ainda menos em épocas de grande afluência. Portanto, normalmente estou longe de locais onde essas duas condições se reúnem. Mas, na altura do Natal, gosto de passear a pé na Baixa do Porto, normalmente envergando um casaco grosso, e observar o rebuliço de todas aquelas pessoas carregadas de sacos (ou serão montes de sacos com uma pessoa no meio?). Gosto de ver as luzes, gosto do cheiro a pão-de-ló, bolo-rei e rabanadas, até acho piada ao ambiente criado por aquelas músicas natalícias.
Mesmo na própria véspera de Natal, entre postas de bacalhau, lenha para a lareira e visitas a (e de) familiares, gosto de sair para uma caminhada. E ver as pessoas a chegar às casas da família, sentir o odor a lenha queimada, ver as ruas quase sem movimento.
Este ano espero poder seguir este programa, se o choque térmico não me pregar uma partida.
Eu tenho pouca paciência para compras, e ainda menos em épocas de grande afluência. Portanto, normalmente estou longe de locais onde essas duas condições se reúnem. Mas, na altura do Natal, gosto de passear a pé na Baixa do Porto, normalmente envergando um casaco grosso, e observar o rebuliço de todas aquelas pessoas carregadas de sacos (ou serão montes de sacos com uma pessoa no meio?). Gosto de ver as luzes, gosto do cheiro a pão-de-ló, bolo-rei e rabanadas, até acho piada ao ambiente criado por aquelas músicas natalícias.
Mesmo na própria véspera de Natal, entre postas de bacalhau, lenha para a lareira e visitas a (e de) familiares, gosto de sair para uma caminhada. E ver as pessoas a chegar às casas da família, sentir o odor a lenha queimada, ver as ruas quase sem movimento.
Este ano espero poder seguir este programa, se o choque térmico não me pregar uma partida.
Ça va aller
Frequentemente, por aqui, se ouve dizer "ça va aller". Aliás, é um dos escritos que se vêem regularmente nos táxis e camiões. Mas é também uma forma de estar.
"Ça va aller" é uma expressão de optimismo, é uma expressão de fé. Fé que melhores dias chegarão, esperança de que melhor está para vir. No fundo, é a ergodicidade aplicada ao quotidiano.
O problema é que passar uma teoria como esta para a prática, sem atender a outras variáveis, tem custos. Normalmente, o tempo é mais impiedoso com as pessoas do que com uma mole de partículas de gás, e basear uma vida no "ça va aller" pode ter consequências muito danosas.
O que me preocupa nestes assuntos relacionados com fé, é que se alguém acredita verdadeiramente, não há argumento válido para contrariar. E aí é preciso sintonizar outra frequência, pôr outros óculos, conduzir pelo sentimento.
Eu acho piada à expressão; até a uso de quando em vez. Mas utilizo em formato de injecção de ânimo, não como fundamento para o que vou fazer a seguir. Ou por outro, o que não vou fazer, porque afinal, "ça va aller".
"Ça va aller" é uma expressão de optimismo, é uma expressão de fé. Fé que melhores dias chegarão, esperança de que melhor está para vir. No fundo, é a ergodicidade aplicada ao quotidiano.
O problema é que passar uma teoria como esta para a prática, sem atender a outras variáveis, tem custos. Normalmente, o tempo é mais impiedoso com as pessoas do que com uma mole de partículas de gás, e basear uma vida no "ça va aller" pode ter consequências muito danosas.
O que me preocupa nestes assuntos relacionados com fé, é que se alguém acredita verdadeiramente, não há argumento válido para contrariar. E aí é preciso sintonizar outra frequência, pôr outros óculos, conduzir pelo sentimento.
Eu acho piada à expressão; até a uso de quando em vez. Mas utilizo em formato de injecção de ânimo, não como fundamento para o que vou fazer a seguir. Ou por outro, o que não vou fazer, porque afinal, "ça va aller".
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Conduta de lixo
Este prédio tem aqueles sistemas de deitar o lixo por um buraco na cozinha, em que vai tudo parar lá abaixo, cortesia da gravidade.
