quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Cor de África

Frequentemente ouvimos falar da cor de África. O vestuário, que tantas vezes se compõe por panos baoulés, contribui decisivamente para essa ideia, mas a cor também se revela em domínios não visuais.
Hoje recebi uma factura do jardineiro e a descrição chamou-me a atenção. Em vez de me cobrar pela área tratada, ou pelo tempo dispendido no trabalho, cobrou por arranjar o jardim muito bem. A expressão original foi que deixou o jardim "bien propre". Podemos aqui entrar em discussão sobre a noção de bom tratamento. E será que algum dia terei direito a um "excelente tratamento" ou já estou no nível máximo? Será que o "bien propre" deste mês é melhor ou pior que o do próximo?
Contrariamente a uma perspectiva quantitativa, em que a hora ou o metro quadrado têm um preço bem definido, aqui estou num campo mais qualitativo: fica feito ou não? Funciona ou não funciona? E dentro destas dicotomias, aparentemente, existem as matizes, patamares de qualidade.
Tudo isto é parte integrante duma cultura em que o tempo não respeita a mesma escala de valores que a nossa e em que a tradição oral é muito forte. Digam lá se, em torno duma fogueira, numa qualquer aldeia africana, não tem mais piada contar que se deixou um jardim bem arranjado do que dizer que se gastaram 3 horas para tratar 120 metros quadrados de relva?

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