Mas eu não o uso nem acho piada nenhuma: acho que não é higiénico, porque por ali vai tudo e mais alguma coisa e, como é evidente, não é possível limpar.
Além disso, faz barulho. Frequentemente, lá vão garrafas de vidro ou latas, a bater em todo o lado pelo caminho, e a fazer assim imenso barulho. E o meu vizinho de cima parece fã do sistema...
Mas eu não o uso nem acho piada nenhuma: acho que não é higiénico, porque por ali vai tudo e mais alguma coisa e, como é evidente, não é possível limpar.
Além disso, faz barulho. Frequentemente, lá vão garrafas de vidro ou latas, a bater em todo o lado pelo caminho, e a fazer assim imenso barulho. E o meu vizinho de cima parece fã do sistema...
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Valorização
Uma experiência no estrangeiro é, normalmente, um elemento de diferenciação e valorização. Porque se aprende uma forma diferente de trabalhar, de pensar e de se posicionar.
Hoje ouvi o relato do jogo da selecção com a Albânia. Após um péssimo resultado, as justificações de alguns dos melhores jogadores do mundo e dum treinador que passou os últimos anos num dos melhores clubes do mundo, soam à mesma conversa oca e miserabilista que se ouvia há alguns anos, quando havia uma geração de ouro que nada ganhava. Falta de sorte, a bola que não queria entrar, o guarda-redes que fez a exibição da vida dele.
Eu também joguei futebol (embora a um nível baixinho) e sei que há jogos em que se sente isso. Mas nunca fui profissional, nem nunca estive no topo do mundo do futebol, nem nunca tive acesso às técnicas de treino mais avançadas. Gostava de ver em quem o tem, alguma diferença, alguns assomos da valorização esperada. Mas afinal não.
Isto faz-me pensar naquilo que espero desta minha aventura no estrangeiro: espero que seja uma aprendizagem constante, num caminho que me conduza a um ponto diferente daquele em que aqui cheguei.
Hoje ouvi o relato do jogo da selecção com a Albânia. Após um péssimo resultado, as justificações de alguns dos melhores jogadores do mundo e dum treinador que passou os últimos anos num dos melhores clubes do mundo, soam à mesma conversa oca e miserabilista que se ouvia há alguns anos, quando havia uma geração de ouro que nada ganhava. Falta de sorte, a bola que não queria entrar, o guarda-redes que fez a exibição da vida dele.
Eu também joguei futebol (embora a um nível baixinho) e sei que há jogos em que se sente isso. Mas nunca fui profissional, nem nunca estive no topo do mundo do futebol, nem nunca tive acesso às técnicas de treino mais avançadas. Gostava de ver em quem o tem, alguma diferença, alguns assomos da valorização esperada. Mas afinal não.
Isto faz-me pensar naquilo que espero desta minha aventura no estrangeiro: espero que seja uma aprendizagem constante, num caminho que me conduza a um ponto diferente daquele em que aqui cheguei.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Andar de lado
Circular exactamente atrás de um carro e ver-lhe a porta lateral não é propriamente normal. Mas é possível.
Entre os mais variados defeitos, que com o tempo se foram tornando feitio, esses são dos meus favoritos. Carros que à força do uso e abuso ficaram com a direcção, eixos e tudo o mais desalinhado, e agora circulam numa aparente derrapagem permanente.
O que é curioso é que todos os que vi nessas condições (e já foram alguns), estavam virados para o mesmo lado: a ver-se a porta lateral direita. O que me leva a imaginar o dia em que os motoristas vão conduzir a olhar pela janela do condutor.
Entre os mais variados defeitos, que com o tempo se foram tornando feitio, esses são dos meus favoritos. Carros que à força do uso e abuso ficaram com a direcção, eixos e tudo o mais desalinhado, e agora circulam numa aparente derrapagem permanente.
O que é curioso é que todos os que vi nessas condições (e já foram alguns), estavam virados para o mesmo lado: a ver-se a porta lateral direita. O que me leva a imaginar o dia em que os motoristas vão conduzir a olhar pela janela do condutor.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Dobragem
Impossível. Não consigo. Ver filmes dobrados está para além das minhas possibilidades. Seja em francês ou noutra língua qualquer: o problema é que são uma desconstrução da familiaridade a que estamos habituados, da voz original dos actores, dos sons que cabem nos movimentos dos lábios. Parecem telenovelas mexicanas dobradas em brasileiro.
Mas é engraçado ver a reacção de quem está habituado ao saber da modalidade das legendas. Acham muito estranho, possivelmente tanto como eu acho estranho as dobragens.
É certo que as dobragens criam emprego: para cada actor, uma voz. Não sei se terá sido pela inexistência duma indústria cinematográfica que os filmes em Portugal se mantiveram nas versões originais. A verdade é que espero que não mudem. E assim sempre vamos habituando o ouvido a línguas estrangeiras, nomeadamente o inglês. Talvez isso contribua para o potencial poliglota que há em muitos portugueses.
Mas é engraçado ver a reacção de quem está habituado ao saber da modalidade das legendas. Acham muito estranho, possivelmente tanto como eu acho estranho as dobragens.
É certo que as dobragens criam emprego: para cada actor, uma voz. Não sei se terá sido pela inexistência duma indústria cinematográfica que os filmes em Portugal se mantiveram nas versões originais. A verdade é que espero que não mudem. E assim sempre vamos habituando o ouvido a línguas estrangeiras, nomeadamente o inglês. Talvez isso contribua para o potencial poliglota que há em muitos portugueses.
domingo, 12 de outubro de 2008
Animais de estimação
Os animais de estimação, como o próprio nome indica, são para estimar. Estimar a saúde, estimar a companhia, estimar a presença. Em muitos casos, acabam por se tornar mais um membro da família, em que se tem de pensar quando se quer ir de férias, e que frequentam esteticistas e hotéis.
Aqui em Abidjan, e pensando especificamente em cães e gatos, é raro vê-los e quando isso acontece, normalmente são animais vadios. Nunca vi ninguém a passear um cão. E o único veterinário que conheço parece-me mais dedicado a animais maiores, como vacas.
Ter um animal de estimação é uma opção que exige alguma disponibilidade, seja ela de tempo ou de dinheiro. Além de uma opção, é também uma medida das possibilidades. Provavelmente isso explica o nunca ter visto uma pessoa com um cão na rua. Vi uma com um macaco, mas que não parecia em grande forma. E para isso, realmente mais vale não ter nada.
Aqui em Abidjan, e pensando especificamente em cães e gatos, é raro vê-los e quando isso acontece, normalmente são animais vadios. Nunca vi ninguém a passear um cão. E o único veterinário que conheço parece-me mais dedicado a animais maiores, como vacas.
Ter um animal de estimação é uma opção que exige alguma disponibilidade, seja ela de tempo ou de dinheiro. Além de uma opção, é também uma medida das possibilidades. Provavelmente isso explica o nunca ter visto uma pessoa com um cão na rua. Vi uma com um macaco, mas que não parecia em grande forma. E para isso, realmente mais vale não ter nada.
sábado, 11 de outubro de 2008
Universos
Recentemente conheci uma senhora que, se as informações que tenho forem correctas, foi casada com um ministro do Houphouët Boigny, primeiro presidente da Costa do Marfim.
Como todas as pessoas que tiveram alguma ligação ao poder dessa época (pelo menos as que conheci), tem uma casa sumptuosa, ao bom estilo africano. Muito espaço, divisões amplas e luminosas, piscina e um grande jardim. E já agora, muitos empregados.
A contrastar com o exterior, que em alguns pontos tem um aspecto um pouco desmazelado, o enorme salão interior é fabuloso. Não ao meu gosto (e um atentado aos elefantes) mas fabuloso de qualquer forma. Grandes esculturas em marfim, que imagino valiosíssimas. Peças em metal e outras em madeira que devem ser únicas. Reposteiros, sofás, cadeirões, tapetes, num conjunto que se torna imponente. E, para completar (ainda que não seja uma peça de decoração), a senhora duma classe e duma postura de quem está habituado ao luxo, ao protocolo, à etiqueta.
Estamos sempre a aprender, e estes contactos também servem para isso. São uma forma de lidarmos com mundos diferentes, desde o universo dos que não sabem ler nem escrever, ao dos que têm tudo. E ainda por cima são universos vizinhos.
Como todas as pessoas que tiveram alguma ligação ao poder dessa época (pelo menos as que conheci), tem uma casa sumptuosa, ao bom estilo africano. Muito espaço, divisões amplas e luminosas, piscina e um grande jardim. E já agora, muitos empregados.
A contrastar com o exterior, que em alguns pontos tem um aspecto um pouco desmazelado, o enorme salão interior é fabuloso. Não ao meu gosto (e um atentado aos elefantes) mas fabuloso de qualquer forma. Grandes esculturas em marfim, que imagino valiosíssimas. Peças em metal e outras em madeira que devem ser únicas. Reposteiros, sofás, cadeirões, tapetes, num conjunto que se torna imponente. E, para completar (ainda que não seja uma peça de decoração), a senhora duma classe e duma postura de quem está habituado ao luxo, ao protocolo, à etiqueta.
Estamos sempre a aprender, e estes contactos também servem para isso. São uma forma de lidarmos com mundos diferentes, desde o universo dos que não sabem ler nem escrever, ao dos que têm tudo. E ainda por cima são universos vizinhos.
Guerra e retoma
A guerra civil que assolou a Costa do Marfim foi extremamente penalizante para o país. Apesar do potencial que lhe é reconhecido, o investimento estrangeiro era muito importante para o seu bom funcionamento e crescimento, mas a maioria afastou-se com a guerra.
Contudo, agora está a retomar. Nota-se na quantidade de estrangeiros (europeus, americanos, asiáticos,...) que se encontram nos hotéis; nota-se no preço das viagens e nos aviões completamente cheios, seja económica ou executiva; nota-se nas ruas, onde é possível encontrar brancos sozinhos. Enfim, respira-se um clima que é positivo para a Costa do Marfim.
Agora aproxima-se um momento muito importante para esta revitalização: as eleições. Marcadas para 30 de Novembro, data em que ninguém acredita, serão um marco fundamental. O seu sucesso será um sinal muito forte e, quase de certeza, soará como um tiro de partida para a chegada de pessoas e investimento estrangeiro. O seu insucesso será um tiro no pé, representará um regresso à estaca zero e mais alguns anos de problemas sérios.
A sensação que tenho é que as forças se conjugam para que tudo se passe bem, mas há sempre alguma instabilidade, algumas declarações em tom de ameaça e, por vezes, alguns pequenos motins. Mas no geral, dá ideia que as pessoas perceberam que a paz lhes serve melhor os interesses. Espero que não se esqueçam disso nunca!
Contudo, agora está a retomar. Nota-se na quantidade de estrangeiros (europeus, americanos, asiáticos,...) que se encontram nos hotéis; nota-se no preço das viagens e nos aviões completamente cheios, seja económica ou executiva; nota-se nas ruas, onde é possível encontrar brancos sozinhos. Enfim, respira-se um clima que é positivo para a Costa do Marfim.
Agora aproxima-se um momento muito importante para esta revitalização: as eleições. Marcadas para 30 de Novembro, data em que ninguém acredita, serão um marco fundamental. O seu sucesso será um sinal muito forte e, quase de certeza, soará como um tiro de partida para a chegada de pessoas e investimento estrangeiro. O seu insucesso será um tiro no pé, representará um regresso à estaca zero e mais alguns anos de problemas sérios.
A sensação que tenho é que as forças se conjugam para que tudo se passe bem, mas há sempre alguma instabilidade, algumas declarações em tom de ameaça e, por vezes, alguns pequenos motins. Mas no geral, dá ideia que as pessoas perceberam que a paz lhes serve melhor os interesses. Espero que não se esqueçam disso nunca!
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Humildade e gratidão
A humildade é algo que me comove. E quando a esta se junta uma gratidão incondicional, ainda mais.
É o que sinto com uma das pessoas que me chama, carinhosamente, "patron". É um senhor que, segundo o próprio, tem à volta de 60 anos. Natural do Burkina Faso, tem uma educação e uma postura impressionantes, buriladas por muitos anos a servir as mais variadas pessoas.
Hoje fui com ele procurar um uniforme e umas sandálias, mas não encontramos o que pretendia. E digo "pretendia" porque ele se recusou a escolher o que quer que fosse, dizendo que usaria de bom grado qualquer coisa que eu quisesse. E não adianta insistir, porque este modo de funcionamento é a sua zona de conforto.
Amanhã, lá estará com o seu velho uniforme, mas com a mesma vontade, a mesma simpatia, a mesma disponibilidade. Sem nada pedir em troca. E paradoxalmente, é a estas pessoas que mais apetece dar boas condições, dar conforto, oferecer amizade. E já agora, um par de sandálias.
É o que sinto com uma das pessoas que me chama, carinhosamente, "patron". É um senhor que, segundo o próprio, tem à volta de 60 anos. Natural do Burkina Faso, tem uma educação e uma postura impressionantes, buriladas por muitos anos a servir as mais variadas pessoas.
Hoje fui com ele procurar um uniforme e umas sandálias, mas não encontramos o que pretendia. E digo "pretendia" porque ele se recusou a escolher o que quer que fosse, dizendo que usaria de bom grado qualquer coisa que eu quisesse. E não adianta insistir, porque este modo de funcionamento é a sua zona de conforto.
Amanhã, lá estará com o seu velho uniforme, mas com a mesma vontade, a mesma simpatia, a mesma disponibilidade. Sem nada pedir em troca. E paradoxalmente, é a estas pessoas que mais apetece dar boas condições, dar conforto, oferecer amizade. E já agora, um par de sandálias.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Riscos
Cocos é coisa que não falta por aqui. Que são óptimos para beber a água e comer a polpa, mas também são uma ameaça para pessoas e viaturas. Por isso há que cortar os que já estão mais maduros e capazes de cair à boleia da próxima rajada de vento.
Assim, hoje vi um jovem a subir a um coqueiro com uns bons 10 metros de altura, cujo cinto de segurança era composto por uma folha de uma planta (a que eu daria o nome geral de "fiteira") e um nó que parecia um bocado lasso.
Mas a verdade é que ele subiu e desceu a 4 coqueiros, fez o trabalho e ficou de boa saúde. O que foi um alívio, sinceramente, que só durou até pedir que me preparassem um coco para consumo imediato: eu sei que a prática é muita, mas nada impede que o próximo golpe da catana não corte mais que a casca do coco.
Assim, hoje vi um jovem a subir a um coqueiro com uns bons 10 metros de altura, cujo cinto de segurança era composto por uma folha de uma planta (a que eu daria o nome geral de "fiteira") e um nó que parecia um bocado lasso.
Mas a verdade é que ele subiu e desceu a 4 coqueiros, fez o trabalho e ficou de boa saúde. O que foi um alívio, sinceramente, que só durou até pedir que me preparassem um coco para consumo imediato: eu sei que a prática é muita, mas nada impede que o próximo golpe da catana não corte mais que a casca do coco.
Engano
Mais uma vez, o tempo hoje enganou-me, o que acontece frequentemente. Já não é a primeira vez que, parecendo que se aproxima uma grande tempestade, nada de relevo acontece. Não que seja essa a minha vontade, prefiro assim. Mas a verdade é que já por várias vezes eu me convenci que iria chover torrencialmente, mas afinal fica só pela ameaça.
Qualquer dia acontece ao tempo o que aconteceu ao Pedro: deixo de acreditar nele e vai ser nesse dia que vou assistir a uma verdadeira tempestade tropical.
Qualquer dia acontece ao tempo o que aconteceu ao Pedro: deixo de acreditar nele e vai ser nesse dia que vou assistir a uma verdadeira tempestade tropical.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Segurança alimentar
Um destes dias, no seguimento do Telejornal, a RTP Mobile transmitiu um programa sobre segurança alimentar. Como resultado de ter visto um pouco dessa transmissão, só havia uma de duas hipóteses: ou ia embora daqui imediatamente, ou me ria. Deu-me para a segunda opção.
Primeiro, o programa deve ter sido fortemente editado, porque ninguém pode saber tantas regras de cor e colocá-las em prática diariamente sem ter uma cábula no bolso. Segundo, como é que as pessoas antes daquela senhora sobreviveram. Terceiro, e mais importante neste momento, perdoem-me o egoísmo, como é que as pessoas aqui (incluindo eu) conseguem sobreviver!
As regras eram de perder a conta e, na minha opinião, o juízo também. Havia uma ordem muito concreta para guardar os alimentos no frigorífico, mediante o seu estado de cozedura. Isto porque podiam pingar contaminações duns para os outros. E a lavagem dos alimentos era digna de uma entrada para a primeira fila dum bloco operatório!
É um programa que aconselho vivamente a quem critica a ASAE e que pode dar um novo significado à expressão "no tempo da outra senhora".
Primeiro, o programa deve ter sido fortemente editado, porque ninguém pode saber tantas regras de cor e colocá-las em prática diariamente sem ter uma cábula no bolso. Segundo, como é que as pessoas antes daquela senhora sobreviveram. Terceiro, e mais importante neste momento, perdoem-me o egoísmo, como é que as pessoas aqui (incluindo eu) conseguem sobreviver!
As regras eram de perder a conta e, na minha opinião, o juízo também. Havia uma ordem muito concreta para guardar os alimentos no frigorífico, mediante o seu estado de cozedura. Isto porque podiam pingar contaminações duns para os outros. E a lavagem dos alimentos era digna de uma entrada para a primeira fila dum bloco operatório!
É um programa que aconselho vivamente a quem critica a ASAE e que pode dar um novo significado à expressão "no tempo da outra senhora".
domingo, 5 de outubro de 2008
Reforma
Estava a ler o jornal local diário de maior tiragem, o "Fraternite Matin", quando li uma declaração do Ministro da Função Pública e do Emprego a dizer que pretende estabelecer o limite da idade para a reforma nos 57 anos até ao fim de 2008 e até aos 60 no final de 2011.
Evidentemente, esta notícia intrigou-me. No mesmo jornal, duas páginas adiante, fala duma associação que, pela formação em artes e música, recuperou um grupo de 10 jovens, entre os 13 e os 20 anos, que eram combatentes nas forças rebeldes. Quando foram recrutados, o mais novo tinha 8 anos...
Estamos a falar dum país em que a esperança média de vida à nascença se encontra abaixo dos 40 anos, em que as mulheres têm em média cerca de 4,5 filhos, em que a mortalidade infantil é de 7% e em que 41% da população tem menos de 14 anos de idade. Um país cujas guerras, à semelhança de tantos outros países africanos, são em grande parte travadas por crianças, e em que doenças degenerativas não têm muita expressão porque uma parte considerável das pessoas não vive o suficiente para as sofrer.
Assim, a extensão da idade da reforma para os 60 anos parece fazer parte duma outra realidade. Ou então talvez seja uma forma de evitar a falência desse sistema de apoio... Imaginem que Portugal estendia a idade da reforma para os 100 anos e digam-me se não era um problema que se resolvia.
Evidentemente, esta notícia intrigou-me. No mesmo jornal, duas páginas adiante, fala duma associação que, pela formação em artes e música, recuperou um grupo de 10 jovens, entre os 13 e os 20 anos, que eram combatentes nas forças rebeldes. Quando foram recrutados, o mais novo tinha 8 anos...
Estamos a falar dum país em que a esperança média de vida à nascença se encontra abaixo dos 40 anos, em que as mulheres têm em média cerca de 4,5 filhos, em que a mortalidade infantil é de 7% e em que 41% da população tem menos de 14 anos de idade. Um país cujas guerras, à semelhança de tantos outros países africanos, são em grande parte travadas por crianças, e em que doenças degenerativas não têm muita expressão porque uma parte considerável das pessoas não vive o suficiente para as sofrer.
Assim, a extensão da idade da reforma para os 60 anos parece fazer parte duma outra realidade. Ou então talvez seja uma forma de evitar a falência desse sistema de apoio... Imaginem que Portugal estendia a idade da reforma para os 100 anos e digam-me se não era um problema que se resolvia.
Discoteca
Pela primeira vez desde que estou em Abidjan, hoje fui a uma discoteca. E não foi uma discoteca qualquer, mas antes uma das maiores da cidade e propriedade do Didier Drogba, jogador de futebol. Chama-se "Queens" e é do tamanho do "Piolho".
O espaço é agradável. A música que passa é essencialmente africana, com pequenas visitas a alguns êxitos de rock ou house music com que estamos familiarizados. Quanto ao volume, é imenso para o pequeno espaço: para terem noção, neste momento praticamente não consigo ouvir o som das teclas do computador...
Por isso, após um dia em que fui jogar futebol de manhã e fui a uma discoteca à noite, preciso de descansar o corpo, mas acima de tudo os tímpanos.
O espaço é agradável. A música que passa é essencialmente africana, com pequenas visitas a alguns êxitos de rock ou house music com que estamos familiarizados. Quanto ao volume, é imenso para o pequeno espaço: para terem noção, neste momento praticamente não consigo ouvir o som das teclas do computador...
Por isso, após um dia em que fui jogar futebol de manhã e fui a uma discoteca à noite, preciso de descansar o corpo, mas acima de tudo os tímpanos.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Evolução
Hoje vou escrever uma mensagem à pressa. Isto porque a minha ligação de internet não está a funcionar, e por isso estou ligado a uma rede sem fios (e sem segurança) que apanho por aqui. Quem diria que a primeira vez que uso uma rede clandestinamente havia de ser em Abidjan...
Na realidade, hoje a tecnologia está contra mim. Quando cheguei a casa, e como faço habitualmente, liguei o iPod. Mas passado um bocado, bloqueou e agora está ali à espera que a bateria se esgote. E a verdade é que, sem ser uma questão vital, esta quebra nas rotinas deixa uma sensação de vazio.
Após os problemas com móveis e água, será que agora vão começar a aparecer os problemas com a tecnologia? Não deixava de ser uma evolução curiosa. Afinal, esta gradual substituição de carpinteiros e picheleiros por técnicos parece acontecer em todo o lado.
Na realidade, hoje a tecnologia está contra mim. Quando cheguei a casa, e como faço habitualmente, liguei o iPod. Mas passado um bocado, bloqueou e agora está ali à espera que a bateria se esgote. E a verdade é que, sem ser uma questão vital, esta quebra nas rotinas deixa uma sensação de vazio.
Após os problemas com móveis e água, será que agora vão começar a aparecer os problemas com a tecnologia? Não deixava de ser uma evolução curiosa. Afinal, esta gradual substituição de carpinteiros e picheleiros por técnicos parece acontecer em todo o lado.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Cor de África
Frequentemente ouvimos falar da cor de África. O vestuário, que tantas vezes se compõe por panos baoulés, contribui decisivamente para essa ideia, mas a cor também se revela em domínios não visuais.
Hoje recebi uma factura do jardineiro e a descrição chamou-me a atenção. Em vez de me cobrar pela área tratada, ou pelo tempo dispendido no trabalho, cobrou por arranjar o jardim muito bem. A expressão original foi que deixou o jardim "bien propre". Podemos aqui entrar em discussão sobre a noção de bom tratamento. E será que algum dia terei direito a um "excelente tratamento" ou já estou no nível máximo? Será que o "bien propre" deste mês é melhor ou pior que o do próximo?
Contrariamente a uma perspectiva quantitativa, em que a hora ou o metro quadrado têm um preço bem definido, aqui estou num campo mais qualitativo: fica feito ou não? Funciona ou não funciona? E dentro destas dicotomias, aparentemente, existem as matizes, patamares de qualidade.
Tudo isto é parte integrante duma cultura em que o tempo não respeita a mesma escala de valores que a nossa e em que a tradição oral é muito forte. Digam lá se, em torno duma fogueira, numa qualquer aldeia africana, não tem mais piada contar que se deixou um jardim bem arranjado do que dizer que se gastaram 3 horas para tratar 120 metros quadrados de relva?
Hoje recebi uma factura do jardineiro e a descrição chamou-me a atenção. Em vez de me cobrar pela área tratada, ou pelo tempo dispendido no trabalho, cobrou por arranjar o jardim muito bem. A expressão original foi que deixou o jardim "bien propre". Podemos aqui entrar em discussão sobre a noção de bom tratamento. E será que algum dia terei direito a um "excelente tratamento" ou já estou no nível máximo? Será que o "bien propre" deste mês é melhor ou pior que o do próximo?
Contrariamente a uma perspectiva quantitativa, em que a hora ou o metro quadrado têm um preço bem definido, aqui estou num campo mais qualitativo: fica feito ou não? Funciona ou não funciona? E dentro destas dicotomias, aparentemente, existem as matizes, patamares de qualidade.
Tudo isto é parte integrante duma cultura em que o tempo não respeita a mesma escala de valores que a nossa e em que a tradição oral é muito forte. Digam lá se, em torno duma fogueira, numa qualquer aldeia africana, não tem mais piada contar que se deixou um jardim bem arranjado do que dizer que se gastaram 3 horas para tratar 120 metros quadrados de relva?
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Barreiras psicológicas
É engraçado o poder das barreiras psicológicas. Uma muito conhecida é a que dá origem aos preços ".99". Mas há outras. A minha, neste momento, é a contagem decrescente que aqui tenho no blog.
Já estou em Abidjan há mais de 3 meses. O tempo tem passado rápido e até acho que me tenho adaptado bem. Mas é certo que sinto algumas saudades, apesar de controladas. É claro que pode ser um controlo aparente, mas sempre que estive fora me aconteceu o mesmo: se o tempo previsto para estar no estrangeiro for 2 meses, o pior é a última semana. Se for mais tempo, o maior problema é também a última semana. Acho que nessa altura baixo a guarda, relaxo o tal "controlo de saudades" e então fico mais ansioso.
Para contribuir para este sentimento, e voltando à contagem decrescente, vejo que entrei nos "70". Não que o tempo passe mais depressa, mas o salto entre dezenas parece dar mais alento, são momentos que se acompanham de um sentimento especial. É um pouco como passar o ano: é uma formalidade, mas festeja-se.
Assim, se ontem ainda estava a cerca de "3 meses" de ir a Portugal, hoje já estou a cerca de "2 meses e meio". É portanto esse o valor duma passagem na casa das dezenas: 15 dias. O tempo é mesmo relativo.
Já estou em Abidjan há mais de 3 meses. O tempo tem passado rápido e até acho que me tenho adaptado bem. Mas é certo que sinto algumas saudades, apesar de controladas. É claro que pode ser um controlo aparente, mas sempre que estive fora me aconteceu o mesmo: se o tempo previsto para estar no estrangeiro for 2 meses, o pior é a última semana. Se for mais tempo, o maior problema é também a última semana. Acho que nessa altura baixo a guarda, relaxo o tal "controlo de saudades" e então fico mais ansioso.
Para contribuir para este sentimento, e voltando à contagem decrescente, vejo que entrei nos "70". Não que o tempo passe mais depressa, mas o salto entre dezenas parece dar mais alento, são momentos que se acompanham de um sentimento especial. É um pouco como passar o ano: é uma formalidade, mas festeja-se.
Assim, se ontem ainda estava a cerca de "3 meses" de ir a Portugal, hoje já estou a cerca de "2 meses e meio". É portanto esse o valor duma passagem na casa das dezenas: 15 dias. O tempo é mesmo relativo.
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